O presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso.| Foto: Rosinei Coutinho/STF
(*) J.R. Guzzo
O
ministro Luís Roberto Barroso, dando sequência ao seu programa de comícios
através do mundo, apresentou ao público, desta vez em Paris, suas recomendações
para que o Brasil e o cidadão brasileiro se tornem melhores do que são. O que o
presidente do Supremo Tribunal Federal, de quem a lei exige imparcialidade em
todas as circunstâncias, estava fazendo numa reunião estritamente política? Não
é culpa dele, informou mais uma vez.
A
Constituição decidiu cuidar de todo o tipo de assunto, do regime de impostos ao
direito ao lazer e o STF, coitado, é obrigado a julgar tudo. A solução mais
óbvia para isso, caso os ministros quisessem mesmo cuidar só de assuntos
constitucionais, seria não aceitar mais o julgamento sobre imposto sindical,
terras indígenas ou regras para o meio ambiente – e toda a enxurrada de ações
que entram ali com a facilidade com que se entra num campo de futebol. Mas
Barroso e seus colegas, no mundo das realidades, querem exatamente o contrário.
Querem uma “agenda” para o Brasil. Querem promover o “progresso”. Querem
“empurrar a história”. Querem que a sociedade brasileira seja o resultado de
suas decisões.
A
OCDE aponta um fato prodigioso, já comentado com frequência na mídia
independente: não há no Brasil, no momento, nenhum preso por corrupção.
Ninguém
pediu nada disso a eles, e nem a lei os autoriza a agirem como estão agindo.
Por mais que a Constituição seja um angu onde entra tudo, está claro que
política é uma coisa e justiça é outra – e todas as “pautas” do STF, como se
diz, são política pura. A verdade é que o STF deu a si próprio poderes que a
lei jamais lhe outorgou e criou uma coisa única no mundo democrático: um regime
de Dois Poderes subalternos e Um Poder que manda em ambos, todas as vezes em
que determina que a história não está sendo empurrada na direção desejada pelos
onze ministros, nem com a rapidez que eles estimam ser necessária.
“Agenda?”
O STF não pode ter agenda. Não tem de achar se isso é “melhor”, ou “pior”, do
que aquilo. Tem de exercer as funções de Corte Superior de Justiça, como em
todas as democracias sérias do mundo – e só essas funções. Dizer se o país tem
de ser assim ou assado é tarefa do Poder Legislativo, exclusivamente, e não
pode ser terceirizada para ninguém.
Foi
um brutal chamado à realidade, no mesmo momento em que Barroso agia como chefe
de partido político, que ali mesmo em Paris, não longe do palco de seu comício,
o organismo que reúne as economias mais avançadas do mundo (China e Rússia não
entram; são ditaduras) tenha lançado um relatório devastador sobre a corrupção
no Brasil. A OCDE, na qual o Brasil até hoje não foi aceito, afirmou o que os
brasileiros sabem há anos, mas muitas vezes são impedidos de dizer para não
serem acusados do crime de fake news: a corrupção tornou-se objetivamente
impune no Brasil.
A
responsabilidade por isso, segundo a OCDE, é do Sistema de Justiça brasileiro.
O relatório aponta, como o exemplo mais recente e mais chocante disso, a
decisão do ministro Dias Toffoli, do mesmíssimo STF, de anular todas as provas
de corrupção contra a Odebrecht – apesar das indiscutíveis confissões de culpa
da empresa e da devolução de bilhões de reais do dinheiro roubado.
A
OCDE aponta um fato prodigioso, já comentado com frequência na mídia
independente: não há no Brasil, no momento, nenhum preso por corrupção. É como
se o Brasil fosse o país menos corrupto do planeta, quando os fatos comprovam
exatamente o oposto. O responsável direto por isso é o STF, cujas decisões
comandam o funcionamento de todo o aparelho judiciário brasileiro – eliminou
por completo a Operação Lava Jato, trata como inimigos os seus magistrados e
absolve de forma sistemática os acusados de corrupção. Esse é o Brasil real – o
Brasil de Toffoli, da Odebrecht e da cassação do procurador Dallagnol. Barroso,
e todas as suas filosofias, estão no coração dele.
Fonte: Gazeta
do Povo
(*) José Roberto Guzzo, mais conhecido como J.R. Guzzo, é um jornalista brasileiro, colunista dos jornais O Estado de São Paulo, Gazeta do Povo e da Revista Oeste, publicação da qual integra também o conselho editorial.
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