Luciane Barbosa Faria e o secretário nacional de Políticas Penais do Ministério da Justiça, Rafael Velasco Brandani Foto: Reprodução: Instagram/ @associacaoliberdadedoam
(*) JR Guzzo
Reportagem
do Estadão revelou que mulher de chefe do Comando Vermelho foi recebida duas
vezes no Ministério da Justiça.
Uma
reportagem publicada hoje no Estadão, de autoria dos repórteres André Shalders
e Tácio Lorran, traz informações de primeira qualidade sobre um problema cujo
debate é quase proibido no Brasil de hoje – as relações entre integrantes do
governo Lula e o crime organizado.
Não
vai ser possível dizer desta vez que se trata de acusação sem provas, ou
“desinformação”, ou alguma outra desculpa. Na verdade, não há nenhuma acusação.
A reportagem simplesmente leva ao conhecimento do público fatos objetivos e
acima de discussão: quatro secretários e diretores que trabalham nas
proximidades do ministro da Justiça, Flávio Dino, receberam no próprio
Ministério uma integrante do Comando Vermelho no Amazonas. Não foi um acaso.
A
mulher de um chefe da organização, conhecido como “Tio Patinhas”, foi recebida
duas vezes no Ministério da Justiça este ano, ao longo de um período de três
meses. Também não foi uma conversa com algum funcionário subalterno. As
reuniões foram com assessores do próprio ministro. O criminoso em questão,
enfim, está na cadeia, condenado a 31 anos por crimes diversos – e sua própria
mulher, que foi recebida no Ministério da Justiça, está recorrendo em liberdade
da pena de 10 anos de prisão a que foi condenada.
A
reação inicial do Ministério da Justiça, naturalmente, foi dizer que não houve
nada de anormal na história toda. As realidades práticas, porém, mostram que
não há nada normal. Duas visitas seguidas, uma após a outra? O nome da mulher
de “Tio Patinhas” não consta das relações de visitante ao Ministério. A
polícia, incluindo a Polícia Federal – “que eu comando”, como diz o ministro
Dino – sempre soube quem é a visitante.
Ela
ocupa posição de destaque na administração financeira do Comando Vermelho no
Amazonas, tem uma “ONG” que recebe dinheiro do tráfico e anda em Brasília com
políticos ligados a partidos de extrema esquerda, como Psol e PSTU. Como
poderia, então, andar sem problema nenhum dentro do Ministério da Justiça? Se
isso tudo fosse um fato único e isolado, seria possível para o governo tratar o
caso com um desses acidentes da vida que podem acontecer a qualquer um. Mas não
se trata de um fato único e isolado. Ao contrário, as visitas vêm se somar às
repetidas acusações de que o atual governo está envolvido com as organizações
criminosas mais conhecidas.
Não
ajuda em nada, obviamente, a constatação de que os curtos-circuitos nessa
questão acontecem, em geral, no pior lugar em que poderiam acontecer: o
Ministério da Justiça. Em condições normais, criminosos que segundo as próprias
autoridades são um perigo para a segurança dos cidadãos, ficariam o mais longe
possível do Ministério encarregado de cuidar da justiça e da segurança pública.
O
que acontece, como revela a reportagem do Estadão, é justamente o contrário – é
justo ali que eles se sentem mais à vontade. Pouco depois de assumir seu cargo,
a propósito, o ministro Dino fez uma espantosa visita ao Complexo da Maré, um
dos piores centros de operação do crime organizado e violento no Rio de
Janeiro. Tornou-se inevitável, aí, a impressão de apoio explícito aos grupos de
criminosos que intoxicam cada vez mais a sociedade brasileira. Se não foi isso,
o que teria sido?
O
ministro diz que criticar seus contatos com esse meio é “preconceito contra os
pobres”. Os pobres não têm nada a ver com isso, e nem com as visitas de uma das
chefes do tráfico ao Ministério da Justiça. A verdade é que o ministro Flavio
Dino não apenas se destaca, cada vez mais, como maior desastre do governo na
área de sua responsabilidade. Também vai criando, dia após dia, a imagem do
Brasil como um pária na comunidade internacional – que sempre acompanha, com os
dois olhos bem abertos, a promiscuidade, ou a cumplicidade, entre governos e
crime.
Fonte: Estadão
(*) José
Roberto Guzzo, mais conhecido como J.R. Guzzo, é um jornalista brasileiro,
colunista dos jornais O Estado de São Paulo, Gazeta do Povo e da Revista Oeste,
publicação da qual integra também o conselho editorial.
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