(*) JR Guzzo
Em
qual país do mundo a mulher de um chefe do crime organizado que foi condenado a
31 anos de prisão, inclusive por homicídio, é recebida duas vezes seguidas nos
gabinetes superiores do Ministério da Justiça? Justo aí – no ministério que tem
a obrigação de cuidar da aplicação da justiça e da segurança pública? O
episódio deveria ter levado o governo a punir os assessores que receberam a
“Dama do Tráfico”, pelo menos. Deveria, também, fazer com que o presidente da
República demitisse imediatamente o ministro em cujas antessalas ocorreram as
visitas. Não aconteceu nada disso. Ao contrário: o ministro da Justiça foi
premiado e promovido a um cargo mais alto.
Com
isso o Brasil acaba de tornar-se, também, o primeiro país do mundo a ter na sua
Suprema Corte de Justiça um personagem com essas credenciais. O ministro Flávio
Dino era a última pessoa que qualquer presidente poderia escolher para o STF –
até porque seu desempenho como ministro da Justiça foi um desastre. Com a
história do traficante “Tio Patinhas” o desastre dobrou. Mas, em vez de ir para
a rua, foi para o Supremo. É assim que as coisas funcionam no governo Lula:
quanto pior a performance, mais alto é o emprego.
No
Supremo, o ministro Dino vai encontrar o ambiente ideal para turbinar o seu
combate contra a liberdade.
Flávio
Dino no STF é um avanço a mais, talvez o mais truculento de todos, na escalada
do governo rumo ao regime totalitário – sua principal ocupação desde foi
declarado vencedor da eleição de 2022 pelo TSE. Dino é possivelmente o mais
extremista de todos os inimigos da liberdade e dos direitos individuais no
Brasil de hoje. Só fala em liberdade para dizer que “o Estado” tem de controlar
essa mesma liberdade; ela tem de ter “limites”, não pode beneficiar quem
discorda do governo (“inimigos da democracia”) e só pode ser usada com
“responsabilidade”. É a linguagem imutável de todas as ditaduras.
Falam
essas coisas – e depois enchem as cadeias com quem “usou mal” a liberdade. Os
atos públicos de Dino não deixam dúvidas da sua hostilidade fundamental ao
princípio segundo o qual os seres humanos são livres e iguais entre si. Não
admite que os cidadãos expressem livremente seus pensamentos. Quer censurar as
redes sociais. Acha que a Polícia Federal é uma guarda privada de segurança que
tem de servir os interesses políticos do governo.
No
Supremo, o ministro Dino vai encontrar o ambiente ideal para turbinar o seu
combate contra a liberdade. Estão ali camaradas como Alexandre de Moraes,
Gilmar Mendes, Luís Roberto Barroso. Eles integram hoje, junto com os
extremistas da esquerda nacional, a divisão blindada que joga toda a sua
capacidade de fogo na luta para transformar o Brasil num país de aiatolás –
onde o consórcio Lula-STF dá todas as ordens e a população trabalha, paga
imposto e obedece.
Já
abandonaram, a essa altura, qualquer preocupação com as aparências – a ficção
de que defendem a democracia, obedecem às leis e respeitam os princípios
universais das sociedades livres. Apostam tudo, cada vez mais, num regime
sustentado pela força armada, pela polícia e pela repressão.
Fonte: Gazeta do Povo
(*) José Roberto Guzzo,
mais conhecido como J.R. Guzzo, é um jornalista brasileiro, colunista dos
jornais O Estado de São Paulo, Gazeta do Povo e da Revista Oeste, publicação da
qual integra também o conselho editorial.
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