(*)
Taciano Gustavo Medrado Sobrinho
Objetividade e imparcialidade. Esses ainda são temas mais debatidos na atualidade no meio jornalístico. O Trabalho de um jornalista é observar e
narrar fatos com imparcialidade, e não participar deles, é agir de forma isenta
na produção da notícia ou reportagem, buscando ouvir os dois lados da história
sem se posicionar frente ao fato, e deixar o leitor, ouvinte ou telespectador tirara
as suas próprias conclusões, pelos menos é o que o professor das faculdades de
jornalismo tem em uma das suas ementas.
Mas
será que de fato na prática isso acontece, principalmente quando as questões
envolvem temas políticos? Para responder
a essa pergunta é necessário conhecer dois conceitos importantes no jornalismo citados no inicio do primeiro parágrafo.
Para
fazer uma análise sociológica da produção de informação midiática, Marchetti
(2008) explica que é necessário analisar os acontecimentos, os problemas
públicos, além de analisar o histórico do discurso midiático. Para tanto, ele
destaca a análise relacional em três níveis para mostrar a unidade e
diversidade do periódico.
No
primeiro nível da análise, pontua-se para quais públicos o periódico se aplica,
sendo eles intelectual/comercial, generalista/especializado, nacional/ local,
postura político/objetividade do periódico. Este modelo permite a análise
quantitativa e qualitativa dos diferentes meios e a hierarquização da
informação.
No
segundo e terceiro níveis há uma relação com as diferentes especialidades em
uma redação que forma subespaços. Segundo Marchetti (2008, p. 24), “Dar a
conocer las lógicas propias de estos microcosmos, permite finalmente comparar
el estado de las relaciones de fracciones del campo periodístico con las de
otros universos sociales sin caer en constataciones demasiado generales
sobre las fuentes y los medios”.
Já
no terceiro nível, compreende-se as lógicas de produção de informação que nos
remetem ao funcionamento das redações e também observação e entrevistas. E
necessário ainda relacionar os diferentes tipos de periodistas como repórteres
freelances, repórteres fixos, editorialistas, além de suas especialidades.
Verifica-se
na modernidade que o jornalismo busca transmitir a imagem de autonomia e
objetividade. Observa-se que mesmo quando a informação transmitida pelo
jornalismo é pautada em generalizações, provocando prejuízos a grupos ou
pessoas, o jornalista prega a neutralidade, ou seja, invoca a objetividade para
se mostrar isento e neutro sobre o assunto exposto.
Sobre
a autonomia dos meios, Marchetti (2008, p. 25) enfatiza que na análise
sociológica relacional “o espaço social está fortemente dominado e controlado
por outros campos, principalmente o econômico e político”. O autor destaca
ainda que a autonomia do periódico pode ser medida por meio de seus princípios
internos de hierarquização.
Segundo
Tuchman (1999, p. 75), “para o jornalista, como para os cientistas sociais, o
termo objetividade funciona como um baluarte entre eles e os críticos”. A
autora caracteriza a objetividade como um ritual estratégico dos jornalistas
para serem considerados imparciais e protegerem-se dos riscos da profissão.
Sobre
o conceito de objetividade, Hackett esclarece:
A
concepção alternativa, de que a objetividade jornalística resulta em uma visão
imparcial dos fatos, está sujeita a muita das mesmas críticas que tem sido
dirigida contra o positivismo em geral. Esta posição implica que o jornalista e
os medias noticiosos sejam observadores independentes, separáveis da realidade
social que eles noticiam; que a verdade ou o conhecimento dependem da
neutralidade do observador/jornalista em relação ao objeto de estudo, que o
meio noticioso quando utilizado corretamente é neutral e destituído de juízo de
valor, podendo assim garantir a veracidade da mensagem (HACKETT, 1999, p. 106).
Tuchman
nos traz três fatores que ajudam um jornalista a definir um “fato objetivo”: a
forma, as relações interorganizacionais e o conteúdo (Tuchman, 1999, p. 75).
Sobre os fatores relacionados acima, a autora esclarece:
Por
forma, entendo aqueles atributos da notícia e dos jornais que exemplificam os
processos noticiosos, como o uso das aspas. Por conteúdo, entendo aquelas
noções da realidade social que os jornalistas entendem como adquiridas. O
conteúdo é também relacionado com as relações interorganizacionais do
jornalista, pois as suas experiências com essas organizações levam-no a tomar
por certas algumas coisas acerca delas (TUCHMAN, 1999, p.75).
A
autora cita que os jornalistas se utilizam de procedimentos rituais para
“fugir” de possíveis críticas e para seguirem rotinas confinadas à
racionalidade (Tuchman, 1999). Outro fator importante é que a dinâmica
noticiosa exige agilidade não permitindo ao jornalista análise reflexiva sobre
ela. Neste caso, conforme destaca a autora, o jornalista opta pela objetividade,
porque precisa cumprir prazo.
Tuchman
aponta que os jornalistas adotam quatro procedimentos estratégicos na produção
da notícia: apresentação das possibilidades do conflito, localização e citação
de fatos complementares, uso de citações dos personagens envolvidos e a
estruturação da informação com perguntas pré-determinadas que devam ser
respondidas, o chamado lead básico (Tuchman, 1999).
Concomitantemente,
a autora esclarece a rotina do repórter e o tempo para recolher informações.
Sobre o “ser objetivo”, a autora assinala:
A
menos que o repórter tenha levado a cabo uma investigação prolongada, ele
geralmente tem menos de um dia de trabalho para se familiarizar com o
background do acontecimento para recolher informações e para escrever o seu
artigo. O repórter sabe que o seu trabalho escrito passará através de uma
cadeia organizacional composta por uma hierarquia de editores e respectivos
assistentes (TUCHMAN, 1999, p. 77).
No
que tange à notícia e aos diferentes perfis dos leitores, a autora elucida que
cada noticia é uma compilação de fatos que passam por avaliação e estruturação
dos jornalistas. Ainda sobre a diferença dos leitores e a provável difamação,
Tuchman (1999) explica que os jornalistas lutam contra essas pressões através
da objetividade, visando que possíveis perigos sejam minimizados se seguirem as
estratégias de trabalho que são identificadas com as notícias objetivas
(Tuchman, 1999, p. 78).
Não
obstante, sobre o fato da luta do jornalista contra essas pressões, Tuchman
(1999, p. 78) afirma que o jornalista questiona o fato junto à fonte, mas que
certos fatos devem ser simplesmente aceitos como verdadeiros. A autora explica
ainda que o jornalista está entre a difamação e o disparate ao diferenciar
objetividade com fatos que ele ou outro jornalista verificaram ou que podem ser
investigados.
Para
a autora, há quatro procedimentos estratégicos que faz com que o jornalista
consiga ser objetivo: o primeiro procedimento apontado por Tuchman (1999, p.
79) aborda “a apresentação de possibilidades conflituais - os jornalistas têm
de ser capazes de identificar os fatos, muito embora algumas pretensões de
verdade não sejam facilmente verificáveis”.
O
segundo procedimento apontado por Tuchman (1999, p. 79) trata da “apresentação
de provas auxiliares. – Naturalmente, há ocasiões em que os jornalistas
conseguem obter provas que corroboram uma afirmação. [...] localização e
citação de "fatos" suplementares que são geralmente aceitos como
verdadeiros”. Já o terceiro procedimento apontado por Tuchman (1999, p. 81)
ressalta: “O uso judicioso das aspas - Os jornalistas veem as citações de
opiniões de outras pessoas como uma forma de prova suplementar”. O quarto
procedimento é “A estruturação da informação numa sequência apropriada. – [...]
é também um procedimento destinado a indicar objetividade, procedimento esse
que é um atributo formal das notícias”.
Concomitantemente
à utilização da objetividade, o campo jornalístico adota, como já citado por
Tuchman, o discurso de ser imparcial, ou seja, da imparcialidade. Sobre os
pressupostos-chave ligados à investigação convencional da parcialidade
jornalística, Hackett ressalta:
1)
a notícia pode e deve ser objetiva, equilibrada e um reflexo da realidade
social; 2) as atitudes políticas dos jornalistas ou dos executivos editoriais
são fatores determinantes da parcialidade jornalística; 3) a parcialidade no
conteúdo noticioso pode ser detectada através da existência de métodos de
leitura; 4) a forma mais importante de parcialidade é o partidarismo (HACKETT,
1999, p. 101).
A
parcialidade e a objetividade estão associadas pelas pessoas ao papel da mídia,
sendo ele político ou ideológico. A parcialidade na notícia é considerada uma
intromissão do repórter ou da organização jornalística no relato do fato.
Hackett aponta que o conceito de parcialidade tem dois momentos que não são
inteiramente consistentes: o primeiro refere-se à falta de equilíbrio entre
pontos de vista concorrentes. O segundo refere-se à distorção tendenciosa e
partidária da realidade (HACKETT, 1999, pp. 102-103).
Sobre
o conceito de distorção supracitado, o autor elucida que a distorção como
critério é especialmente apropriada quando não estão em disputa pontos de vista
de legitimidade semelhantes, tornando assim inadequado o critério de
desequilíbrio (HACKETT, 1999, p. 103).
Posto
isso, o autor passa a abordar os pressupostos para o estudo da parcialidade:
[...]
os estudos da parcialidade tendem coletivamente a aceitar os seguintes
pressupostos: 1. Os media podem e devem refletir com exatidão, o mundo real, de
uma maneira justa e equilibrada. [...]. 2. Os obstáculos mais importantes que
se põe a observação de um relato equilibrado e exato daquilo que se passa no
mundo são os preconceitos políticos ou as atitudes sociais dos comunicadores,
que permitem que os seus valores ou percepções seletivas tornam tendenciosa a
sua reportagem. 3. Quando essas parcialidades surgem no conteúdo noticioso,
elas podem prontamente ser detectadas através de métodos existentes de leitura
e decodificação. 4. A forma mais importante de parcialidade política ou
ideológica nos media é o favoritismo, propositado ou não, em relação a um
candidato, partido, posição política ou grupos de interesses, em detrimento de
outro (HACKETT, 1999, p. 104).
Sobre
o primeiro pressuposto, ou seja, refletir com exatidão o mundo real, o autor
ressalta que os estudos que demonstram a inevitável mediação editorial e
linguística dos acontecimentos deixam em aberto, todavia, a hipótese de os
meios de comunicação social ficarem separados dos acontecimentos que observam e
noticiam (HACKETT, 1999, p. 107).
Ainda
sobre o primeiro pressuposto, o autor relata:
Não
é necessário aceitar-se todo esse determinismo mediático para reconhecer as
intervenções do jornalismo na sociedade e na política. Um exemplo é a produção
generalizada do que Boorstin (1980, p.11) rotulou de pseudo-acontecimentos que
são planeados e provocados previamente e que tem como desígnio primordial o
serem noticiados ou reproduzidos. [...]. Além da produção deliberada de
pseudo-acontecimentos, os media noticiosos podem influenciar as próprias
tendências sociais e políticas que as suas notícias supostamente refletem
(HACKETT, 1999, p. 108).
Quanto
à segunda pressuposição que relata sobre preconceitos políticos ou as atitudes
sociais dos comunicadores, Hackett (1999, p. 111) aborda que “uma segunda
pressuposição do modelo de parcialidade [...] é a de que o partidarismo
político da parte dos donos, anunciantes ou responsáveis editoriais é o
principal obstáculo que se põe à informação objetiva”.
Ainda
sobre a segunda pressuposição, o autor continua:
Como
Black (1982, p. 2014) apontou: As crônicas apartidárias descontentam muito
menos leitores que as partidárias. Os “Barões da imprensa” sobreviventes cujo
principal propósito é gerir os meios de propaganda pessoal estão empenhados
numa dispendiosa e arriscada vaidade. Eles são a exceção à regra (HACKETT,
1999, p. 112).
Sobre
a terceira pressuposição, o autor ressalta:
A
análise de conteúdo está associada a problemática da parcialidade por, pelo
menos, três razões. Primeiro, a parcialidade é, muitas vezes, concebida em
termos quantitativos: [...]. Segundo, parece haver em grande parte da pesquisa
uma pressuposição behaviourista residual segundo a qual a repetição das unidades
do conteúdo está associada ao impacto na audiência. [...]. Terceiro, Sumner (p.
99) sustenta que apesar de suas pretensões esporádicas a ser uma técnica
neutral de descrição, o verdadeiro objetivo d análise de conteúdo e a mensagem
intencional e os motivos do consumidor (HACKETT, 1999, p. 114).
Hackett
(1999, p. 118) relata a quarta pressuposição: “Uma quarta pressuposição do
paradigma da parcialidade é a definição de parcialidade como o favoritismo para
um partido, candidato ou grupo de interesses em detrimento de outro”.
Sobre
a imparcialidade e suas regras, Hackett enfatiza que tais regras não se limitam
a dissimular as mensagens ideológicas no noticiário televisivo, mas que, sim,
são uma parte essencial do funcionamento ideológico da televisão (HACKETT,
1999, p. 122).
O
autor ainda complementa sobre a imparcialidade e a neutralidade:
O
papel de aparente imparcialidade e neutralidade da televisão é ainda mais
central em algumas teorias de televisão que se servem da terceira concepção de
ideologia – a interpelação de sujeitos. [...] algumas análises de realismo e a
sua relação com o posicionamento do público televisivo (HACKETT, 1999, p. 124).
Hackett
(1999, p. 129) ressalta que a alteração nos estudos dos media de parcialidade
para a ideologia não é garantia contra a ingenuidade ou a trivialidade, mas
compreender os papéis políticos do jornalismo pode ser importante.
Referência Bibliográfica
https://1library.org/article/objetividade-e-imparcialidade-no-jornalismo.qorx060q
(*) Possui graduação em
Engenharia Agronômica pela Universidade do Estado da Bahia (1987)-UNEB e
graduação em bacharelado em administração de empresa - FACAPE pela FACULDADE DE
CIÊNCIAS APLICADAS DE PETROLINA (1985). Pós-Graduado em PSICOPEDAGOGIA
INSTITUCIONAL. Licenciatura em Matemática pela UNIVASF - Universidade Federal
do São Francisco . Atualmente é proprietário e redator - chefe do blog o
ProfessorTM
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