O ministro Silvio Almeida| Foto: MDHC
(*)
JR Guzzo
Poucas
vezes o Ministério de Direitos Humanos, se tivesse um mínimo de interesse real
em direitos humanos, teria tanto trabalho a fazer quanto neste primeiro ano de
governo progressista, antifascista e dedicado ao amor. Mas o Ministério de
Direitos Humanos está num silêncio de túmulo há quase um ano inteiro, porque os
direitos que vem sendo ofendidos não pertencem aos humanos de quem o ministro e
o resto do governo gostam. São direitos “de direita”. No Brasil de Lula, do STF
e do ministro dos Direitos Humanos isso é algo que simplesmente não existe.
Mandam índios de classe executiva para Paris e Nova York; ali, enfeitados de
penas coloridas e com a “curadoria” do Itamaraty, desfilam pelos salões dos
bilionários de esquerda, intelectuais e desocupados em geral para denunciar os
“crimes” que o agronegócio está provocando na “floresta amazônica”. Enquanto
isso, o governo democrático de Lula comete, aqui dentro, as piores violações
aos direitos humanos da história recente do Brasil. O ministério não diz nada.
No
Amazonas, barcaças e dragas de mineração usadas por garimpeiros, bem como suas
casas e propriedades, estão sendo fisicamente destruídas pelas forças armadas
do governo. Destroem tudo. Não só o equipamento, mas também móveis, geladeiras,
fogões, roupas e o que mais estiver lá. É essa a coragem atual do Exército
brasileiro – ataca pobres coitados, incluindo mulheres e crianças, que não têm
como se defender. Para o Alto Comando, que fala dia sim, dia não, que está
garantindo a “legalidade” no Brasil, garimpeiro não tem família. Também não
está entre as populações mais pobres do país. Em obediência à Tábua de
Mandamentos do Governo Lula, garimpeiros são apresentados pelo serviço de
propaganda que funciona na maior parte da mídia brasileira como capitalistas
selvagens que só pensam no “lucro” – quando são na vida real brasileiros
miseráveis que garimpam para não morrer de fome. A destruição da sua
propriedade é uma violação grosseira, violenta e rancorosa aos direitos
humanos. Mas o Ministério dos Direitos Humanos não deu um pio sobre o assunto.
Os militares acham que estão sendo heróis de guerra.
O
Ministério de Direitos Humanos está num silêncio de túmulo há quase um ano
inteiro, porque os direitos que vem sendo ofendidos não pertencem aos humanos
de quem o ministro e o resto do governo gostam
O
Brasil está convivendo desde o dia 8 de janeiro com o ataque maciço aos
direitos humanos das pessoas que foram presas no quebra-quebra da Praça dos
Três Poderes. Praticamente nenhum direito individual dos acusados está sendo
respeitado pelo STF. Onze meses depois dos fatos, há mais de 100 pessoas
presas, sem culpa formada e sem julgamento. Centenas de outros estão submetidos
à tortura legal da tornozeleira eletrônica, com efeitos destruidores sobre suas
vidas pessoais; são acusados primários, que não oferecem nenhum risco à
sociedade e só estão com as tornozeleiras para satisfazer à vontade do ministro
Alexandre de Moares em impor o máximo de sofrimento a quem tomou parte nos
distúrbios de Brasília. Um dos réus morreu na prisão, porque o ministro negou a
sua liberação temporária para tratamento urgente de saúde. Os advogados não
podem fazer a defesa oral dos acusados; têm de gravar vídeos que ninguém vê e
esperar a sentença, que sempre é de condenação. O Ministério dos Direitos
Humanos não foi capaz de dizer absolutamente nada, sobre nada disso – nem na
morte do preso Cleriston da Cunha.
A
preocupação do ministro dos Direitos Humanos é denunciar o “racismo” (na sua
opinião, os brancos são racistas mesmo quando não sabem que estão sendo racistas),
pagar passagem e hotel da mulher de um chefe do tráfico (condenado a 31 anos de
cadeia) e puxar desesperadamente o saco do presidente da República. Se houvesse
em Cuba um “Ministério de Los Derechos Humanos” (os cubanos nunca perderam
tempo com isso), seria muito parecido com o seu.
Fonte: Gazeta
do Povo
(*)
José Roberto Guzzo, mais conhecido como J.R. Guzzo, é um jornalista
brasileiro, colunista dos jornais O Estado de São Paulo, Gazeta do Povo e da
Revista Oeste, publicação da qual integra também o conselho editorial.
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