A
explosão da crise de violência no Equador após o chefe da principal quadrilha
do país fugir da prisão vem provocando caos nas ruas do país. Lojistas fecharam
as portas, funcionários voltaram às pressas para suas casas, o que provocou
congestionamentos, e áreas que costumam ser movimentadas ficaram desertas, de
acordo com a imprensa local.
O
Equador está sob estado de exceção em meio a uma onda de criminalidade que
deixou ao menos 13 pessoas mortas. O presidente Daniel Noboa assinou na
terça-feira (9) um decreto em que reconhece que o país enfrenta um
"conflito armado interno" e ordenou ações para
"neutralizar" os grupos criminosos.
A
violência causou pânico em municípios de todas as regiões equatorianas. Maior
cidade do país, Guayaquil colapsou, disse o jornal equatoriano Expresso. A
publicação relata medo e correria após ações coordenadas de criminosos, que
provocaram explosões e sequestraram policiais. Quem não conseguiu voltar para
casa se abrigou em restaurantes ou empresas que fecharam as portas.
A
Universidade de Guayaquil foi invadida por homens armados, e alunos e
professores correram assustados pelo campus e se refugiaram em salas de aula. O
Ministério da Educação suspendeu as atividades de escolas de todo o país pelo
menos até a sexta-feira (12).
Várias
outras instituições foram esvaziadas. Órgãos públicos permaneciam fechados nesta
quarta (10), e a Assembleia Nacional suspendeu as atividades presenciais por
tempo indeterminado. A mesma decisão foi tomada pelo Conselho Nacional
Eleitoral, que chegou a cancelar uma sessão plenária.
Já
o Ministério da Saúde do Equador suspendeu os atendimentos ambulatoriais nos
centros de saúde e hospitais de todo o país. Consultas agendadas e cirurgias
planejadas serão remarcadas, comunicou a pasta nas redes sociais.
Após
a eclosão da crise, na terça, o jornal Expresso relatou que os ônibus de Guayaquil
ficaram lotados às 14h no horário local (16h em Brasília) e que duas horas
depois os veículos haviam "desaparecido" das ruas. A capital Quito,
assim como Guayaquil, registrou congestionamentos incomuns no começo da tarde.
Também
em Guayaquil homens encapuzados invadiram a sede da emissora TC. Eles renderam
o apresentador e funcionários com armas e granadas nas mãos durante uma
transmissão ao vivo do telejornal El Noticiero, que em seguida saiu do ar.
Em
vídeos da transmissão, profissionais da emissora aparecem deitados no chão e,
ao fundo, soam o que parecem ser tiros. Ao menos 13 criminosos foram presos
após a polícia entrar no local.
As
ações criminosas ocorreram após Noboa, que enfrenta sua primeira crise desde
que assumiu a Presidência em novembro, decretar um estado de exceção de 60 dias
em todo o país. A medida inclui um toque de recolher de seis horas, de 23h às
5h.
A
crise também gerou repercussões no exterior. O Ministério do Interior do Peru
ordenou o envio de forças para a fronteira de seu país com o Equador e decretou
estado de emergência em todas as cidades que compõem a linha divisória. Já a
China anunciou o fechamento de sua embaixada a partir desta quarta.
O
Itamaraty afirmou em nota que acompanha com preocupação a escalada de violência
no país. Também disse estar apurando uma denúncia de sequestro de um cidadão
brasileiro, Thiago Allan Freitas, em Guayaquil.
Ao
declarar o estado de exceção na segunda-feira, Noboa afirmou que a medida
permitiria que as Forças Armadas interviessem no sistema prisional equatoriano.
"Não negociaremos com terroristas nem descansaremos enquanto não
devolvermos a paz", afirmou ele em vídeo publicado nas redes sociais.
Presídios
equatorianos têm vivido conflitos frequentes nos últimos anos, com motins e
confrontos que resultam em dezenas de mortes e sequestros de agentes de
segurança. A violência explodiu após a fuga da prisão de Fito, líder da facção
Los Choneros. Ele foi um dos principais nomes apontado nas investigações, ainda
inconclusas, sobre o assassinato do presidenciável Fernando Villavicencio, no
ano passado.
No
decreto desta segunda, anterior ao reconhecimento do conflito armado interno,
as Forças Armadas já haviam sido acionadas para se somar às ações da polícia
nacional. A novidade foi o reconhecimento do estado de "conflito armado
interno", a listagem das facções reconhecidas como terroristas e a
deliberação para que o Exército execute operações militares contra os grupos
declarados.
Espremido
entre Peru e Colômbia, os maiores produtores de cocaína do mundo, o Equador
funciona como entreposto de exportação para a droga por via marítima e viu
facções internas se associarem ao crime transnacional enquanto dominavam os
presídios locais.
Nos
últimos anos, o cultivo e a demanda pela cocaína atingiram níveis recordes no
mundo, segundo a ONU, o que impactou também a distribuição e abriu novas rotas
para o narcotráfico. Em um ano, 210 toneladas de drogas foram apreendidas no
Equador, também um recorde.
*
ENTENDA
A ONDA DE VIOLÊNCIA NO EQUADOR
O
que aconteceu?
O
presidente Daniel Noboa decretou estado de exceção e assinou decreto em que
reconhece um "conflito armado interno" no Equador. As medidas foram
anunciadas após o chefe da principal quadrilha do país, conhecido como Fito,
fugir da prisão, o que desencadeou uma onda de violência.
O
que é o estado de exceção?
A
medida permite que as Forças Armadas interfiram no sistema prisional em
conjunto com a polícia. Também determina um toque de recolher de seis horas, de
23h às 5h. As autoridades ainda podem suspender o direito da chamada
inviolabilidade das residências, da liberdade de trânsito no espaço público, de
reuniões e de acesso à informação.
O
que decreto anunciado pelo governo determina?
A
medida lista 22 organizações criminosas como terroristas e ordena operações
"para neutralizar" os grupos citados. O escopo das ações não está
claro. Outra medida na guerra contra as facções, anunciada pela Assembleia
Nacional, é a possibilidade de indultos e anistias a militares envolvidos no
combate ao narcotráfico.
Como
a violência tem crescido no Equador?
Antes
visto como pacífico, o Equador, entre o Peru e a Colômbia, grandes produtores
de cocaína, tem portos no oceano Pacífico que vem atraindo criminosos pelo
potencial de escoamento da produção. O país está sofrendo com a guerra pelo
poder entre organizações com ligações com cartéis internacionais. O ano de 2023
encerrou com mais de 7.800 homicídios e 220 toneladas de drogas apreendidas,
recordes para o país.
CRONOLOGIA
DAS CRISES NO EQUADOR
17.mai.23
Ex-presidente
Guillermo Lasso sofre sua segunda tentativa de impeachment, dissolve Parlamento
e convoca novas eleições
9.ago.23
Presidenciável
Fernando Villavicencio é assassinado durante a campanha
7.out.23
Sete
colombianos acusados pelo crime são enforcados em prisões, e Lasso troca cúpula
policial
15.out.23
Empresário
Daniel Noboa vence 2º turno das eleições
23.nov.23
Noboa
assume como presidente mais jovem do país, aos 34 anos
7.jan.24
Fito,
maior líder do tráfico local, foge da cadeia, e Noboa decreta estado de exceção
8.jan.24
País
vive noite de terror com sequestro de policiais, explosões e carro-bomba
9.jan.24
Criminosos
encapuzados fazem reféns em TV ao vivo e acabam presos; Noboa declara conflito
armado interno.
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