Presidente Lula cria o 9º feriado nacional no ano.| Foto: Câmara dos Deputados
O Brasil acaba de ganhar, por decreto presidencial, um novo feriado – o Dia da Consciência Negra, que já existia em parte dos estados e agora é obrigatório para todos. Uma das perguntas elementares que se pode fazer diante disso é a seguinte: você acha, honestamente, que algum dos problemas brasileiros de hoje se deve ao fato de que as pessoas estão trabalhando demais?
Temos
em frente de todo mundo, gritando para serem resolvidos com urgência, a pobreza
crônica da maioria da população, 30 anos seguidos sem crescimento real na
economia e um sistema de ensino público que coloca o Brasil entre os países
mais ignorantes do mundo. É preciso muito mais emprego. É preciso muito mais renda
– a começar por uma remuneração maior para o trabalho. É preciso muito mais
esforço para que o sistema produtivo se torne capaz de gerar bens com a
qualidade exigida hoje pelo mercado internacional. Pois então: um dia de
trabalho a menos ajuda a resolver qual desses problemas?
Não
se consegue melhorar nada para o povão? Então eles aumentam o custo do emprego
para “os patrões”.
É
a saída de escape imediata para governos que somam incompetência com más
intenções. Não se consegue melhorar nada para o povão? Então eles aumentam o
custo do emprego para “os patrões” – o que, naturalmente, não diminui em um
único miligrama o conforto do “patrão” e apenas torna mais difícil encontrar um
posto de trabalho. Na falta das obras do PAC, estão fazendo o PAF – Programa de
Aceleração dos Feriados.
A
situação é demente, mas fica ainda mais demente quando se pensa um pouco nos
efeitos disso tudo sobre o funcionalismo público. Um feriado a mais é pura e
simplesmente um custo a mais, seja pelo pagamento por trabalho que não é feito,
seja pelo pagamento em dobro para aquilo que é preciso continuar fazendo. Com o
Dia da Consciência Negra, a máquina estatal passa a ter 18 dias de folga por
ano – 8 feriados e 10 pontos facultativos. Some-se isso aos 104 sábados e
domingos do ano, mais os 30 dias de férias, mais os feriados estaduais e
municipais, e já estamos com mais de cinco meses sem trabalho para o
funcionalismo, de 1º de janeiro a 31 de dezembro.
Isso
é nos melhores casos. Nos piores custa ainda mais caro. Tome-se um juiz, por
exemplo – e aí entra o balaio todo do Judiciário, até o presidente do Supremo
Tribunal Federal. A coisa, então, fica surreal de uma vez. Os juízes, por um
desses mistérios que só existem no Brasil, têm 60 dias de férias por ano, o
dobro do mortal comum. Resulta que ficam no mínimo 182 dias sem trabalhar
durante o ano. Dá seis meses inteirinhos – e isso não inclui as licenças-prêmio
concedidas ao funcionalismo de tempos em tempos, e outras possíveis folgas
geradas pela criatividade de quem se dedica à arte de receber dinheiro público
sem trabalhar.
O
pior é que ficam abertas todas as portas para esses delírios que pipocam, dia
após dia, na remuneração da magistratura brasileira; no último deles, soube-se
que uma juíza do Pará acabou de receber mais de 600 mil reais num único mês,
cada um deles pago por você. Tudo perfeitamente legal, é claro – são os
próprios juízes que decidem o que é legal em relação aos seus salários. Com
seis meses de folga por ano, qualquer meia hora de trabalho está custando uma
fortuna. A tendência é piorar.
Fonte: Gazeta
do Povo / O Boletim
(*) José Roberto Guzzo,
mais conhecido como J.R. Guzzo, é um jornalista brasileiro, colunista dos
jornais O Estado de São Paulo, Gazeta do Povo e da Revista Oeste, publicação da
qual integra também o conselho editorial.
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