(*) JR Guzzo
O
padre Júlio Lancellotti, que há muitos anos é uma presença permanente no
noticiário paulistano por suas ligações com moradores de rua e os viciados em
drogas que vivem na região central de São Paulo apelidada de Cracolândia, está
em evidência de novo. Subiu de patamar, agora. Por conta do seu envolvimento
num caso em que é acusado de corrupção de menores e de pornografia, dentro de
uma proposta de CPI municipal para investigar corrupção e outros crimes na
Cracolândia, atraiu o apoio público do presidente da República.
Lula
preferiu não falar das denúncias e nem da CPI, mas mandou publicar uma nota com
elogios ao padre – e uma foto em que recebe um beijo dele na testa. O candidato
da extrema-esquerda para a Prefeitura de São Paulo também ficou solidário com o
padre Lancellotti; os dois aparecem abraçados numa foto. Para se ter uma ideia
do tamanho da coisa, até o ministro Alexandre de Moraes veio a público para
manifestar o seu apoio ao acusado. Desta vez, porém, há uma particularidade no
barulho levantado em torno de Lancellotti: ninguém quer discutir o episódio.
Todos apoiam. Mas não querem falar do que ele fez.
Há
uma particularidade no barulho levantado em torno de Lancellotti: ninguém quer
discutir o episódio.
O
caso praticamente não aparece na imprensa. Os políticos de esquerda fazem toda
a pressão que podem para evitar a instalação da CPI. O próprio padre, que se
tornou um herói do PT, PSOL e redondezas por sua pregação política radical e
agressiva, desta vez está quieto. A esperança geral é que a história acabe
morrendo de morte morrida: se ninguém falar do assunto, a coisa vai caindo no
esquecimento e acaba, daqui a algum tempo, no arquivo morto onde jazem todos as
desventuras que a esquerda não quer encarar.
A
estratégia, aí, é a mesma que a esquerda e a máquina do Estado adotam contra os
seus inimigos, só que ao contrário. Das “joias do Bolsonaro” e da “delação do
coronel Cid”, por exemplo, fala-se o tempo todo, qualquer coisa, com destaque
para as mais desconexas, pouco importando se há ou não há substância nas
acusações feitas. Se existe algo de real nisso tudo, porque STF, STJ, Polícia
Federal, Abin, Ministério da Justiça e o resto da máquina de repressão do
governo não descobriram nada até hoje? Mas a última coisa que interessa nessa
gritaria é a verdade. O que interessa é o linchamento na mídia.
No
caso do padre Lancellotti será preciso, além do silêncio, desfazer elementos
objetivos da acusação. Há vídeos gravados sobre a sua conduta, analisados e
tidos como verdadeiros por peritos que já foram consultados, em outras
ocasiões, por veículos de comunicação conhecidos. Não é só o problema da
corrupção de menores. Os indícios concretos de corrupção no uso de verbas
públicas na Cracolândia precisam ser investigados. Há, enfim, o problema das
reações contrárias ao objetivo pretendido pela ação.
Está
virando comum no Brasil de hoje: se o presidente Lula, o candidato do PSOL e o
ministro Alexandre de Moraes estão a favor de alguma coisa, então essa coisa
com certeza está errada.
Fonte: Gazeta
do Povo/O Boletim
(*)
José Roberto Guzzo, mais conhecido como J.R. Guzzo, é um jornalista brasileiro,
colunista dos jornais O Estado de São Paulo, Gazeta do Povo e da Revista Oeste,
publicação da qual integra também o conselho editorial.
AVISO: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do Blog do professor Taciano Medrado. Qualquer reclamação ou reparação é de inteira responsabilidade do comentador. É vetada a postagem de conteúdos que violem a lei e/ ou direitos de terceiros. Comentários postados que não respeitem os critérios serão excluídos sem prévio aviso. Guarda Municipal de Juazeiro participa de palestra sobre a Lei Maria da Penha e combate à violência doméstica.
Postar um comentário