Confesso
que não me surpreendi, pois é comum isso acontecer nos primeiros minutos.
Assim, acreditei que estávamos diante de uma situação usual. Bom, os
desdobramentos seguintes me mostraram que eu estava completamente errado.
O
sistema ficou o dia todo fora do ar. Pela noite, foi emitida uma simples nota
informando que os resultados seriam liberados no início da tarde do dia
seguinte. Para encurtar a história: isso não aconteceu e os resultados foram
liberados apenas de noite.
No
momento da tão esperada liberação, uma surpresa: para alguns dos que
conseguiram entrar no sistema na terça-feira, antes de ele cair, os resultados
haviam mudado. Alguns dos que tinham aparentemente sido aprovados já não estavam
mais nesta lista e, para outros, suas classificações mudaram.
Dois
grandes problemas
Estamos
aqui diante de dois grandes problemas, sobre os quais esperei muito para falar.
O primeiro é sobre o quanto toda a situação mexeu com a ansiedade e com o emocional
dos estudantes. Para quem está esperando muito por algo, já é ruim o bastante
aguardar alguns minutos a mais, agora imagina precisar esperar mais de 30
horas. Não foi um prazo de 30 horas, mas sim um atraso de 30 horas.
Todas
essas horas foram marcadas por um mix de sentimentos: de um lado, ansiedade,
angústia, entusiasmo; já do outro: uma certa sensação de abandono e de estarem
sós. Até quando iriam precisar esperar? Qual era o problema de fato? O que
havia ocorrido? Seria preciso abrir um outro processo do Sisu?
A
verdade é que faltou mais clareza na divulgação das informações durante toda a
situação. Até consigo entender a lógica de colocar a energia para resolver
antes de informar e a vontade de informar apenas quando já há notícias
concretas para trazer, mas essa lógica não pode ser utilizada quando se trata
de uma política federal e envolve a expectativa de tantas pessoas.
O
segundo problema é ainda mais sério: Como assim alguns resultados mudaram? Li
no G1 a história de um rapaz que tinha sido aprovado na errônea liberação da
terça-feira e chegou até a raspar o cabelo como forma de comemoração. Duvido
que ele tenha sido o único. Quem lidará agora com a dor e com a frustração
desses estudantes?
Uma
aluna de Santa Catarina compartilhou comigo a situação pela qual passou. A lei
de cotas não foi operacionalizada como deveria para o curso que ela escolheu e
isso fez com que ela perdesse a vaga.
Bom,
aqui cabe uma breve informação. A nova lei de cotas garante o seguinte: todos,
incluindo os cotistas, irão concorrer inicialmente em ampla concorrência. O
candidato cotista só será aprovado por cotas se a sua média não for suficiente
para conquistar uma vaga pela ampla concorrência. Eu, honestamente, achei muito
bacana essa mudança e ela almeja algo muito válido: evitar que candidatos
cotistas que poderiam passar sem precisar de cotas "tirem" as vagas
de outros cotistas que só conseguiriam ser aprovados através desse sistema.
A
jovem catarinense concorria a uma vaga na UDESC e, durante as prévias, estava
em segundo lugar no curso desejado. Imaginem sua surpresa quando viu que o
único aprovado pelas cotas tinha uma média maior do que alguns candidatos
aprovados na ampla concorrência. Ou seja: ela perdeu sua vaga por uma falha na
aplicação da lei de cotas.
Problemas,
desorganização e falta de comunicação
Posso
apenas imaginar a complexidade de um sistema como o Sisu. Não é exagero: ele
operacionaliza o ingresso em quase todas as universidades de um país e estamos
falando do Brasil, um dos maiores do mundo em extensão. Posso também apenas
imaginar o quanto o ambiente dentro do MEC e do Inep foi marcado por um clima
de tensão e de pressão.
Mas
é fato: a liberação dos resultados do Sisu deste ano foi problemática e pautada
por problemas, desorganização e falta de comunicação. A consequência foi para
todos os participantes um abalo emocional, que para alguns deles foi ainda mais
grave.
Não
acredito que tenham sido erros propositais e não acho que estamos diante de uma
questão política. Além disso, não acho justo dizer que o MEC ou o Inep sejam
despreparados ou desorganizados. No entanto, houve sim uma série de erros que
não foram acompanhados de uma comunicação clara, fluida, transparente e
respeitosa.
É
necessário aumentar o zelo e a organização com processos de seleção como o
Sisu.Trata-se do sonho de jovens de todo o país e para muitos a única
oportunidade de ingressar no ensino superior e mudar de vida. Erros, sim, podem
acontecer. Caso ocorra novamente, é primordial que haja uma comunicação clara,
transparente e constante com a população. É o mínimo de respeito que merecem.
Agora
fico pensando: quem lidará com a frustração daqueles que se sentiram
prejudicados? Apenas assumir que a primeira divulgação foi um erro não é o
bastante.
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Vozes
da Educação é uma coluna quinzenal escrita por jovens do Salvaguarda, programa
social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na
universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius
De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da
federação. Siga o perfil do Salvaguarda no Instagram em @salvaguarda1
Este
texto foi escrito por Vinícius De Andrade e reflete a opinião do autor, não
necessariamente a da DW.
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