(*) JR Guzzo
É
dura a vida do ministro Fernando Haddad no Brasil de hoje. O homem, pelo menos
segundo o que se lê no noticiário, gostaria de um déficit menor nas contas
públicas – mas logo ao completar seu primeiro aniversário no cargo tem de
encarar um rombo de 230 bilhões de reais no balanço de 2023, o segundo pior dos
últimos 47 anos, quando começou a chamada “série histórica” da coleta de
números sobre o assunto.
Haddad
até lembrou que 90 bilhões dessa bolada se devem ao pagamento de dívidas
vencidas, os “precatórios”. Não se falou sobre os outros 140, mas o ministro
ponderou que não é responsável pelo acerto de dívidas que não foram feitas por
ele e que a Justiça mandou pagar. De fato é assim – só que o problema não está
no leite já derramado, mas no leite que continuam a derramar.
É
a justiça social que o STF faz hoje no Brasil: dinheiro que tinha de estar no
cofre público é tirado de lá e entregue a bilionários, para que fiquem ainda
mais bilionários do que já são.
O
que o ministro da Fazenda pode fazer, por exemplo, com o STF? Só o ministro
Dias Toffoli, por decisão pessoal e com apenas duas canetadas, acaba de socar
nada menos do que 14 bilhões de reais no déficit. Criou despesa – e mais
despesa para quem está devendo, como o Erário brasileiro, é aumento no rombo.
Podem ficar fazendo uma discussão técnica pelo resto da vida, mas no mundo das
realidades é isso.
Em
sua “decisão monocrática”, Toffoli deu de presente 10,2 bilhões de reais para a
J&F, a dona da maior indústria de carnes no Brasil, e outros 3,8 bilhões
para a construtora Odebrecht. Ambas deveriam recolher esse dinheiro ao Tesouro
Nacional para cumprir os “acordos de leniência” que assinaram com o Ministério
Público – em vez de ir para a cadeia por crime de corrupção ativa, seus
diretores concordaram em pagar os 14 bilhões de multa. Agora, numa decisão
depois da outra, o ministro anulou o débito das duas empresas. Não precisam
mais pagar nada – e, é claro, todo mundo continua solto.
É
a justiça social que o STF faz hoje no Brasil: dinheiro que tinha de estar no
cofre público é tirado de lá e entregue a bilionários, para que fiquem ainda
mais bilionários do que já são. Não daria para separar uns trocados dessa
dinheirama e dar para “os pobres” que Lula está sempre querendo salvar? Não,
não daria: tem de ir tudo para o bolso da J&F e da Odebrecht.
“Salvar
pobre” é para discurso em auditório fechado. Moeda sonante é para os magnatas
amigos de Lula e do STF; é entrar na justiça e correr para o abraço. Mas mesmo
que se deixe de lado a questão moral, fica o problema do ministro Haddad. Como
é que ele poderia trabalhar no déficit se um ministro do STF, sozinho, aumenta
o rombo das contas públicas em 14 bilhões de reais? A cifra, de uma penada,
equivale a 6% do déficit inteiro do Brasil em 2023. Há alguma coisa
profundamente errada num país em que um único juiz, sem se importar com nenhum
tipo de consequência, é capaz de produzir 6% do déficit nacional.
Fonte: Gazeta
do Povo
(*)
José Roberto Guzzo, mais conhecido como J.R. Guzzo, é um jornalista brasileiro,
colunista dos jornais O Estado de São Paulo, Gazeta do Povo e da Revista Oeste,
publicação da qual integra também o conselho editorial.
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