(*) Percival Puggina
Em qualquer placar, 10 a 1 ou 9 a 2 é goleada, com direito a flauta e volta olímpica.
Imagine
um tribunal constitucional ser, também, última instância judicial,
transformar-se em tribunal penal da sociedade e assumir-se como corte divina,
ou seja, onisciente, onividente e onipotente, a emitir sentenças de Juízo
Final. Imagine que nesse tribunal quase todos, num grau ou noutro, são
“progressistas” ou marxistas, selecionados a dedo segundo a mesma cartilha. Um
poder de Estado com tais características faz a revolução com o abanar das
togas. Para cumprir seu querer, dispensa luta armada. Não usa barracas de
campanha, não cava trincheiras e não precisa de arsenais. Opera a partir de
luxuosos gabinetes. Seu material bélico está contido em meia dúzia de
princípios constitucionais lançados para onde a ideologia aponta.
Um
tal poder prescinde de Gramsci, Escola de Frankfurt, movimentos sociais,
patrulhamento, infiltração e doutrinação. Bastam onze homens e seus votos. E
tudo fica parecendo Estado de direito enquanto se proclama servida a
Democracia.
A
bússola das decisões normativas sobre os grandes temas da vida nacional está
saindo do Congresso onde opera a representação proporcional da opinião pública.
Aquela história dos três poderes, este faz a lei, aquele executa e aquele outro
julga – lembra-se disso? – vai para as brumas do passado. É como se ressoassem
para o Brasil as primeiras palavras do Gênesis, pois as instituições estão sem
forma e as trevas cobrem a superfície do abismo. Sob tal poder não há nem
haverá luz e toda divergência será castigada. Quem ousaria dissentir do rufar
das togas?
Sentado
diante da tela do computador, ponho-me a pensar sobre o que vejo e me permito
afirmar, na perspectiva de uma honesta divergência, que, a despeito de todos os
rancores e maus humores:
Ser
conservador não é crime hediondo.
Ser
liberal não é crime hediondo.
Ser
cristão não é crime hediondo.
Ser
de direita não é crime hediondo.
Ser
lavajatista não é crime hediondo.
Ser
bolsonarista não é crime hediondo.
Haver
preferido Bolsonaro a Lula não foi crime hediondo.
Amar
a liberdade e divergir daqueles que a querem reprimir não é crime hediondo.
Cada
dia traz novas trevas sobre o abismo produzido por aqueles que usurpam o lugar
de Deus enquanto ouvem Hosanas! Canta quem neles crê porque convém e canta o
poder por trás do poder. É ou não é, Centrão?
Fonte: Percival
Puggina
(*) Arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras. Escreve, semanalmente, artigos para vários jornais do Rio Grande do Sul, entre eles Zero Hora, além de escrever o seu próprio blog e em outros websites de expressão nacional, a exemplo do Mídia Sem Máscara, Diário do Poder, Tribuna da Internet. Sua coluna é reproduzida por mais de uma centena de jornais.
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