(*) Percival Puggina
O
“freio puxado” que marcou os discursos na Av. Paulista no dia 25 de fevereiro
foi um dos fatos mais eloquentes daquele evento e sobre ele já muito se falou.
Não é normal que, diante de tamanha multidão, personagens tão destacados da
política brasileira, incluindo parlamentares com liberdade de expressão
protegida pela Constituição, oradores brilhantes, discursem com freio de mão
puxado. Há algo muito errado num país onde isso acontece! Deveria ser motivo de
escândalo. E não foi.
Silas
Malafaia, em suas primeiras palavras, antecedendo um discurso duríssimo,
afirmou que não estava ali para criticar as instituições [de Estado] porque
isso seria atacar a República. É proibido criticar as instituições? Merecem
elas louvores? Não, claro que não! Criticá-las é próprio e útil a qualquer
regime democrático. Não poder fazê-lo dá atestado de óbito à democracia.
Comecei
a escrever para jornais em 1985 e, desde então, não mais parei de criticar
nossas instituições. De início, eu o fazia advogando a adoção do
parlamentarismo e como defensor do voto distrital puro. O passar dos anos, a
Constituinte de 1988 e tudo que veio a seguir, consolidou aquelas convicções.
Quatro décadas e centenas de artigos mais tarde, chegamos ao recente evento da
Av. Paulista, ao discurso de Silas Malafaia e à reação irada da imprensa
amestrada.
Então,
caro leitor, pensemos juntos. O Brasil não vai bem. Nossos problemas se
acumulam. A taxa de investimento se mantém muito inferior à que seria
necessária. O Brasil perde atração e posições no ranking de investimentos
externos (já foi 4º, hoje e 14º). O crescimento econômico é lento e Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) é de terceiro mundo. A renda média da população
decresce e o endividamento sobe (72 milhões de brasileiros estão
inadimplentes). Cem milhões não dispõem de coleta de esgoto. Trinta e cinco
milhões não recebem água tratada. Um terço da população vive em condições de
pobreza. Educação de qualidade é exceção, rarefeita e onde ocorre é malvista.
Convivemos com cinturões de miséria, criminalidade consolidada em estados paralelos
e insegurança pessoal. Insegurança jurídica. Infraestrutura precária.
A
lista é imensa. Complete-a você mesmo e responda. A culpa disso é sua? Minha?
Nossa? Da sociedade? Ou é do Estado que arrecada muito e gasta mal? Ou é do
Estado onde uma elite instalada em instituições que existem para servir à
sociedade se abastece de privilégios e regalias crescentes, julgando-se credora
de luxos e mesuras dos tempos do absolutismo monárquico? Ou é de um Congresso
cujos graves equívocos constitucionais, judiciais e legislativos se combinam
para o converter num shopping com lojinhas de venda de votos parlamentares? Ou
de governos e mais governos nos quais a virtude é punida e o vício recompensado
e protegido? Ou é de um judiciário que perde o senso de justiça e de medida,
invade competência dos outros poderes, usa a Constituição ao gosto, como livro
de receita e se assume como tutor da sociedade? Ou é da corrupção estrutural?
Ou é dos partidos, que do Estado se abastecem? Ou é de instituições de Estado
que têm como lacaia a nação a que deveriam servir e impõem a ela o temor que
lhe deveriam ter?
Não
será delas que virá a solução porque elas são o problema. Estão concebidas para
atuar como atuam e proporcionar os resultados que proporcionam. Há
responsabilidades individuais? Sim, claro! E também brilhantes méritos
individuais. Mas estamos vendo, periodicamente, que não basta trocar nomes
porque a regra do jogo determina como o jogo político e institucional é jogado.
Em decorrência dessa realidade estrutural, congênita, que afasta representantes
de representados, governantes de governados e julgadores de julgados, os
cidadãos veem afastar-se, célere, a liberdade e, com ela, a democracia e as
possibilidades de uma reforma institucional.
Independentemente
do que o politburo pense, imponha ou consinta, eu sigo fazendo minha parte.
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