Da redação
Estava demorando para Lula soltar mais uma pérola e ela chegou. Foi na reunião ministerial nesta segunda-feira (18). O petista declarou que o Deus do advogado-geral da União, Jorge Messias, que é evangélico, não é o mesmo do pastor Silas Malafaia, aliado de Jair Bolsonaro (PL), e culpou as fake news pela dificuldade de aproximação com este segmento do eleitorado.
O
petista falava sobre as cobranças para melhorar a relação com os evangélicos
quando deu a declaração.
Lula
disse, segundo relatos de participantes, que é pressionado a se reunir mais com
evangélicos e que está disposto a fazer isso o máximo possível. Mas essa
aproximação, na visão do petista, não resolve o problema.
O
entrave nesse caso, para o presidente, é o uso político da religião por seus
adversários e a disseminação de fake news. O mandatário também comentou,
segundo pessoas presentes, que não adianta falar apenas com os líderes
religiosos. Segundo ele, é preciso acessar a base dos fiéis.
Ao
fazer esse diagnóstico, Lula disse a Messias ter certeza que o Deus do ministro
não é o mesmo do de Malafaia. A fala de Lula foi dada no contexto sobre a
necessidade de separar política de religião, segundo aliados do petista.
Malafaia
é aliado de primeira hora de Bolsonaro e foi um dos responsáveis por organizar
ato na avenida Paulista, no final de fevereiro, para que o ex-presidente
demonstrasse apoio popular e se defendesse das acusações de ter tramado um
golpe para impedir a posse do petista.
Pesquisa
Quaest do início do mês mostrou um aumento da avaliação negativa do governo. No
recorte dos segmentos, a taxa de respostas negativas deu um salto entre os
evangélicos, grupo que abrange cerca de um terço da população. A avaliação
negativa era de 36% há três meses e agora foi a 48%.
Em
outro momento da reunião desta segunda, Lula tratou da guerra que Israel trava
com o grupo terrorista Hamas, na Faixa de Gaza. Ele afirmou que Israel como
descrito pela Bíblia não é o mesmo do de Benjamin Netanyahu, premiê do país.
O
mandatário já havia falado de questões religiosas durante a sua fala de
abertura da reunião ministerial, transmitida pelos canais oficiais do governo e
por emissoras de televisão. Ele criticou o uso das crenças como um instrumento
político e disse que as religiões vêm sendo utilizadas de "maneira
vil" no país.
"[As
pessoas querem] um país em que a religião não seja instrumentalizada como
instrumento político, de um partido político ou de um governo", afirmou
Lula.
"Que
a fé seja exercitada na mais plena liberdade das pessoas que queiram exercê-la.
A gente não pode compreender a religião sendo manipulada da forma vil e baixa
como está sendo neste país. Então democracia é a gente tentar que esse país
volte à normalidade."
O
uso da religião na política foi enaltecido semanas atrás pela ex-primeira-dama
Michelle Bolsonaro em discurso na avenida Paulista. O discurso de Michelle é
apontado por especialistas como um aceno para a supremacia cristã e uma ameaça
para a laicidade do Estado.
Após
a reunião ministerial, o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa (PT), afirmou
não existir uma estratégia para Lula se aproximar do público evangélico. A
aproximação, segundo ele, que o presidente deseja é com todos, independente de
crença.
"A
religião e a crença são muito maior que os partidos políticos, do que as
disputas políticas, e, portanto, devem ser colocadas e respeitadas as crenças
religiosas das pessoas", afirmou Rui. "A crença das pessoas não pode
ser usada na política partidária", completou.
O
presidente também orientou os ministros a defenderem a equiparação salarial de
homens e mulheres e pediu que a pasta das Mulheres faça ações para mobilizar as
brasileiras a endossarem esse tema.
Durante
a reunião desta segunda, Lula cobrou seus ministros para saírem em defesa do
governo federal e não apenas de suas próprias áreas e ações, já que todos são
integrantes do governo federal.
O
mandatário pediu "transversalidade" da sua equipe para rebater as
críticas e divulgar as medidas do governo, além de mais viagens aos seus
ministros e maior presença em redes sociais, para explicarem as ações da gestão
petista.
O
encontro com ministros foi marcado para que Lula fizesse cobranças em meio a
dados negativos sobre sua popularidade. Pesquisa divulgada pelo Ipec no início
do mês mostrou piora nos índices de aprovação de Lula.
Consideram
a administração ótima ou boa 33%, ante 38% na pesquisa anterior, realizada em
dezembro de 2023. Outros 33% avaliam a gestão regular, e 32% veem como ruim ou
péssima, uma oscilação positiva de dois pontos em relação aos dados anteriores.
O
presidente, no entanto, afirmou não se impressionar com as pesquisas desde
1989. Era uma referência à primeira vez que disputou a Presidência da República
e acabou derrotado. Disse que seu governo está "entregando muito", e
que a sua situação política deveria estar melhor.
Com informações da Folha de São Paulo
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