A SINDUNIVASF, Seção Sindical dos/as docentes da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), repudia a atitude e fala do Reitor, prof. Télio Leite, que, em Reunião ordinária do Conselho Universitário (Conuni), realizada no dia 23 de fevereiro de 2024, declarou apoio a proposta da Polícia Federal (PF) para que a Univasf doasse parte do terreno do Campus da cidade de Juazeiro-BA para a construção da sua sede. Além disso, o reitor, sem um aviso prévio,trouxe delegados da PF para participar da reunião do Conuni, o que provocou nos conselheiros presentes um sentimento de constrangimento e intimidação, uma vez que iriam debater o assunto na presença dos interessados.
Ainda
na reunião, o reitor se disse sensibilizado com a situação da PFque, segundo
ele, corria risco de ter a sua sede deslocada do município de Juazeiro para
outras cidades, por falta de um espaço para sua construção. Na ocasião, os
delegados apresentaram as contrapartidas da PF à universidade, que seriam
basicamente: priorizar a Univasf para receber doações de carros, equipamentos
eletrônicos, balanças e drogas (com intuito de pesquisa) apreendidas, além de
possibilitar o acesso da comunidade acadêmica a cursos e treinamentos
oferecidos pela instituição policial.
Ou
seja, a Univasf doaria parte de um dos seus terrenos mais nobres (centro/orla
de Juazeiro), comprado com recursos próprios, à PF na base de um tipo de
escambo bem abstrato, aleatório e humilhante. Na prática, estaríamos sendo
financiados pelo crime organizado, ou melhor, pela ação repressiva do estado
contra o crime organizado. Humilhante ou não? Além de toda incerteza que
envolve este tipo de procedimento, uma vez que o material apreendido em
operações policiais não é tão facilmente e automaticamente liberado para ser
doado a instituições públicas, pois representa prova em processosjudiciais. É
ou não um acordo bem obscuro e abstrato?
A
postura entreguista do reitor (praticamente gratuita) ainda desconsidera o
histórico de opressão às universidades públicas do poder policial no Brasil.
Não é preciso ir muito longe para termos exemplos de ações violentas e
autoritárias da polícia, incluindo a PF, dentro de Universidades. Por exemplo,
em 2018, policiais federais invadiram a Universidade Federal de Campina Grande,
às vésperas da eleição presidencial, para recolher o “Manifesto em Defesa da
Democracia e da Universidade Pública”, que foi aprovado em assembleia da seção
sindical dos docentes da instituição.
Na
sua fala desastrosa, o reitor ainda deixou a entender que o campus de Juazeiro
tinha áreas não aproveitadas ou subutilizadas. Como um campus que não tem
residência universitária, que tem limitações de uso de salas e laboratórios,
que não tem salas adequadas e individuais para docentes, e que não tem área de
convivência, pode ceder parte do seu terreno para outra instituição? Vale
considerar que o campus de Juazeiro fica às margens do Rio São Francisco, ou
seja, a área disponível para construções no local já é naturalmente limitada.
A
SINDUNIVASF não é contrária a presença da PF em Juazeiro, mas entende que não é
justificável que esta instituição precise de terreno da Univasf para construção
da sua sede. Acreditamos que existem vários terrenos disponíveis da União no
município, e que a prefeitura de Juazeiro tem total interesse em manter a PF na
cidade, podendo facilmente conseguir um localpara a construção da sua sede.
Também lembramos que o Ministério da Justiça e Segurança Pública, ao qual a PF
é subordinada, é um dos poucos que tem seu orçamento mantido ou aumentado nos
últimos anos, diferentemente do Ministério da Educação, que tem seus recursos
cada vez mais limitados e que continuamente vem reduzindo o seu investimento
nas Universidades Públicas.
Sendo
assim, a SINDUNIVASF é totalmente contrária à proposta de doação de parte do
terreno do campus de Juazeiro da Univasf à PF. A SINDUNIVASF defende, de forma
irrestrita, que a reitoria se esforce para garantir, no campus de Juazeiro, a
construçãode residências universitárias, de salas individuais e adequadas ao
trabalho docente, e de mais salas de aulas e laboratórios para a expansão da
Universidade no local, com a oferta de mais vagas e mais cursos de graduação e
pós-graduação. Também pedimos, encarecidamente, que a reitoria da Univasf lute
pela construção de espaços de convivência, que faltam em todos os campi da
instituição. Estes espaços são vitais para o desenvolvimento da universidade,
especialmente para permitir a troca de saberes e conhecimentos, a expressão do
pensamento criativo e crítico e das pluralidades. Tudo isto é totalmente
incompatível com a presença simultânea de uma instituição do aparato repressor
estatal dentro/ao lado da universidade.
Assembleia
da Seção Sindical dos/as Docentes da Univasf (Nota aprovada por unanimidade)
Petrolina,
29 de fevereiro de 2024.
Ascom
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