A Lei
Nº 14.817/2024, que estabelece diretrizes para valorização de profissionais das
redes públicas de ensino de todo país, foi sancionada em janeiro último, após
cinco anos de tramitação no Congresso Nacional. A regulamentação garante
readequação do piso salarial, plano de carreira, formação continuada e melhores
condições de trabalho, como jornada reduzida de 40 horas, para
professores, orientadores educacionais, supervisores, diretores,
administradores escolares e também profissionais de suporte técnico e
administrativo.
A norma
determina que os planos de carreira estimulem o desempenho e o
desenvolvimento profissionais em benefício da qualidade da educação escolar,
além de assegurar condições de trabalho que favoreçam o sucesso do
processo educativo e o respeito à dignidade profissional e pessoal dos
educadores.
Para
Lucieny Osório, 41 anos, servidora da Secretaria de Educação do Distrito Federal
(SEE-DF) desde 2013, ainda há muito o que fazer, mas o primeiro passo foi dado.
"A criação dessa lei é importante para a educação brasileira, tendo em
vista que muitos municípios pagam menos do que um salário mínimo para seus
professores". Lucieny é docente de altas habilidades no Centro de Ensino
Médio 2, em Brazlândia.
Natália
Fregonesi, analista de políticas educacionais da ONG Todos pela Educação, diz
que o estabelecimento dessas diretrizes é vital, porém deve haver um apoio do
governo federal para que elas sejam cumpridas.
"Sabemos
a dificuldade das secretarias de educação de alguns municípios em cumprir as
leis por conta da falta de estrutura e apoio financeiro. Então, o governo
precisa auxiliar esses locais com logistica técnica e financeira", pontua.
"Existem muitos Brasis no Brasil, e cada um possui uma realidade
diferente. Então, dificilmente, a criação de uma lei irá resolver todo o
problema. É necessário reconhecer as deficiências no sistema e adotar políticas
para as maiores urgências", completa Natália.
Piso
salarial
O
Ministério da Educação (MEC) publicou, em 31 de janeiro deste ano, o novo
piso salarial dos professores da educação básica. O valor definido pelo
governo para uma jornada de 40 horas foi de R$ 4.580,57, cerca de 3,62% maior do
que o piso anterior. A Lei Nº 14.817/2024 determina, entre outras medidas,
a adequação nacional das tabelas salariais ao mínimo ajustado.
O
piso salarial dos professores varia de acordo com políticas implementadas por
cada estado e é definido a partir do valor que mais beneficia o trabalhador. Em
São Paulo, por exemplo, os professores estão sujeitos a dois regimes, o
primeiro, ligado à antiga carreira de magistério de educação infantil, e o
segundo, a uma nova carreira que abrange todos os docentes e servidores contratados.
Para
a nova carreira, é estipulado um piso de R$ 5.300,00 para uma jornada de 40
horas semanais. Na carreira antiga, a remuneração inicial é de R$ 3.014,12,
abaixo do novo piso. Para contornar a disparidade, os docentes enquadrados na carreira
antiga devem receber um abono complementar ou um aumento salarial, a ser
definido por decreto governamental.
No
Distrito Federal, de acordo com a Lei Distrital Nº 7316/2023, o piso salarial
para o menor nível da categoria, professores de magistério que possuem
graduação, é de R$ 4.941,71, ou seja, acima do valor definido pelo governo
federal.
Na
visão de Cleber Soares, diretor do Sindicato dos Professores do Distrito
Federal (Sinpro-DF), a nova legislação é um passo fundamental para valorizar os
educadores brasileiros, mas vários outros precisam ser dados para que o país
atinja um nível ideal, visto que, mesmo com os reajustes no piso, o salário dos
professores ainda é muito baixo, se comparado a outras carreiras.
"A
educação no país está muito desvalorizada, e serão necessários mais incentivos,
como esse, para que os profissionais que trabalham com educação recebam seu
devido valor. Nós vemos que a maioria dos estudantes que estão saindo do ensino
médio não quer ir para a área de educação, pois esse mercado não é nada
atrativo", defende.
Leonardo
Bezerra do Carmo, 37 anos, é servidor da SEE-DF há 11 anos e confirma a tese do
sindicalista. Ele argumenta que o ajuste do piso proposto pela nova norma não é
suficiente para superar a defasagem dos salários de docentes, e as medidas de
melhoria das condições de trabalho não resolvem os problemas estruturais do
sistema educativo, que adoecem os profissionais.
Doutorando
em educação pela Universidade de Brasília, está fora das salas de aulas até a
conclusão do curso — conseguiu uma licença-capacitação para se
dedicar aos estudos. Mão de obra superespecializada, o professor não se sente
motivado a voltar à educação básica após a especialização e quer
tentar uma vaga como professor universitário. "Apesar da importância
social da nossa profissão, o educador não tem uma remuneração digna e nem uma
estrutura boa para realizar seu trabalho. Não compensa ser professor de escola,
hoje em dia", diz.
Capacitação
As
novas diretrizes definidas pela Lei Nº 14.817/2024 têm foco especial no
desenvolvimento contínuo dos educadores. Em nota, o Ministério da Educação
informou que vem atuando na elaboração e implementação de diversos programas em
parceria com as instituições de ensino superior, redes e sistemas de ensino
para atender aos requisitos da norma em relação à capacitação dos professores,
como o Programa de Acompanhamento dos Centros de Formação Continuada
(PRAEC) e o Programa de Formação Continuada para Diretores e Técnicos
(PRODITEC).
No
contexto local, de acordo com a subsecretária de Gestão de Pessoas da SEE-DF,
Ana Paula de Oliveira Aguiar, o GDF possui um cenário melhor que outros
estados em relação ao plano de carreira dos educadores. "Essa lei
federal vem fortalecer as ações que já são feitas aqui no Distrito Federal. A
Secretaria de Educação é pioneira no investimento em nossos
profissionais", diz.
Ela
afirma que 37,5% da jornada de 40 horas dos educadores do DF são destinadas a
atividades pedagógicas e formação continuada dos professores. Além
disso, a rede conta com uma escola para atualização dos servidores de
carreira, a Subsecretaria de Formação Continuada dos Profissionais da
Educação (EAPE).
Qualidade
do ensino
Na
última edição do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa),
realizado em 2022, o Brasil se manteve estagnado na 53ª posição do
ranking global de educação. Os dados revelam que, em relação a 2018, apesar de
não ter caído colocações, o país obteve uma pontuação pior. O Pisa avalia
as áreas de leitura, matemática e ciências e é realizado pela Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Cleber
credita parte do mau desempenho brasileiro à defasagem na formação
profissional dos professores, o que se reflete em uma escola pouco
atrativa aos alunos. "Sabemos que o nosso país possui diferentes
realidades em cada região e, por isso, é essencial que cada escola consiga ser
atrativa para sua própria realidade. Para isso, é necessário ter planejamento,
reduzir contratos temporários e aumentar a quantidade de concursos
públicos", afirma o sindicalista.
Luciany
Osório ressalta que a falta de estrutura física das escolas e a superlotação
das salas de aula, além de contribuírem para a insalubridade do trabalho dos
professores, afetam o desempenho dos alunos. "Nós chegamos às salas de
aula, e damos de cara com 30, 40 alunos em uma sala pequena. É difícil para
nós, professores, mas para os alunos se concentrarem também", reclama.
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