(*) Valter Bernat
A
Petrobras é uma empresa que tem sócios (acionistas) de todos os lugares, de
todas as condições financeiras, seja ele pequeno, médio ou grande investidor.
Toda empresa tem um controlador, no caso da Petrobras, o controlador é o
governo federal, atualmente, o governo Lula. A Petrobras é uma empresa de
economia mista, e por isso não tem que se submeter às regras do TCU. Ela segue
as regras da Lei das S/A’s.
Como
funcionam as empresas de capital aberto? A empresa precisa, antes de tudo,
respeitar o mercado. Precisa ter uma pessoa confiável para conversar com os
acionistas, olhando seu principal objetivo: lucro! Como, no caso, ela tem um
“investidor” majoritário, o presidente precisa, hoje, “dar uma ligada pro
Lula”, para explicar o que está acontecendo e saber “o que fazer?”
Bem,
além dos investidores, a Petrobras tem um Conselho de Administração e, a este
Conselho, o Presidente e seus diretores devem dar satisfações de seus atos e,
aí, o Conselho dá sua palavra final, ratificando ou retificando a decisão
anterior.
Devemos
lembrar que cada conselheiro representa um interesse específico: ou de seu
próprio, ou de um grupo que representa. No entanto o presidente da empresa não
pode representar o interesse de nenhum dos acionistas em especial, tem que
olhar o grupo como um todo. No caso da Petrobras, hoje os conselheiros
representam o desejo do governo, já que ele tem a maioria, mas como ficam os
acionistas minoritários?
O
presidente da Petrobras não pode representar nenhum nicho de acionistas, tem
que olhar apenas para os interesses da Petrobras. Ver o que é melhor para a
empresa e não o que é melhor para o governo. O presidente da Petrobras tem que
defender os interesses da “sua” empresa e de seus acionistas, mas o governo
defende, segundo Lula o “interesse do Brasil”. Há controvérsias, mas…
Quando
começamos a misturar os interesses da Petrobras com os interesses do Brasil, as
coisas começam a se complicar. Já vimos este filme antes em governos anteriores
do PT e o final foi muito ruim para o país.
É
necessária uma transparência total nas negociações, nos acordos e na
distribuição dos dividendos. A Petrobras apresentou, aos acionistas e ao
mercado, um resultado com lucro, que deveria ser dividido entre os acionistas
em forma de dividendos, ordinários (obrigatórios) e extraordinários (quando o
lucro atingir o patamar previsto no estatuto).
No
entanto, a Petrobras (governo Lula) decidiu que os dividendos sobre o lucro, digamos
assim, excedente, deveria ser contingenciado, ou seja, eu distribuo apenas os
dividendos obrigatórios, mas reservo o restante (extraordinários) para um
futuro. Isso foi uma decisão tomada pelo governo juntamente com a presidência
da Petrobras. Danem-se os acionistas.
A
íntegra da decisão:
“Na
5ª feira (7.mar), o Conselho da Petrobras aprovou a proposta de encaminhar à
AGO (Assembleia Geral Ordinária), que ocorrerá em 25 de abril, uma distribuição
de dividendos equivalentes a R$ 14,2 bilhões, ou seja, o mínimo previsto em sua
política. Outros R$ 43 bilhões serão retidos em reserva estatutária, mecanismo
criado em 2023 com a aprovação de um novo estatuto da estatal”.
O,
sempre muito falante Lula, deu declarações sobre isso. Disse que a Petrobras
tem que pensar mais nos brasileiros e não nos acionistas. Tem que pensar nos
200 milhões de brasileiros que são sócios desta empresa. “Não é correto a
Petrobras distribuir mais dividendos do que o que está estabelecido em lei. A
sobra tem que ser usada para navios e sondas”, disse.
Lula
sabe muito bem que os valores reservados para dividendos extraordinários não
podem ser usados para outra finalidade, salvo distribuição entre seus
acionistas. Está no estatuto e na Lei das S/A’s. Não há possibilidade de o
Conselho tomar decisões que possam prejudicar a empresa. Quando Lula fala que a
Petrobras tem que pensar nos brasileiros e não nos acionistas, fica parecendo
que os acionistas são apenas capitalistas, o que é uma bobagem.
Os
esquerdistas se apaixonam por esta ideia de que a Petrobras não pertence aos
acionistas e sim ao governo, mas precisa ficar claro que a Petrobras, como uma
empresa de capital aberto, pertence a seus acionistas e a eles ela deve
satisfações. O governo é UM dos acionistas – no caso, O MAIOR – e por isso
manda na Petrobras, mas isso não lhe dá o direito de negar aos demais
acionistas os dividendos que eles têm direito.
Além
disso, o ministro Haddad deve estar tendo pesadelos, porque os dividendos
extraordinários, que foram contingenciados, representariam uma grana alta para
o governo, maior acionista. Ruim para o déficit zero previsto no plano
econômico de Haddad, que evidentemente, não vai acontecer…
Em
razão deste simples ato de Lula, a Petrobras perdeu um valor extraordinário em
suas ações de fevereiro a março deste ano. Perdeu 104bi do seu valor, ou seja,
cerca 10% de seu valor de mercado.
A
Petrobras é de todos os brasileiros? Não, não é. Ela é de seus acionistas, e o
governo brasileiro – repito – é um deles – o maior. Se o governo brasileiro resolver
fazer o que Dilma fez, mantendo o preço da gasolina e do diesel em níveis
absurdamente altos em relação aos internacionais, destruirá a Petrobras
novamente.
Na
visão de Lula, o ideal seria o governo comprar todas as ações da Petrobras e
ser o único acionista controlador, como foi feito na Venezuela, baixando o
preço do diesel e da gasolina independente do mercado. A política da Venezuela
ajudou a levar aquele país à falência que já conhecemos. A PDVSA (digamos
assim, a Petrobras de lá), outrora uma empresa forte e reconhecida no mercado
mundial, decaiu e hoje usa apenas 15% de sua capacidade.
No
entanto, o discurso de Lula encontra eco, muita gente apoia. O governo, como
maior acionista, deveria exigir que a Petrobras faça o que é do interesse de
seus acionistas, mas qual o interesse do acionista? Óbvio, receber dividendos
por sua aplicação. No caso, dividendos ordinários e extraordinários, conforme
previsto no estatuto.
Oba,
eu, acionista (muito) minoritário da Petrobras, por exemplo, incentivado no Lula2,
comprei algumas ações com parte do meu FGTS, portanto receberia, além dos
dividendos normais, a divisão dos lucros excedentes, mas daí o governo federal,
como maior acionista, resolveu reter estes dividendos, previstos no estatuto e
que me fizeram investir na empresa. Não vou recebê-los.
O
mercado gritou e Lula disse que “o mercado é muito sensível”. Na verdade,
o governo está metendo a mão na Petrobras e tentando fazer o mesmo com a Vale.
A conta vai chegar. A Petrobras perdeu o sentido para investidores que visam
receber dividendos.
Na
real, o que houve na Petrobras é um espelho da irresponsabilidade do governo
Lula. Os investidores da Petrobras, do Banco do Brasil e da Caixa devem ficar
de olhos bem abertos, porque estão prestes tratados também como otários.
(*) Advogado, analista de TI e editor do site.
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