Uma
possível escalada do conflito entre Israel e Irã teria impacto quase
insignificante na balança comercial brasileira. A guerra, porém, pode trazer
outros efeitos indesejados, como o encarecimento dos combustíveis, a fuga de
investimentos e a desvalorização do real frente ao dólar. É o que apontam
especialistas ao Brasil 61.
Krisley
Mendes, pesquisadora de comércio exterior, afirma que os dois países têm
participação muito baixa nas exportações e importações brasileiras. Enquanto
Israel foi apenas o 54º principal destino das vendas ao exterior no ano
passado, o Irã foi o 28º entre 2021 e 2023. Já quando o assunto é o que o
Brasil compra das duas nações, Tel Aviv ocupou entre a 28ª e 35ª origem,
enquanto Teerã teve presença ainda mais tímida: 86º.
Segundo
a especialista, haveria, no máximo, alguns prejuízos setoriais. "12% de
todo milho produzido pelo Brasil vai para o Irã. Embora no global isso seja
pouco, para a cadeia do milho tende a ter um impacto mais
importante".
Como
o Brasil 61 já mostrou, no caso de Israel os impactos se dariam sobre alguns
municípios, como é o caso de São Félix do Xingu (PA), cujas exportações para
Israel representaram 88% de tudo o que a cidade vendeu ao exterior no ano
passado.
Petróleo
mais caro
O
economista Alessandro Azzoni lembra que o mercado de petróleo ainda não foi
afetado pela mais recente crise no Oriente Médio. Mas ele alerta que, se o
conflito se intensificar, esse cenário pode mudar rapidamente, uma vez que o
Irã é um dos maiores produtores do mundo e, na região do Golfo Pérsico,
situa-se o Estreito de Ormuz, por onde escoa mais de 30% do petróleo
global.
"Praticamente
30% do consumo do mundo sai por esse estreito, e essa área fica em área de
guerra e, automaticamente, os navios petroleiros não poderiam fazer os seus
carregamentos por causa de um risco de explosão, de incêndio ou até de
segurança dos próprios tripulantes. Aí, sim, nós teremos um impacto
significativo na economia", afirma.
No
entanto, desde o ataque iraniano a Tel Aviv no dia 13 de abril, o que se viu
foi o preço do barril Brent para junho — referência da commodity —– cair
de US$ 90,10 para US$ 86,97.
Professor
de Finanças e Controle Gerencial do Instituto Coppead da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ), Rodrigo Leite destaca que em caso de alta na cotação
do petróleo em nível internacional, o governo brasileiro pode ser
pressionado a reajustar o preço dos combustíveis.
"Grande
parte do fato de que o Brasil ainda consegue manter a inflação sob controle é
por causa da retenção do preço da gasolina. Imagina se o preço do petróleo
subir. Isso vai ter uma pressão, e o governo vai ter que reajustar o preço do
combustível. Isso impacta diretamente na inflação, porque o combustível afeta
toda a cadeia produtiva, desde o insumo até a entrega ao
consumidor".
Segundo
a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), o preço da
gasolina praticado no Brasil está com defasagem média de 16% em relação ao
internacional.
Fuga
de investimentos e dólar mais caro
Um
outro efeito indesejado que a guerra pode trazer é a fuga de investidores dos
países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, para nações ricas. "Os
países em desenvolvimento acabam sendo mais afetados financeiramente, porque o
fluxo de capital internacional passa a buscar mercados mais confiáveis, ou
menos instáveis, vamos dizer, a esse problema", pontua Krisley.
Em
um cenário em que a inflação americana continua resistente e o banco central
daquele país mantém taxas de juros atrativas para investidores, a fuga de
capital tende a ocorrer naturalmente, diz Azzoni.
Uma
das consequências da saída de investidores, afirma o professor Rodrigo Leite, é
a desvalorização do real frente ao dólar, processo que se intensificou no
último mês, em que a moeda estadunidense passou de R$ 4,97 para R$ 5,20.
"A gente observou esse aumento. Se houver realmente uma guerra mais
acentuada no Oriente Médio vai haver um aumento ainda maior no câmbio. Isso é
positivo para as exportações — e negativo para as importações", explica.
Fonte: Brasil 61
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