(*)
Percival Puggina
O
ministro Alexandre de Moraes afirmou ao Senado Federal, sorrindo como quem se
diverte no que diz: “Antes das redes sociais, éramos felizes e não sabíamos”.
É
desconhecido o motivo pelo qual coube ao ministro a tarefa de levar para o
Legislativo o anteprojeto do novo Código Civil. Já escrevi antes que o STF se
tornou uma esponja de prerrogativas e que o ministro faz o mesmo dentro do STF.
Em seu pronunciamento, ele retomou sua ideia fixa e proferiu a frase que
repercutiu sobre tudo mais que tenha dito na solenidade. Primeiro, porque o
sorriso contraria o dito; segundo, porque ninguém se dedica tanto a um combate
sem trégua se não apreciar o enfrentamento.
O
episódio me levou a avaliar meu próprio estado de espírito perante a pretensa
infelicidade de Sua Excelência. Eu era feliz antes das redes sociais. Escrevi
durante quatro décadas, como articulista de opinião, para os dois principais
jornais do Rio Grande do Sul. Eu tinha esse privilégio de pertencer ao reduzido
grupo dos influenciadores da opinião pública do meu estado. Nos últimos 10 anos
desse período, como articulista dominical de Zero Hora, fui um singular sinal
de “pluralismo” diante do esquerdismo das opiniões impressas.
Com
o advento das redes sociais, vi a luz da liberdade de opinião chegar às
multidões. Isso me tornou ainda mais feliz! A liberdade abriu suas asas sobre
nós e um pluralismo sadio iluminou as consciências para a efetiva liberdade de
escolha. O que era possibilidade de uns poucos se multiplicou em proporções
inimagináveis e vivi a graça de desfrutar da verdadeira explosão de talentos
até então ocultos pela hegemonia dos grandes e velhos meios de comunicação.
Somente
alguém insensível ou aferrado às conveniências daquela hegemonia pode se opor a
tal liberdade impondo-lhe freios e arreios. Somente a sede de poder explica o
anseio por reitorar essa liberdade entregando a verdade a seus usufrutuários
como prato feito, em serviço de delivery, sob pena de pesadas, automáticas e
irrecorríveis sanções.
Pior
do que isso. Não são apenas a nebulosa e arisca verdade e o controverso fato
que correm o risco de ser proclamados por um definitivo oráculo burocrático. Há
algo ainda pior que sai embrulhado na mesma dicção: a análise do fato, a
crítica à verdade selada e carimbada e o desagrado com a atividade do oráculo.
Não
estamos felizes perdendo a liberdade. E sabemos.
(*) Arquiteto,
empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores, colunista de
dezenas de jornais e sites no país. Membro da Academia Rio-Grandense de
Letras. Escreve, semanalmente, artigos para vários jornais do Rio Grande do
Sul, entre eles Zero Hora, além de escrever o seu próprio blog e em outros websites
de expressão nacional, a exemplo do Mídia Sem Máscara, Diário do Poder, Tribuna
da Internet. Sua coluna é reproduzida por mais de uma centena de jornais.
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