Ao
todo, 11,4 milhões de brasileiros não sabem ler e escrever. Moradores da região
Norte e de municípios pequenos também estão em maior desvantagem. Abismo que
separa esses grupos, porém, tem diminuído.O analfabetismo diminuiu no Brasil,
mas ainda afeta desproporcionalmente idosos, indígenas, negros e moradores das
regiões Norte e Nordeste, apontam dados do Censo do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) divulgados nesta sexta-feira (17/05).
Em
2022, 11,4 milhões de brasileiros de 15 anos ou mais de idade, o equivalente a
7% da população nessa faixa etária, não sabiam ler e escrever um bilhete
simples.
Trata-se
de um recuo de 2,6 pontos percentuais em relação ao último levantamento,
realizado em 2010. Em 1940, esse índice era de 56%.
As
taxas de analfabetismo ficam muito acima da média nacional entre pessoas de 65
anos ou mais (20,3%), indígenas (16,1%), pretos (10,1%) e moradores da região
Nordeste (14,2%), bem como de cidades com entre 10 mil e 20 mil habitantes
(13,6%), que são praticamente um em cada quatro municípios do Brasil.
Os
dados apontam a persistência de abismos sociais entre brancos e outros grupos
sociais, e entre moradores do Norte e Nordeste e demais regiões do país, mas
também indicam que essas diferenças, apesar de persistentes, têm diminuído.
Diferenças
raciais
Pretos
e pardos têm mais que o dobro da taxa de analfabetismo dos brancos: 10,1% e
8,8%, respectivamente, contra 4,3%. No caso dos indígenas (15%), esse índice é
quase quatro vezes maior. Já descendentes de asiáticos têm os menores índices
de iletramento: 2,5%.
Mas
a diferença entre esses grupos vem caindo. Se em 2010 ela era de 8,5; 7; e 17,4
pontos percentuais para pretos, pardos e indígenas comparados aos brancos, em
2022 caiu para em 2022 ela era de 5,8; 4,5; e 11,7.
Outro
indicador de que as desigualdades raciais têm diminuído é o fato de a diferença
entre pretos e pardos em relação a brancos aumentar conforme a idade. Entre
negros, o analfabetismo atingiu valores acima de 2% a partir da faixa etária de
25 a 34 anos de idade, enquanto para brancos isso ocorreu a partir de 35 a 44
anos. A distância entre brancos e pretos é maior para o grupo de 65 anos ou
mais (20,9 pontos percentuais).
Já
entre indígenas a taxa de analfabetismo melhorou em todas as regiões e faixas
etárias, saindo de 23,4% para 16,1%, mas seguia maior no Norte (15,3%) e
Nordeste (18%).
Coordenadora
do Censo de Povos e Comunidades Tradicionais do IBGE, Marta Antunes explica que
isso se deve, em parte, também a mudanças metodológicas que ampliaram o
“pertencimento étnico-indígena” para incluir pessoas vivendo fora de terras
indígenas.
Abismos
regionais…
A
taxa de analfabetismo segue mais alta na região Nordeste, com 14,2%, o dobro da
média nacional (7%) e mais que o triplo de Sul (3,4%) e Sudeste (3,9%). O Norte
(8,2%) também está acima da média nacional, enquanto o Centro-Oeste está abaixo
(5,1%).
Enquanto
entre as pessoas com até 44 anos a taxa de analfabetismo era menor que 2% nas
regiões Sudeste e Sul, o grupo mais novo, de 15 a 19 anos, sequer tinha
alcançado percentuais de analfabetismo abaixo de 2% nas regiões Norte (2,2%) e
Nordeste (2,4%). A taxa de analfabetismo entre idosos no Nordeste (39,4%) é
mais do que o triplo da registrada na região Sul (11,3%).
Entre
as unidades da federação, os maiores índices de analfabetismo foram medidos em
Alagoas (17,7%) e no Piauí (17,2%), e os menores, em Santa Catarina (2,7%) e no
Distrito Federal (2,8%).
Mas
os abismos também vêm diminuindo regionalmente: em 2010, as taxas de
analfabetismo eram de 21,1% no Nordeste, de 11,2% no Norte, de 7,2% no
Centro-Oeste, de 5,4% no Sudeste e de 5,1% no Sul. Se antes a melhor e a pior
região eram separadas por uma diferença de 16 pontos percentuais, ela recuou
hoje a 10,8.
O
tamanho das cidades também faz diferença na taxa de letramento, que foi acima
da média nos municípios com mais de 100 mil habitantes. Já as pequenas cidades
com entre 10 mil e 20 mil habitantes apresentaram a maior taxa média de
analfabetismo (13,6%), mais de quatro vezes a taxa dos 41 municípios com população
superior a 500 mil (3,2%).
“A
alfabetização é de responsabilidade dos municípios e está diretamente
relacionada aos recursos que os municípios têm para investir em educação. A
taxa de analfabetismo é menor nos municípios acima de 100 mil habitantes porque
eles dispõem de mais recursos e infraestrutura para educação, além de outros
fatores como localização, idade média e áreas urbanas ou rurais”, explica a
analista do IBGE Betina Fresneda.
Os
municípios com melhor desempenho estavam na região Sul ou em São Paulo e os
piores, em sua maioria, no Nordeste.
Entre
as cidades de pequeno porte com os menores índices de analfabetismo estão São
João do Oeste (0,9%) e Rio Fortuna (1,2%), em Santa Catarina; Westfália (1,1%)
e São Vendelino (1,3%), no Rio Grande do Sul; e Águas de São Pedro (1,2%), em
São Paulo. Entre as grandes cidades destacam-se as catarinenses Florianópolis
(1,4%) e Joinville (1,6%), a paranaense Curitiba (1,5%), a gaúcha Porto Alegre
(1,7%) e a paulista Santo André (2%).
Já
as grandes cidades com o pior desempenho são a alagoana Maceió (8,4%), a
pernambucana Jaboatão dos Guararapes (7,2%), a piauiense Teresina (7,1%), a
potiguar Natal (6,6%), e a baiana Feira de Santana (6,6%). A lanterna dos
pequenos municípios fica com cinco cidades do Piauí, todos acima dos 34%:
Floresta do Piauí, Aroeiras do Itaim, Massape do Piauí, Paquetá do Piauí e
Padre Marcos.
…
e geracionais
Os
grupos de idade de 15 a 19 anos e de 20 a 24 anos tem as menores taxas de
analfabetismo (1,5%) e os idosos de 65 anos ou mais, as maiores (20,3%).
“A
elevada taxa de analfabetismo entre os mais velhos é um reflexo da dívida
educacional brasileira, cuja tônica foi o atraso no investimento em educação,
tanto para escolarização das crianças, quanto para a garantia de acesso a
programas de alfabetização de jovens e adultos por uma parcela das pessoas que
não foram alfabetizadas nas idades apropriadas”, diz Fresneda.
Também
há diferenças de gênero, embora menores. Em 2022, o percentual de mulheres que
sabiam ler e escrever era de 93,5%, ante 92,5% dos homens. A vantagem é
verificada em todos os grupos etários, exceto entre os de 65 anos ou mais de
idade, com 79,9% para homens e 79,6% para as mulheres. A maior diferença foi no
grupo de 45 a 54 anos, com 2,7 pontos percentuais a mais para as mulheres.
ra/le
(ots)
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