(*) Percival Puggina
Os
recorrentes ataques ao conservadorismo com base na laicidade do Estado guardam
relação apenas periférica com temas religiosos. O esquerdismo militante hoje
oficial no país entendeu o que as pesquisas de opinião mostram: parcela
crescente da sociedade percebeu os descaminhos por onde os “progressistas” a
conduzem com muito más consequências. O argumento de que o “Estado é laico” não
pega mais. A “progressista” CNBB se encarrega disso. Por fim, os limites entre
Igreja e Estado já foram objeto de deliberação: em reta conformidade com a
sintética determinação de Jesus, o Estado é laico, sim. A Deus o que é de Deus
e a César o que é de César.
O
rufo de tambores que ouvimos são os de uma guerra nada santa, a guerra pela
completa anulação da influência do Cristianismo na cultura e nos valores morais
dos indivíduos na Civilização Ocidental. Quem se dedica ao ateísmo militante,
sabe que: 1º) é quase impossível “desconverter” as pessoas de uma fé em Deus
para uma fé no Nada Absoluto; 2º) é inaceitável pela sociedade a ideia de um
Direito moralmente isento, estéril ou que ignore os princípios e valores
compartilhados pelos membros da sociedade.
Diante
de tais dificuldades, os militantes do ateísmo cultural propuseram-se a algo
muito mais sutil – querem esterilizar a moral nos próprios indivíduos. Como?
Convencendo você, leitor, por exemplo, de que os princípios e valores que adota
são, na origem, tão religiosos (e por isso mesmo tão pessoais) quanto a própria
religião que porventura professe. Integrariam, então, aquele foro íntimo no
qual se enquadrariam a religião e suas práticas. Pronto! Segundo o princípio da
laicidade do Estado, tais princípios e valores só teriam vigência na sua vida
privada.
As
investidas contra símbolos religiosos são apenas a ponta do rabo do gato. O
felino inteiro é muito mais amplo e pretensioso. Seu intuito é laicizar as
opiniões e, principalmente, os critérios de juízo e decisão. Portanto, toda a
conversa fiada sobre supostas infrações à devida separação entre o Estado e a
Igreja precisa ser entendida como aquilo que de fato é: atitude de quem deseja
alijar as opiniões majoritárias porque adotou o Estado, e só o Estado, por
fonte de todo bem, baliza perfeita para o certo e o errado e vertente dos
valores que devem conduzir a vida social. Convenhamos, é uma tese. Mas –
caramba! – qual é, precisamente, a moral do Estado? Na prática, a gente
conhece… Na teoria, é a que a sociedade majoritariamente determine, excluída a
que moldou a civilização ocidental. Ou seja, aquela que deriva do Cristianismo,
proclamada inadmissível perante a laicidade do Estado, blá, blá, blá.
Tal
linha de raciocínio não resiste ao menor safanão. Precisa de reforços e apoios
propiciados pelo relativismo moral. Cabe a esse filhote da pós-modernidade
mostrar que a moral majoritária é apenas uma das tantas que andam por aí
através do tempo, do espaço e da miséria humana. Saem às ruas, então,
representações desse moderno mundo novo – Parada Gay, Marcha das Vadias, Marcha
pela Maconha, ideologia de gênero para crianças. Escandalosos? Escandalosos
perante qual senso moral? O totalitarismo pós muro de Berlim, tipo Foro de São
Paulo, precisa do ateísmo cultural e do relativismo para derrogar o
cristianismo cultural e o Direito Natural, resíduos empobrecidos do
Cristianismo.
Nada
contra a liberdade, mas tudo contra o deliberado desvirtuamento moral da
sociedade pelos meios institucionais. Destruídos os valores que as fundamentam,
a liberdade, a democracia e a própria civilização acabam porque que não se
sustentam numa sociedade sem princípios, sem valores e sem vergonha.
Artigo
publicado em 11 de agosto de 2013, com pequenas atualizações.
(*)
Arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores,
colunista de dezenas de jornais e sites no país. Membro da Academia
Rio-Grandense de Letras. Escreve, semanalmente, artigos para vários jornais do
Rio Grande do Sul, entre eles Zero Hora, além de escrever o seu próprio blog e
em outros websites de expressão nacional, a exemplo do Mídia Sem Máscara,
Diário do Poder, Tribuna da Internet. Sua coluna é reproduzida por mais de uma
centena de jornais.
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