RAFAH,
Faixa de Gaza (Reuters) - Atingidos pela chuva e com medo das bombas
israelenses, civis palestinos saíam das tendas nos acampamentos encharcados ou
das casas de família em Rafah nesta segunda-feira para buscar refúgio em outras
áreas da Faixa de Gaza, em meio à expectativa de uma nova ofensiva do Exército
israelense. (Reportagem de Hatem Khaled e
Mohammed Salem em Gaza, reportagem adicional de Nidal al-Mughrabi e Henriette
Chacar)
Pessoas
carregavam crianças e pertences em carroças puxadas por burros, entravam em
carros ou simplesmente caminhavam a pé. O teto de um automóvel estava repleto
de colchões. Outro tinha uma cadeira de rodas guardada no porta-malas.
A
pergunta na mente das pessoas era para onde ir. Muitas já haviam se mudado pelo
menos uma vez durante os sete meses de ataques israelenses a Gaza. Grande parte
do enclave costeiro foi transformado em um terreno baldio de prédios
bombardeados.
"A
ocupação israelense disse às pessoas para irem para Rafah, que é uma área
segura. Hoje, eles estão nos dizendo para sairmos de Rafah. Para onde as
pessoas irão?", disse um homem, Abu Ahmed.
Ahmed
dava a entrevista em um campo de deslocados transformado em um conjunto de
poças e lama pelas chuvas da noite anterior, agravando a miséria.
Israel
ordenou que os palestinos se retirassem de áreas de Rafah na madrugada desta
segunda-feira, aparentemente preparando-se para um ataque contra militantes do
Hamas que se mantêm na cidade de Gaza, ao sul.
Mais
de um milhão de pessoas desalojadas pelo conflito haviam buscado abrigo em
Rafah. O Exército israelense disse a elas que se mudem para o que chamaram de
"zona humanitária expandida" a 20 km de distância.
Enquanto
as pessoas começavam a fazer as malas e a se mudar, já foram ouvidas explosões
de ataques aéreos no leste de Rafah, com fumaça e poeira revelando um cenário
assustador para a retirada forçada.
"Estamos acordados desde as duas da manhã por causa do bombardeio, e acordamos de manhã com uma chuva torrencial, nos afogamos na chuva, nossas roupas e itens também -- estamos nas ruas", disse Aminah Adwan, moradora do acampamento.
"Também
acordamos com notícias muito piores, o chamado para se retirar de Rafah. Vai
ocorrer o maior genocídio, vai ocorrer a maior catástrofe Rafah", disse
ela.
Adwan
fez um apelo aos países árabes que providenciem um cessar-fogo para salvar os
civis.
Mais
de 34.700 palestinos foram mortos e pelo menos 78.000 feridos, segundo o
Ministério da Saúde de Gaza, na investida de Israel que começou após um ataque
transfronteiriço do Hamas em 7 de outubro no qual 1.200 pessoas foram mortas e
252 feitas reféns, de acordo com as contagens israelenses.
Israel
afirma que Rafah abriga milhares de combatentes do Hamas e, possivelmente,
dezenas de reféns, e que a captura da cidade é fundamental para derrotar o
Hamas e libertar os que ainda são mantidos como reféns.
"DEUS
É NOSSO ÚNICO APOIO"
No
campo, mulheres penduravam roupas e cobertores para secar, enquanto crianças
cuidavam de irmãos mais novos e homens cavavam trincheiras para canalizar a
água da chuva.
Maher
al-Jamal disse que havia fugido de Al Mughraqa, cidade próxima à Cidade de
Gaza, no norte do enclave, para Nuseirat, no centro, e depois para Rafah.
"Agora
eles ameaçam Rafah, vão cometer massacres aqui em Rafah, será um genocídio.
Sinceramente, não sabemos para onde ir. Deus é o nosso único apoio", disse
ele.
As
pessoas que saíam de suas casas e tendas nos acampamentos de deslocados tinham
como áreas mais visadas o principal hospital de Rafah e a passagem de Rafah --
única janela para o mundo para a maioria da população de Gaza -- assim como a
Kerem Shalom, administrada por Israel. As duas passagens são vitais para o
fluxo de mercadorias para o enclave.
Em
uma rua principal de Rafah, uma mulher em fuga disse ter recebido ligações
telefônicas israelenses a noite toda, avisando que se retirasse.
"As
pessoas estão todas mortas, o que eles querem de nós?", disse Rahmah
Naser, agitando os braços em sinal de angústia.
"Eles
mataram nossos filhos. Meu sobrinho (foi encontrado) em pedaços, sem cabeça ou
pernas. Que vergonha para eles. Essas pessoas já estão fartas, para onde devem
ir?"
Mohammad
al-Najjar, um estagiário de Direito de 23 anos que vive com a família no oeste
de Rafah, disse que as pessoas foram tomadas pelo medo e pela ansiedade após a
ordem de retirada israelense.
"Nenhuma
área é segura", disse à Reuters por telefone.
Segundo
ele, as poucas áreas relativamente seguras para as quais os palestinos poderiam
fugir já estão lotadas de barracas e milhares de deslocados.
"Tudo
o que resta em Gaza é a morte", afirmou. "Eu gostaria de poder apagar
esses últimos sete meses de minha memória."
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