(*)
Percival Puginna
“Todos
se recordam que bastava um cabo e um soldado para fechar o STF. O cabo, o
soldado e o coronel estão todos presos e o STF aberto e funcionando”.
A
lacradora frase acima, que parece recortada de um diálogo de mesa de bar onde
populares de posições antagônicas trocam farpas sobre a política nacional
nestes tempos bicudos, foi proferida pelo ministro Alexandre de Moraes, do
Supremo Tribunal Federal brasileiro, num evento sobre Inteligência Artificial.
O
ministro foi buscar uma frase, dita há seis anos pelo deputado Eduardo
Bolsonaro, para “se dar bem” com uma sentença lacradora. Impossível não
perceber nas manifestações e ações dele e de alguns colegas o desejo incontido
de calçar chuteiras e entrar dando caneladas no jogo político.
As
palavras do doutor Sebastião Coelho ao falar em defesa de seu cliente no
primeiro julgamento dos réus do dia 8 de janeiro calaram fundo no colegiado que
o ouviu (embora a palavra correta para expressar o sentimento de dezenas de
milhões de brasileiros fosse “indignação”). O ministro e seus pares sabem que
os sabonetes dos grandes canais de comunicação não lavam a imagem que
construíram. Não é por obra das mal faladas redes sociais que o Brasil tem os
corruptos mais inocentes do mundo e que a política nacional ficou do jeito que
ficou. Tampouco é por obra das redes sociais sob ameaça de silêncio que o
Estado se cobre de inexplicáveis sigilos. Assumiram um objetivo político como
dever funcional, deram-se as mãos na roda da colegialidade e passaram a saltar
olimpicamente sobre os limites e sinais de alerta que se foram acendendo nos
caminhos do bom Direito.
Com
a política entrando no recinto do tribunal por uma porta e a justiça saindo
pela outra, cumpriu-se em nosso país o conhecido vaticínio do historiador e
estadista francês François Guizot. Obviamente, quando a política não é feita
por representantes eleitos e quando se pretende dirigir a informação recebida e
produzida pela sociedade, extingue-se o método pelo qual é possível captar, no
seu seio, a razão pública! Na opinião de Guizot, esta “é a única que deve
governar”. Tenho certeza de que onze dos onze ministros sabem disso.
Até
o poder instalado em Cuba há 65 anos se diz democrático porque lá se realizam
eleições, mas a ninguém é dado se contrapor àqueles que realmente exercem o
poder. O bem estar social, o equilíbrio, o sentimento de viver em liberdade são
lesados quando há um poder que fala sozinho, que se permite “lacrar” uma pauta
política qualquer e que quando formula uma frase “matadora” ou desfia
narrativas e argumentos num ato público, o faz “ab autoritate”, sem
contraponto.
O
exercício do poder de falar sozinho sem ser contestado ou de jamais ouvir
perguntas inconvenientes enquanto tenta estabelecer um lockdown das opiniões, é
o antônimo do poder político legitimamente exercido numa democracia.
(*)
Arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores,
colunista de dezenas de jornais e sites no país. Membro da Academia
Rio-Grandense de Letras. Escreve, semanalmente, artigos para vários jornais do
Rio Grande do Sul, entre eles Zero Hora, além de escrever o seu próprio blog e
em outros websites de expressão nacional, a exemplo do Mídia Sem Máscara, Diário
do Poder, Tribuna da Internet. Sua coluna é reproduzida por mais de uma centena
de jornais.
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