Neste
dia 5 de junho, quando é celebrado o Dia Mundial do Meio Ambiente, a Bahia tem
pouco a comemorar. O desmatamento desenfreado coloca o estado na segunda
posição entre os que desmataram com maior velocidade no Brasil em 2023. Só no
ano passado, 796,2 hectares de vegetação foram suprimidos diariamente na Bahia
- área equivalente a 737 campos de futebol.
O
avanço de atividades extrativistas sobre a área conhecida como MATOPIBA, que
engloba os estados Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, está por trás do aumento
do desmatamento. A Bahia, que teve 290.606 hectares desmatados no ano passado,
só fica atrás do Maranhão, com 331.225 hectares. Os dados fazem parte do
Relatório Anual do Desmatamento, divulgado pelo MapBiomas no último dia 28.
Em
relação a 2022, a área desmatada na Bahia cresceu 27%. O estado subiu duas
posições no ranking nacional, chegando ao segundo lugar no ano passado. O
estado tem a quinta maior dimensão territorial do país. O bioma Cerrado foi o
mais afetado, representando 67% de toda a área desmatada na Bahia. Em seguida,
aparece a Caatinga (32,2%) e a Mata Atlântica (1%).
“O
MATOPIBA concentrou 47% de toda perda de vegetação nativa do país, com mais de
858 mil hectares desmatados. A área é maior do que a desmatada em toda a
Amazônia no ano passado, que foi de 454 mil hectares. O MATOPIBA é a principal
fronteira agrícola do país, mas é preciso conciliar a produção com a
conservação do Cerrado”, analisa a gestora ambiental do MapBiomas Roberta
Rocha. O bioma é formado por árvores de tronco grosso e tortuoso,
gramíneas e arbustos.
A
supressão da vegetação para dar lugar a pastos e monoculturas no interior do
estado faz com que os municípios baianos liderem o ranking do desmatamento. Das
dez cidades com as maiores áreas desmatadas entre 2019 e 2023, quatro são da
Bahia: São Desidério, Jaborandi, Cocos e Barreiras. A primeira é, inclusive, a
cidade que mais registrou desmatamentos no Brasil no ano passado.
Para
Yuri Salmona, diretor-executivo do Instituto Cerrados, o bioma ainda carece de
legislações ambientais. “O Cerrado é um bioma extremamente desprotegido.
Enquanto na Amazônia a área protegida dentro de uma propriedade rural deve ser
de 80%, no Cerrado, apenas 20% não pode ser desmatado”, analisa.
Enquanto
a tendência no ano passado foi de redução de 62% no desmatamento na Amazônia, o
Cerrado registrou aumento de 67%. “A vegetação nativa do Cerrado presta um
serviço ecossistêmico que é do interesse de todo mundo. Ela ajuda a regular o
clima, infiltra água no subsolo para que tenha água nos rios durante o período
de seca e equilibra a fauna e flora”, explica Yuri Salmona.
A
expansão da monocultura, especialmente de soja, no oeste baiano, se
intensificou a partir da década de 1980, com o apoio da Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (Embrapa). As tecnologias de adubação e PH do solo
despertaram os olhos de médios e grandes produtores.
Os
interesses são acompanhados de incentivos do estado. A Bahia, segundo o
MapBiomas, é o estado com a maior proporção de área desmatada com autorizações
federais ou estaduais (51,8%). Na esfera estadual, o Instituto do Meio Ambiente
e Recursos Hídricos (Inema) é responsável por autorizar a supressão de
vegetação.
O
órgão foi procurado, através da sua assessoria de imprensa, sobre os critérios
utilizados para a concessão, mas não respondeu ao contato da reportagem. A
Secretaria do Meio Ambiente (Sema) também não se manifestou até a publicação
desta matéria.
Fonte: Jornal Correio 24 horas
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