O calor intenso na Arábia Saudita durante a grande peregrinação muçulmana do hajj deixou um custo pesado em vidas humanas. Ao todo, pelo menos 922 fiéis morreram no evento que aconteceu na semana passada na Arábia Saudita. Nesta quarta-feira (19), parentes de desaparecidos percorriam os hospitais temendo o pior. O governo local não confirma nenhuma morte ligada às altas temperaturas. As informações são de Joseph Clement, correspondente da RFI em Riad, com agências.
“Todas
as mortes (recém-anunciadas) são devidas ao calor”, disse um diplomata do
Egito, nesta quarta, falando em 600 cidadãos egípcios entre as vítimas.
Anteriormente, outros diplomatas haviam relatado que pelo menos 323 egípcios
estavam entre os mortos no hajj, mostrando que os números ainda estão sendo
atualizados e são difíceis de confirmar.
Além
das mortes egípcias, 60 óbitos foram registrados entre jordanianos, ainda
segundo diplomatas árabes. Outras mortes também foram confirmadas entre
cidadãos da Indonésia, Irã, Senegal, Tunísia e Curdistão iraquiano. Um
diplomata asiático relatou “68 mortes” entre peregrinos indianos.
Pelo
menos 550 corpos foram transportados para o necrotério de Al-Muaisem, um dos
maiores de Meca.
No
domingo, as autoridades sauditas afirmaram que haviam atendido mais de 2.000
peregrinos que sofriam de stress térmico, sem fornecer informações sobre as
mortes.
Oficialmente,
de acordo com o governo saudita, não há mortos ligadas às altas temperaturas.
As autoridades admitem apenas que milhares de peregrinos se sentiram mal por
causa do calor extremo. Na mídia oficial, o ministro da Saúde felicita o
bom atendimento dado aos que sentiram as consequências das temperaturas
elevadas.
O hajj aconteceu
de sexta-feira (14) a domingo (16), quando os termômetros atingiram 51,8 graus
na cidade sagrada de Meca.
Peregrinação
paralela
Todos
os anos, dezenas de milhares de peregrinos tentam realizar o hajj através de
meios irregulares porque não podem pagar as autorizações oficiais, muitas vezes
caras.
É
o caso de Mabrouka bint Salem Shoushana, uma tunisiana que está
desaparecida desde sábado. Como ela não estava registrada e não tinha
autorização oficial para o hajj, não conseguiu acessar as instalações
climatizadas que permitem aos peregrinos se refrescarem após horas de orações
ao ar livre, informou o marido da septuagenária, Mohammed, à AFP. "Ela
estava com tanto calor e não tinha onde dormir. Procurei ela em todos os
hospitais. E até agora não sei nada sobre ela", lamenta.
Mohamed
não é o único sem ter notícias. As redes sociais foram inundadas com fotos de
pessoas desaparecidas e pedidos de informações.
As
imagens mostram peregrinos deitados no sol, com um pano branco para cobrir a
cabeça. Eles haviam sido orientados a utilizar sombrinhas e a evitarem os
horários de sol forte. As autoridades sauditas distribuíram água e gelo, mas isso
não foi suficiente.
Como
o corpo reage ao calor extremo?
O
professor Bruno Megarbane, chefe da unidade de terapia intensiva do hospital
Lariboisière, em Paris, explica os efeitos de um calor dessa intensidade no
corpo humano. "O homem deve manter a sua temperatura constante, em torno
de 37 graus. Quando a temperatura externa aumenta de maneira muito intensa, o
corpo humano deve se adaptar para perder temperatura, a fim de manter a sua
temperatura interna constante", explica. Porém, "em algumas situações,
essa adaptação não acontece e a temperatura do corpo aumenta, e pode passar dos
40 graus, causando um pico de calor", continua o especialista. "Se a
temperatura interna passar dos 40 graus, pode haver consequências para o
cérebro, delírios, crises de epilepsia e até coma. Se a temperatura continuar a
aumentar, o paciente pode sofrer perturbações cardiovasculares, num contexto de
desidratação que leva à morte", conclui o doutor Megarbane.
Um
dos cinco pilares do Islã, o Hajj deve ser realizado pelo menos uma vez na vida de
um muçulmano praticante que tenha condições financeiras. A peregrinação
consiste em uma série de ritos religiosos realizados durante vários dias na
cidade sagrada e em seus arredores.
As
datas da peregrinação são determinadas de acordo com o calendário muçulmano,
com base nos ciclos lunares, e os rituais têm ocorrido nos últimos anos sob
temperaturas escaldantes. A situação tem piorado com o aquecimento global. Um
estudo saudita publicado em maio alertou que as temperaturas nos locais onde os
rituais acontecem estão aumentando 0,4 graus Celsius a cada dez anos, como
resultado das mudanças climáticas.
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