(*) JR Guzzo
O
presidente Joe Biden viveu três vidas diferentes nas três últimas semanas. Até
o final de junho, era um colosso político, moral e intelectual a quem a
humanidade devia agradecer por estar salvando os Estados Unidos e o resto da
civilização de Donald Trump, seu adversário nas próximas eleições
presidenciais. Era uma das mais especulares imposturas jamais vistas na vida
política americana: Biden, há pelo menos dois anos, vinha deixando claro na
frente de todo o mundo, que não estava mais com os circuitos mentais em ordem.
Mas era furiosamente proibido dizer isso.
sobre as coisas cada vez mais estranhas
que Biden falava ou fazia, era excomungada na hora pela esquerda mundial, pelos
bilionários com “pegada” social e pela imprensa como um todo. O candidato de
sua escolha estava em perfeito estado de conservação. Dizer o contrário era
safadeza da direita, discurso do ódio, fake news, fascismo, racismo, mentira,
uma armação sórdida de Trump para destruir a democracia e levar o mundo de
volta a Era das Cavernas.
De
candidato perfeito, que não podia receber nenhum tipo de crítica, Biden passou
imediatamente a ser um velho desgraçado, incompetente e responsável direto pelo
extermínio da democracia mundial se não renunciasse
Isso
era obviamente falso – e como a maioria das falsificações, só durou até a
verdade ser apresentada a todos da maneira mais brutal. No debate que teve no
final de junho com Trump, o candidato do Partido Democrata teve um desempenho
tão horrível, mas tão flagrantemente horrível, que todo o sistema empenhado em
mantê-lo na presidência entrou em pânico aberto. Ele vai perder,
horrorizaram-se os militantes da Diversidade, Equidade e Inclusão. Tem o dever
de renunciar à candidatura.
Mas
ele não era o homem ideal, até a véspera? Era, mas a gente estava mentindo, e
como não deu mais para sustentar a mentira, vamos largar o ex-herói na chuva e
partir para outra. Biden entrou então na sua segunda vida: de candidato
perfeito, que não podia receber nenhum tipo de crítica, passou imediatamente a
ser um velho desgraçado, incompetente e responsável direto pelo extermínio da
democracia mundial se não renunciasse à candidatura.
Depois
de três semanas de pressão, traição abjeta e hostilidade aberta por parte da
elite política, dos jornalistas, das mesas redondas e do resto do picadeiro,
Biden enfim teve de renunciar. O cadáver ambulante que era até aquele momento
para as forças “progressistas” voltou a ser um dos mais notáveis presidentes da
história dos Estados Unidos – chegaram a dizer que ele é um novo George
Washington.
É
a vida número 3, em que todo mundo vai fazer de conta que Biden foi um patriota
mais interessado no futuro do país que em sua própria carreira – e de novo vai
ser uma mentira maciça, porque agora ninguém está mais ligando para ele e sim
para a vice-presidente Kamala Harris, a preferida da ala mais radical do
antitrumpismo. Já estão até querendo que ele não apenas renuncie a candidatura,
como já renunciou, mas que renuncie também à própria presidência, para a vice
fazer campanha sentada na Casa Branca.
O
drama americano vale por um curso de pós-graduação sobre o fanatismo político
do universo que se declara “antifascista”, não admite que nenhum movimento de
direita possa ganhar uma eleição e quer impor o seu estilo de vida aos 8
bilhões de habitantes do mundo. Donald Trump não é um flagelo enviado à Terra
por Deus para punir o homem por seus pecados.
Como
muitos outros pelo mundo afora, Trump só existe porque o extremismo de esquerda
criou todas as condições para que exista. O fato é que a direita representa
hoje uma parte essencial da população – e essa parte tem o tamanho exato da sua
votação em eleições livres. Vai ser duro apagar essa realidade.
Fonte: Gazeta
do Povo
(*) José Roberto Guzzo, mais conhecido como J.R. Guzzo, é um jornalista brasileiro, colunista dos jornais O Estado de São Paulo, Gazeta do Povo e da Revista Oeste, publicação da qual integra também o conselho editorial.
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