(*) Valter Bernat
Eu,
como muitos outros na minha faixa etária (70+) já estivemos gripados, roucos,
mas, independentemente dos remédios que tomamos, não me lembro de ter sido
flagrado por estar agindo de forma hesitante e desconexa. Sonolento sim,
algumas vezes, mas não vejo como isso pode ser usado para justificar o péssimo
desempenho de Biden no debate com Trump.
Justificar
o desempenho com uma forte gripe não cola. Dizer que “foi uma noite ruim que
não pode comprometer o que ele fez nos últimos anos”, idem.
A
inflação nos EUA está em alta. As pesquisas já apontavam Trump à frente muito
antes do debate. As escorregadas do presidente nas aparições oficiais foram
inúmeras. Mãos esticadas para cumprimento foram ignoradas, além disso perguntas
sobre “quem ele(a) é?“, em plena solenidade protocolar, mostram que ele
“já deu”!
Biden
disse: “Não tive a minha melhor noite, mas o fato é que, você sabe, não
fui muito inteligente”, falando numa angariação de fundos de sua campanha,
sem a ajuda de um teleprompter, muito antes do fatídico debate.
Etarismo?
Etarismo
é o nome que se dá ao preconceito contra pessoas com base apenas na sua idade.
O
etarismo se mostra presente quando as pessoas são julgadas só pela idade e não
pela sua capacidade mental e física. Temos muitos jovens inexperientes que
fazem fortunas, mas temos idosos que escrevem livros que se tornam clássicos ou
então jornalistas com anos de trabalho que escrevem textos lúcidos e
esclarecedores e atores maravilhosos mesmo durante sua idade mais avançada.
A
questão é que ninguém deve considerar etarismo a fixação de uma idade mínima
para disputar a Presidência, seja em que país for.
Aqui
no Brasil, a discussão da idade máxima para o cargo de presidente da República
é tabu no Congresso porque, forçosamente, remete à Lula, que disputaria a
reeleição com 81 anos e que poderia terminar um eventual próximo mandato com 85
anos.
E
aí é melhor empurrar isso para baixo do tapete, porque, para os petistas, Lula
está acima do bem e do mal. E acima de todas as limitações da idade que afetam
todos os mortais. Menos a ele!
Uma
pessoa com 80 anos, ou próximo a isso, queira ou não, estando bem ou não, já
não consegue performar como outros de idade mais baixa. Não é etarismo, é fato!
Posso afirmar isso com conhecimento de causa. O passar dos anos pesa, e, para
quem tem 80 anos, pesa muito mais.
Fico
imaginando Lula em 2026 debatendo com candidatos bem mais novos que ele. Seria
como Biden no debate: perdido e apagado? A idade pesa, e o descanso e a alegria
de viver, curtindo netos e bisnetos, chegam.
Já
tendo vivido muitos anos, aprendi a evitar rotular as pessoas pela aparência.
Devemos julgá-las pelos seus atos e falas.
Que
a idade traz certas limitações e estas aumentam com a passagem do tempo, é
fato, mas não podemos usar este argumento para convencer as pessoas de que
“está tudo bem”.
Sim,
é muito importante estabelecermos em nossa Constituição uma idade máxima para
candidatura à Presidência. Não é etarismo. É democracia, é a necessidade de
oxigenarmos a alternância de poder, o que torna a democracia mais atraente.
Precisamos urgentemente de uma nova Assembleia Constituinte. A CF de 1988 – a Constituição Cidadã – já ficou pra trás. O mundo mudou demais de 1988 pra cá.
(*)
Advogado, analista de TI e editor do site O Boletim
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