Se os pães de forma fossem bebidas, os produtos de cinco marcas seriam considerados alcoólicos – pois têm teor de álcool superior a 0,5%. É o que aponta uma pesquisa da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste). Segundo especialistas, o consumo de pães com concentração de álcool que ultrapassa os limites ideais para o consumo pode agravar comorbidades e, ainda, prejudicar o desenvolvimento de fetos.
Confira
as cinco marcas levantadas e o teor alcoólico de cada uma:
Visconti (teor alcoólico de 3,37%), Bauducco (1,17%), Wickbold 5 Zeros (0,89%),
Wickbold Sem Glúten (0,66%), Wick Leve (0,52%), e Panco (0,51%).
As
marcas que estão dentro do ideal são: Seven Boys (0,50%),
Wickbold (0,35%), Plusvita (0,16%) E Pullman (0,05%)
O
médico nutrólogo, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran),
Durval Ribas Filho, de São Paulo (SP), afirma que a ingestão de pães com
elevado teor alcoólico pode agravar o quadro de pessoas com problemas hepáticos,
por exemplo. Ele ainda destaca a relevância da pesquisa para a saúde da
população.
“Existem
pessoas que têm problemas hepáticos, problemas do fígado, principalmente a
chamada esteato hepatite ou esteatose hepática, e para aqueles portadores,
evidentemente, de um grau mais avançado, que seria cirrose, certamente seria
altamente prejudicial a ingestão desses pães que têm um teor de álcool maior do
que se deve. Portanto, é fundamental que essa pesquisa possa atingir a
população, pois é extremamente importante em termos de saúde pública”,
diz.
Além
disso, a ingestão de álcool pode piorar sintomas gastrointestinais e agravar
quadros de ansiedade e depressão a longo prazo. A nutricionista Pollana Campos,
de Brasília (DF), explica de que forma o etanol age no organismo e impacta a
saúde dessas pessoas.
“Ele
pode também piorar o quadro de acumulo de gordura. Além disso, algumas
doenças gastrointestinais, como, por exemplo, úlcera, gastrite, o álcool ele é
muito irritante da mucosa gástrica e isso pode favorecer ainda mais o processo
de inflamação. O refluxo também é uma doença em que a pessoa não pode consumir
álcool, porque ele piora os sintomas desses refluxos. Além das pessoas também
com alguns distúrbios psiquiátricos, como depressão, porque o álcool é um depressor
do sistema nervoso central, que pode piorar os sintomas. Pessoas com ansiedade
também podem ter aumento dos sintomas a longo prazo”, destaca Pollana.
A
nutricionista Fernanda Larralde, da BioMundo, de São Paulo (SP), pondera que as
pessoas em processo de tratamento em relação a transtornos alcoólicos devem se
atentar às marcas de pães mencionadas no levantamento, já que o seu
consumo pode prejudicar a evolução do desmame do vício.
“As
pessoas que estão se recuperando de transtornos alcoólicos não deveriam,
em hipótese alguma, fazer o consumo do álcool; e de repente, por exemplo,
se consome um pão desse, porque quando que a gente vai associar um pão à
produção de bebida alcoólica? Até porque esse conhecimento acaba sendo mais
restrito e o que se espera das indústrias é que haja uma entrega de produtos
idôneos, que não comprometam a saúde de ninguém”, expõe Fernanda.
Gestantes
e lactantes
As
gestantes e lactantes também devem se atentar às marcas de pães que consomem,
tendo em vista que o consumo de álcool não é recomendado para essa parcela da
população. O texto da pesquisa menciona que, mesmo que em doses pequenas, o
consumo recorrente de álcool pode impactar o aprendizado e ocasionar problemas
de memória.
“A
síndrome alcoólica fetal (SAF), ocasionada pela ingestão de álcool, é
caracterizada por anormalidades no neurodesenvolvimento do sistema nervoso
central, retardo de crescimento e problemas de saúde mental, como depressão e
ansiedade”, diz um trecho da pesquisa.
A
nutricionista Pollana Campos afirma que a ingestão de álcool por gestantes
e lactantes pode afetar o desenvolvimento neurológico do
feto, interferir no desenvolvimento do sistema nervoso do bebê e, ainda,
levar a malformações congênitas. “As crianças expostas ao álcool durante a
gestação podem ter problemas comportamentais como hiperatividade, dificuldade
de atenção e problemas de socialização”, salienta Pollana.
Por
que tem álcool no pão?
No
processo de produção dos pães há dois momentos em que o etanol está presente.
Primeiro, ocorre a produção natural de etanol no processo de fermentação. Após
a adição de ingredientes como sal, açúcar e fermento, este último converte os
açúcares em dióxido de carbono e álcool – nessa etapa, o etanol deve evaporar
quando o pão é assado e restar pouca quantidade no alimento.
Posteriormente,
o álcool é adicionado para diluir os conservantes que irão evitar que o pão
mofe – o que ocorre após o alimento passar pelo forno.
“É
um método chamado de aspersão. Assim que esse pão sai do forno, é borrifado
sobre ele um tipo de conservante, autorizado por lei, mas esse conservante é
diluído em álcool. Então, o que se observou nesta pesquisa da Protesta é que
esse álcool não foi evaporado”, explica a nutricionista Fernanda
Larralde.
Segundo
o levantamento, a contaminação dos pães com o álcool pode ocorrer quando a
indústria acrescenta conservantes nos produtos. “[...] se houver um abuso na
quantidade do antimofo ou em sua diluição, isso (a evaporação do etanol) pode
não ocorrer e ocasionar em um pão com um teor de etanol muito elevado”, diz o
texto da pesquisa.
Como identificar
alimentos bons para a saúde?
Segundo
os especialistas, a população deve se atentar aos ingredientes listados nos
alimentos. A nutricionista Fernanda Larralde explica que quanto mais
ingredientes familiares, por exemplo, sal, trigo, melhor é o alimento. “Quanto
mais simples uma lista de ingredientes, muito mais seguro vai ser o consumo desse
alimento.”
Em
contrapartida, se o número de insumos químicos for grande, maior é a
probabilidade de desenvolver doenças a longo prazo, como câncer, segundo a
especialista.
“Quanto
maior a lista química presente nesse alimento, muito maior vai ser a presença
desses produtos que são tóxicos para o nosso organismo, tóxico para o
intestino, para o fígado. E isso pode levar a médio e longo prazo ao
desenvolvimento de muitas doenças, como o câncer, por exemplo”, ressalta
Fernanda Larralde.
Teste
do bafômetro
Algumas
das marcas de pães mencionadas no levantamento também poderiam acarretar na
reprovação no teste do bafômetro – a depender da quantidade ingerida pelo
consumidor. Segundo a pesquisa, duas fatias do pão de forma da marca
Visconti teriam o equivalente a 1,69 g de álcool; da Bauducco, a 0,59 g; e da
Wickbold 5 Zeros, a 0,45 g.
Conforme
os índices do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), a quantidade segura
de álcool no organismo seria abaixo de 3,3 gramas (g) de álcool. Ou seja, ao
consumir 2 fatias de alguns produtos poderia acusar ingestão de álcool no
bafômetro.
Inclusive,
a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) abriu um processo para
responsabilizar as marcas de pães com teor alcoólico.
Fonte: Brasil 61
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