(*)
Percival Puginna
As
perguntas que farei perturbam meu sono e são comuns ao cotidiano de milhões de
cidadãos brasileiros. Como não ser assim, se a nação se dilacera e degenera, o
sectarismo se empodera, a burrice impera, o crime prospera, a política se
adultera, a Têmis se torna megera e os omissos somem ou dormem? Só eu acordo
nas madrugadas pensando nesses motivos pelos quais 41% dos brasileiros (1),
entre os quais 55% dos nossos jovens (2), só não desistem do Brasil por não
terem condições financeiras de arrancar as folhas de um passado sem esperança e
redigir seu futuro noutro lugar?
Os
responsáveis por isso conseguem dormir? A nação se inquieta pela apatia de
representantes omissos que tanto lhe custam. Como é insignificante, aliás, a
relação custo/benefício, somados o mal que fazem e o bem que deixam de fazer!
Como conciliam o sono e a culpa? A que destroços, a cupidez e a conveniência
pessoal em condomínio com a injustiça reduziram tais almas? Elas simplesmente
somem dos plenários quando, da tribuna, algum de seus pares lhes cobra pela
apatia e a destruição das instituições!
No
entanto, a realidade que vemos é sinistra. O Estado se agiganta perante a
sociedade a que deveria servir. A juventude recebe uma educação de qualidade
vexatória, últimos lugares nos rankings internacionais do PISA e da OCDE; a
cultura nacional está degradada e o próprio QI dos brasileiros, por falta de
estímulos, pode estar em regressão. Há décadas, os discípulos de Paulo Freire
controlam e tornam cada vez mais sectária a educação nacional, transformando-a
numa fábrica de ignorantes miseráveis, com as bênçãos do Estado. Quem escapa
dessa máquina de moer cérebros prospera e vira réu no tribunal da desigualdade!
Resultado:
chegamos a setenta e cinco milhões de seres humanos dependendo da assistência social
do Estado. Do Estado? Sim, sim, o ente causador de todo esse mal aceita sem
qualquer constrangimento posar de benfeitor. A pergunta que poucos fazem é: “Se
o culpado não for o Estado, quem haveria de ser?”. Certamente a culpa não pode
ser imputada a quem decide investir, correr riscos, gerar empregos, pagar
salários e ser extorquido com impostos, taxas, contribuições. Essa pergunta
derruba século e meio de mentiras sobre os sucessos do socialismo.
Eu
quero o meu país de volta! Eu o vi antes, imperfeito, mas humano. Não era uma
Suíça, mas era um país amável. O Brasil tinha boa reputação. Hoje é um país de
má fama. Eu o quero moderno, mas com aqueles bens do espírito e naquele ânimo
nacional que se comoveu e se moveu solidário quando as águas cobriram o abismo
no Rio Grande do Sul. Eu quero de volta a energia inusitada que, durante oito
anos, saudoso do “meu Brasil brasileiro, mulato inzoneiro”, me levou para cima
dos carros de som a verberar corruptos, defender a liberdade e resistir à
perdição de uma nação.
Impossível
não evocar os versos finais de Navio Negreiro, esbravejados por Castro Alves,
se vejo avançar o poder da Casa Grande, a se refestelar em folguedos e
extravagâncias, enquanto garroteia direitos de cidadãos outrora livres.
https://www.cnnbrasil.com.br/politica/polarizacao-politica-41-dos-brasileiros-mudariam-de-pais-se-pudessem-diz-quaest/
https://g1.globo.com/economia/midia-e-marketing/noticia/2022/08/17/55percent-dos-jovens-brasileiros-deixariam-o-pais-se-pudessem-diz-pesquisa.ghtml
(*)
Arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores,
colunista de dezenas de jornais e sites no país. Membro da Academia
Rio-Grandense de Letras. Escreve, semanalmente, artigos para vários jornais do
Rio Grande do Sul, entre eles Zero Hora, além de escrever o seu próprio blog e
em outros websites de expressão nacional, a exemplo do Mídia Sem Máscara,
Diário do Poder, Tribuna da Internet. Sua coluna é reproduzida por mais de uma
centena de jornais.
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