(*) Percival Puggina
Outro
dia vi, na calçada, conhecido homem público. Ele, porém, não ia ou vinha, no
mesmo fluxo dos demais cidadãos. Ele atravessava rapidamente o passeio, saindo
da porta do carro para a entrada de um órgão público. Sua atitude era típica:
corpo encurvado para baixo, olhando para o chão, numa sequência da posição
usada para sair do carro e rapidamente cruzou pelo passeio na direção da porta
que se abrira para o acolher. Eu o reconheci, mas não direi quem era.
Fiquei
pensando sobre o quanto se pode aprender dessa conduta, principalmente quando a
comparamos com a de outros políticos que frequentam locais públicos desfrutando
de acolhida amável e calorosa. Vão às cafeterias, caminham pelas mesmas
calçadas, usam as companhias aéreas e frequentam restaurantes recebendo,
cordialmente, aqueles que os assediam. De muitos, recolhem o ambicionado
galardão das democracias representativas, que se expressa na frase: “O senhor
me representa”.
Quanta
diferença entre os tipos retratados nos dois parágrafos acima! Ambos têm convicções
e agem em conformidade com elas. As convicções do primeiro, que só anda em
jatinhos da FAB (requinte do patrimonialismo) ou de algum amigo que lhe deve
favores, estão norteadas pela manutenção do próprio poder, independentemente de
seu custo à sociedade. As convicções do segundo estão referidas a princípios e
valores morais que o orientam a agir com vistas ao bem.
Por
isso, meu conselho aos eleitores interessados em confiar a política a boas
mãos: muito mais relevante do que ler a plataforma impressa por um candidato é
saber o que o mobiliza, o que põe faíscas em seu olhar, o que ele ama com
paixão e o que ele rejeita com todas as energias de seu ser, com quem ele
poderá andar e de quem ele recusará a companhia, o que ele aprovará com
determinação e o que ele reprovará com vigor. O número de temas sobre os quais
um parlamentar ou governante decidirá ao longo de seu mandato vai muito além do
que possa constar em uma plataforma impressa. Daí a necessidade desse outro
conhecimento, mais profundo, sobre seu caráter e seus critérios de decisão.
Nosso
sistema de governo e nosso modo de fazer as eleições são portas abertas para a
hipocrisia que se vende aos incautos. A seguir, um breve escrutínio de
manifestações desse trambique moral agora que temos presos políticos e a
extrema esquerda está no poder.
Onde estão os
“garantistas” protetores de bandidos reais?
Onde estão os que
afirmavam “Prender não resolve!” e “No Brasil se prende demais!”?
Onde estão os
defensores do “desencarceramento”?
Onde estão os que apelavam
ao papel “contramajoritário”, da Justiça, tão ativos quando a direita
governava?
Onde estão os vigorosos
inimigos das queimadas e do desmatamento da Amazônia?
Onde estão os redatores
e signatários do manifesto da USP?
Não
surpreende que tenham uma vida tão encaramujada e só no exterior saiam da
casca. E olhe lá!
(*) Arquiteto,
empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores, colunista de
dezenas de jornais e sites no país. Membro da Academia Rio-Grandense de
Letras. Escreve, semanalmente, artigos para vários jornais do Rio Grande do
Sul, entre eles Zero Hora, além de escrever o seu próprio blog e em outros
websites de expressão nacional, a exemplo do Mídia Sem Máscara, Diário do
Poder, Tribuna da Internet. Sua coluna é reproduzida por mais de uma centena de
jornais.
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