(*)
Percival Puggina
Se
me permitem dizer, os apoiadores dele que conheço aqui no Brasil, também.
No
sábado anterior à eleição, encontrei um conhecido que emigrou da Venezuela.
Perguntei-lhe se iria votar e me respondeu que precisaria viajar de Porto
Alegre para Brasília, mas nem assim tinha certeza de que lhe seria permitido
exercer esse direito como cidadão. Segundo o Alto
Comissariado
das Nações Unidas para Refugiados, são 7,7 milhões de pessoas, irresignados à
ditadura, que deixaram o próprio país para ter uma vida em liberdade e se
manter com o trabalho de suas mãos. Essa massa de votantes se somaria ao
oprimido e empobrecido povo venezuelano para derrotar o ditador.
Maduro
é um ditador mal sucedido. Ditadores com passado desastroso e tragédias no
horizonte não se reelegem em eleições limpas e disputas isonômicas. No país que
governa, sobre um mar de petróleo, falta até gasolina. Ele persegue e prende
opositores. Faz as regras da disputa, prende e inabilita seus principais
opositores. Controla os meios de comunicação, desinforma a comunidade
internacional sobre a realidade do país, marca eleições e diz que se perder
haverá banho de sangue. Seus agentes intimidam partidos e candidatos
adversários. Proíbe a presença de observadores internacionais cujos chefes de
Estado antagonizam seus métodos. Esbirros a seu mando atacam os locais de
votação atemorizando eleitores e impedem o acesso de fiscais. Seu CNE (Conselho
Nacional Eleitoral) promove um “apagão” no meio do processo de divulgação da
apuração e, pouco depois, extrai da cartola a vitória do chefe.
Cada
momento dessa eleição grita “Fraude!”. O povo de um país desarmado, vai para as
ruas onde é contido pelas forças oficiais e por milícias que, em tudo, fazem
lembrar as SA (Sturmabteilung) de Hitler e as Milícias Nacionais
Revolucionárias de Cuba.
Há mágicos cujas artes e ofícios exigem, em certos momentos, que uma toalha negra cubra a cena para que as alterações se produzam e seja, depois, removida sob prováveis manifestações de espanto. Sempre achei isso frustrante. Quero observar, ver, entender. Todo dia, porém, cenas importantes são cobertas com a tolha negra dos ilusionistas, mediante sigilos e censuras. A eleição venezuelana foi um caso assim. Tenho certeza de que na noite de domingo passado, os protagonistas do sortilégio eleitoral retornaram a seus lares como heróis de uma Esparta judicial e disseram às esposas e filhos que agiram para salvar a democracia e a liberdade do povo venezuelano da investida fascista e golpista da oposição.
Não
é saudável nem louvável a situação política de um país quando governo e suprema
corte são regidos pela mesma batuta, irmãos de sangue, nascidos no parto da
mais retrógrada e opressiva das ideologias.
(*)
Arquiteto, empresário, escritor, titular do
site Liberais e Conservadores, colunista de dezenas de jornais e sites no
país. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras. Escreve, semanalmente,
artigos para vários jornais do Rio Grande do Sul, entre eles Zero Hora, além de
escrever o seu próprio blog e em outros websites de expressão nacional, a
exemplo do Mídia Sem Máscara, Diário do Poder,
Tribuna da Internet. Sua coluna é reproduzida por mais de uma centena de
jornais.
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