O
homem suspeito de matar a delegada Patrícia Neves Jackes Aires confessou que
girou o cinto de segurança no pescoço dela para se defender de agressões
durante uma discussão entre os dois dentro do carro e inventou a versão que os
dois teriam sido sequestrados.
Ele
ainda disse que iria se casar com a chefe de polícia na próxima quarta-feira
(14), apenas três dias após ela ter sido assassinada. A declaração foi dada em
depoimento, nesta segunda-feira (12), na 37ª Delegacia Territorial da Bahia
(DT/São Sebastião do Passé).
Na
primeira versão, Tancredo relatou que por volta de meia-noite de domingo, os
dois teriam saído de Santo Antônio de Jesus com destino a Salvador e quando
fizeram uma parada na rodovia, teriam sido abordados por três indivíduos em uma
motocicleta.
A
mulher foi encontrada morta no domingo (11), dentro do próprio carro, em uma
área de mata em São Sebastião do Passé, cidade na Região Metropolitana de
Salvador. Para a Polícia Civil, o companheiro dela, identificado como Tancredo
Neves Feliciano de Arruda, de 26 anos, é o principal suspeito do feminicídio.
Ele
foi preso em flagrante e afirma que os dois foram vítimas de um sequestro. Após
passar por audiência de custódia, Tancredo teve a prisão em flagrante
convertida em preventiva, nesta segunda.
Mãe,
plantonista e atuante no enfrentamento às violências de gênero: quem era a
delegada encontrada morta na Bahia
Companheiro
suspeito de matar delegada na BA foi preso em maio por agressão à vítima e
investigado por exercício ilegal da medicina.
Em
depoimento, Neves detalhou como tudo aconteceu durante a noite do crime. O
suspeito contou que os dois saíram para beber, em Santo Antônio de Jesus, e
Patrícia teria ficado alcoolizada.
Em
seguida, disse que na saída do estabelecimento, a delegada teria decidido
viajar para Salvador para comprar roupas. O homem relatou que durante a viagem,
quando passaram por um pedágio, ele disse para a mulher que os dois precisavam
repensar a relação.
Neste
momento, segundo Tancredo, Patrícia se descontrolou, disse que iria matar a
família e a filha dele e puxou o volante do carro, provocando a batida em uma
árvore.
Conforme
relato do suspeito, Patrícia começou a agredi-lo, e para se defender das
agressões, ele girou o cinto de segurança no pescoço dela e começou a enforca-la,
com o objetivo de fazer a mulher parar. Segundo ele, o objetivo não era matar a
delegada.
O
homem ainda disse que após cerca de 40 segundos notou que Patrícia estava
desacordada, saiu do carro e chamou a polícia. Conforme Neves, ele não sabia
que a mulher estava morta.
O
suspeito disse que decidiu inventar a versão do suposto sequestro por
"medo" e após pensar, decidiu contar a verdade. Falou ainda que se
arrepende do que aconteceu. Ele também afirmou que a mulher nunca saía armada e
na noite do ocorrido não foi diferente.
Tancredo
Neves também contou que conheceu Patrícia em novembro de 2023, em um
restaurante de Santo Antônio de Jesus, no recôncavo baiano. A delegada atuava
como plantonista na unidade policial da cidade.
O
relacionamento, segundo ele, teve início há cerca de quatro meses. O homem
admitiu que houve agressões verbais ao longo desse período, mas negou que tenha
ocorrido qualquer episódio de violência física ou sexual.
Apesar
disso, ele chegou a ser preso em flagrante maio deste ano por agressão contra
Patrícia. Neves argumentou que provou sua inocência no caso e ressaltou que a
vítima retirou a medida protetiva de urgência. Ele foi solto por decisão
judicial e o casal se reconciliou.
Tancredo
também relatou que nesta ocasião, Patrícia saiu sozinha e quis terminar a
relação.
Queixas
de outras mulheres e exercício ilegal da Medicina
Antes
de se relacionar com a delegada, Neves já colecionava denúncias e processos
apresentados por outras mulheres com as quais se relacionou. Em todos os casos,
ele nega as agressões.
Questionado
sobre o que explicaria o fato de "tantas mulheres terem registrado
fatos" contra ele, o homem alegou apenas que "xinga muito".
O
investigado também é alvo de um inquérito por exercício ilegal da Medicina.
Neves reconheceu a existência do processo, contudo, nunca foi intimado,
conforme ele. O homem se apresenta como médico, formado no Paraguai, mas disse
que não exerce a profissão.
Os
indiciamentos por exercício ilegal da medicina e falsidade ideológica
aconteceram depois que a Polícia Civil de Euclides da Cunha concluiu as
investigações em 2022. Os documentos foram remetidos ao Ministério Público da
Bahia (MP-BA).
Quem
era Patrícia Jackes
Patrícia
Neves Jackes Aires, de 39 anos, nasceu em Recife, capital pernambucana, e tinha
um filho. Bacharel em Direito e especialista em Direito Penal e Processo Penal,
a delegada tomou posse em 2016, sendo designada em seguida para a delegacia de
Barra, no oeste da Bahia.
Depois,
comandou as delegacias de Maragogipe e São Felipe, antes de ser lotada em Santo
Antônio de Jesus, onde atuava como plantonista.
Patrícia
Jackes tinha forte atuação na prevenção e enfrentamento às violências de
gênero. Em 2021, ela passou pelo Núcleo Especializado de Atendimento à Mulher
(NEAM), da 4ª Coordenadoria de Polícia, no município de Santo Antônio de Jesus
(BA).
Antes
de se formar em Direito, Patrícia se graduou em Licenciatura Plena em Letras.
Ela trabalhou por 12 anos como professora de língua portuguesa e língua
inglesa.
Luto
pela morte da delegada
Em
nota, a polícia lamentou profundamente a morte da servidora, que estava lotada
no plantão da Delegacia Territorial de Santo Antônio de Jesus, e informou que
está empenhada com todos os seus departamentos para esclarecer as
circunstâncias do crime e realizar as providências cabíveis.
O
Sindicato dos Policiais Civis também lamentou a morte da delegada.
A
Delegada-Geral da Polícia Civil da Bahia, Heloísa Campos de Brito, também
lamentou o ocorrido através de uma publicação em uma rede social.
"Acordei
com a triste notícia da partida da delegada Patrícia Neves Jackes Aires, que
estava lotada no plantão da Delegacia Territorial de Santo Antônio de Jesus.
Meus sentimentos aos familiares e colegas de profissão", escreveu na
legenda da postagem.
A
Secretária das Mulheres do Estado disse que "a delegada Patrícia tinha uma
carreira promissora, inclusive com forte atuação na prevenção e enfrentamento
às violências de gênero".
O
corpo de Patrícia Jackes foi velado na manhã desta segunda-feira (12), na
Câmara de Vereadores de Santo Antônio de Jesus. O sepultamento será na terça
(13), em Recife.
Fonte: G1 - Bahia
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