(*)
Percival Puginna
No
Brasil, quando se diz que alguém é dotado de espírito público, o que se está
afirmando, comumente, é que essa pessoa tem sensibilidade para os reclamos da
opinião pública. No exercício do poder, fará o que o povo quer. Eis aí o
nascedouro de problemas que podem transformar tão sensitivo cidadão num perigo
à solta, numa bomba-relógio com caneta e chefe de gabinete. Os motivos são
vários, mas destaco dois.
O
primeiro diz respeito à enorme diversidade contida no conceito de “povo”.
Embora seja designado por uma palavra no singular, o povo é absolutamente
plural em tudo, inclusive em aspirações e carências. Portanto, sendo sensível
aos reclamos do povo, o tal cidadão, se dotado de espírito público à moda da
terra, pode estar ouvindo e atendendo demandas excessivas e quase sempre
contraditórias entre si e com o interesse público. É uma realidade pela qual já
passamos inúmeras vezes na história. Além de arrasar o país sob o ponto de
vista financeiro, ainda deforma a nação sob o ponto de vista da cultura
política.
O
segundo ponto, diz respeito às consequências. A Lei de Responsabilidade Fiscal
(LRF) nasceu no ano 2000 para conter os malefícios desse tipo de “espírito
público”, que outra coisa não é que gestão irresponsável dos recursos alheios,
muito frequente nas esferas de Estado ou onde o dinheiro não é de quem gasta.
Se dinheiro na mão é vendaval, dinheiro sem dono é furacão. O PT se opôs à LRF,
mandou-a às favas quando chegou ao poder (2003) e encontrou admiradores em
número suficiente para lhe garantir três reeleições sucessivas. Até que a
inevitável consequência explodiu na vida de todos. A gastança gera uma conta
amarga, a ser paga no curto, no médio e no longo prazo.
No
curto prazo, os impostos sobem, no médio prazo a inflação se eleva e, no longo
prazo o endividamento compromete as gerações futuras. Foi assim que Lula
começou a quebrar o Brasil e que Dilma achou possível continuar governando.
Lembre-se de que quando não tinha mais de onde tirar dinheiro, ela começou a
distribuir, em concorridas solenidades, até o que ainda não existia – os
royalties do pré-sal. Tudo seria canalizado para a Educação e para a Saúde. As
duas áreas vivem as carências que se conhece e sequer cabe alegar boas
intenções.
Sob
o ponto de vista da cultura política, esse conceito de “espírito público”
estabelece, na sociedade, de modo extensivo, uma dependência em relação ao
Estado, convertido no mais cobiçado empregador e no almoxarifado provedor compulsório
de todas as necessidades. Pelo viés oposto, o verdadeiro espírito público, onde
o bem está disponível entre as possibilidades, sabe escolher o bem maior; onde
o bem não estiver disponível, escolherá o mal menor.
O
verdadeiro espírito público é animado por um senso real de justiça e por um
sentido de história. Distingue direito de privilégio. Sabe elencar prioridades.
Pessoas assim são estadistas e não demagogos vulgares, rastaqueras, como é
grande parte de nossos políticos animados por esse falso “espírito público”,
tão ao gosto dos formadores de opinião e do eleitorado brasileiro
De
volta ao poder, o Lula investiu novamente contra a LRF, criou o tal “Arcabouço
fiscal” para repetir a dose, gastar mais do que pode e desencadear as forças
destrutivas dessas bombas de efeito retardado.
(*)
Arquiteto, empresário, escritor, titular do
site Liberais e Conservadores, colunista de dezenas de jornais e sites no
país. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras. Escreve, semanalmente,
artigos para vários jornais do Rio Grande do Sul, entre eles Zero Hora, além de
escrever o seu próprio blog e em outros websites de expressão nacional, a
exemplo do Mídia Sem Máscara, Diário do Poder, Tribuna da Internet. Sua coluna
é reproduzida por mais de uma centena de jornais.
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