Cerca de metade dos municípios brasileiros tem apenas dois candidatos a prefeito nas eleições deste ano. Segundo levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), 5.496 candidatos concorrem diretamente ao cargo do executivo em 2.748 cidades, o que corresponde a 49% dos municípios do país. O percentual é o segundo maior desde 2000, quando 2.794 cidades tiveram apenas dois candidatos.
De
acordo com o levantamento, a média populacional nessas cidades é de 12,7 mil
habitantes. A menos populosa é Serra da Saudade, em Minas Gerais, com 833
habitantes, e a mais populosa é Itapevi, em São Paulo, com 232.297 habitantes.
Segundo o cientista político e sócio da Hold Assessoria Legislativa André
César, o perfil populacional dessas cidades pode explicar o cenário do pleito
com apenas dois candidatos a prefeito.
“Se
você olhar o perfil desses municípios, certamente são municípios pequenos,
chamados rincões. Então isso já afunila o processo eleitoral, naturalmente. Em
uma cidade desse tipo, não faz sentido ter cinco candidatos.”
Ainda
de acordo com a CNM, em 2024, houve uma redução de 20% no número de candidatos
a prefeito, totalizando 15.415 candidaturas. Para o cientista político e
professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo Eduardo Grin, o desafio
de governar uma cidade pequena, com poucos recursos e muita demanda da
população, reduz o interesse dos candidatos à prefeitura.
“No
Brasil, cidades pequenas, sobretudo aquelas com menos de 20 mil habitantes, são
cidades com poucos recursos financeiros e que vem aumentando muito a
responsabilidade de gastos com políticas públicas do governo federal. Então, há
o receio dos prefeitos de sofrerem processos do Tribunal de Contas, do
Ministério Público, ou seja, a relação custo-benefício em muitos casos não é
bem vista pelos candidatos.”
Partidos
Segundo
a análise da CNM, as três disputas ao cargo de executivo mais frequentes nas
eleições deste ano são: MDB x PP (168), MDB x PSD (154) e MDB x PL (111). Além
disso, cinco partidos concentram 3.256 candidaturas a prefeito, ou 59% do total
de 5.496: MDB, PSD, PP, UNIÃO e REPUBLICANOS.
Eduardo
Grin ressalta que os principais partidos postulantes às eleições deste ano são
do chamado “Centrão”.
“Porque
os partidos do Centrão têm sido os mais favorecidos com recursos das emendas do
orçamento secreto e outras formas de transferência de emendas Pix, por exemplo,
de modo que isso reduz também a possibilidade de outros partidos, com menos
recursos, terem candidatos competitivos nessas cidades menores.”
André
César destaca que os partidos que mais concorrem nas eleições municipais de
2024 são partidos centrais no debate político atualmente.
“O
MDB, tradicionalmente, era o partido com maior capilaridade, que chegava em
todos os locais do Brasil. Ele está tentando manter isso, só que está perdendo
espaço para o PSD, que é um partido que está crescendo fortemente. O PT é o
partido do governo federal e mantém espaço, especialmente na Região Nordeste. E
o PL está aí também, com o bolsonarismo, às vezes um pouco mais extremado, às
vezes nem tanto. Então é um retrato interessante; são os partidos centrais no
debate político hoje, em 2024.”
Segundo
Eduardo Grin, o cenário menos diversificado de candidatos pode prejudicar o
debate político democrático.
“Nós
estamos falando de um mesmo agrupamento político, de modo que o eleitor não tem
opção de ouvir uma candidatura que vá propor políticas públicas diferentes, que
não seja conservador, que pense diferente à gestão pública, etc. Isso,
portanto, rebaixa o debate democrático, porque reduz a possibilidade de escolha
e acaba fazendo com que os eleitores, em muitos casos, votem não no candidato
que eles gostariam, mas no menos pior ou naquele que eles não querem.”
Perfil
Ainda
de acordo com o levantamento da CNM, em 72% das cidades com apenas dois
candidatos, ambos são do sexo masculino. Em 26%, a disputa será entre um homem
e uma mulher. E em apenas 2% duas mulheres concorrem ao cargo de prefeita.
Além
disso, somente em 3% dos municípios haverá disputa entre dois candidatos que se
declaram pretos ou pardos. Em quase metade, os dois concorrentes são brancos. E
em 32% os candidatos se declaram brancos ou pardos.
Piauí,
Paraíba e Rio Grande do Norte são os estados com os maiores percentuais de
pleito com dois candidatos à prefeitura, com 76%, 71% e 69%, respectivamente.
Em números absolutos, Minas Gerais lidera o ranking, com 429 municípios neste
cenário, seguido por Rio Grande do Sul (282); São Paulo (227); e Bahia
(214).
O
cientista político André César deixa uma recomendação para os eleitores
escolherem bem seus candidatos, especialmente em cidades com apenas duas opções
de voto.
“O
eleitor tem que sentir-se seguro. Fulano tem condição de fazer isso? Ou outro
tem condição de fazer isso? São propostas factíveis, reais. Dado o perfil que
ele está falando desses municípios, ele tem pouca autonomia financeira,
baixíssima, inclusive, Então ele depende dos recursos federais e estaduais.”
A
orientação do cientista político Eduardo Grin é que, após as eleições, os
cidadão cobrem e fiscalizem as ações dos candidatos eleitos.
“Os
eleitores têm que se organizar coletivamente, criando formas de monitorar o
desempenho dos candidatos, uma vez que eles sejam eleitos. Os eleitores têm que
usar a imprensa e as redes sociais para denunciar, para criticar, para
monitorar, para discutir as propostas dos candidatos. Tudo isso no sentido de
manter a sociedade mobilizada, assumindo que o papel da cidadania política não
é apenas o de votar, mas também exercer o direito de fiscalizar o governo ou a
cidade.”
Fonte:
Brasil 61
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