Os poderes hereditários, o fisiologismo e a oligarquia

 


(*) Valter Bernat


O sistema político brasileiro só funciona bem para quem se aproveita dele. Não faltam benefícios para quem entra na política: foro privilegiado, ótimos salários, poucos dias de trabalho – de 3a a 5a – com dois ou três recessos ao ano, aposentadorias especiais e todo tipo de penduricalhos e mordomias.


Não à toa, que, quem se elege uma vez, mergulha fundo nesse sistema e passa a pertencer a uma casta da qual, por óbvio, não pretende sair. Isso explica porque os estados, como no tempo da Colônia, são divididos em “capitanias hereditárias”, cada uma com seu dono eternizado no poder.


Explica também os diversos clãs, que passam o poder de pais para filhos, netos, mulheres, maridos e agregados a quem devem favores. Uma verdadeira oligarquia. Para quem não sabe o que significa isso: “É o regime político em que o poder é exercido por um pequeno grupo de pessoas, pertencentes ao mesmo partido, classe ou família”.


Nesse clima viciado, alguém realmente novo e com boas propostas, não consegue furar essa bolha. Por isso é fundamental ficar bem atento quando alguém diz que não pertence ao sistema e que está contra tudo isso que está aí. Tenho dois amigos: um deles já falecido, o ator Francisco Milani. O outro, um amigo que jogava pelada comigo. Ambos conseguiram se eleger vereadores e viram, logo de cara, que se não “entrassem no esquema”, nada conseguiriam. Os dois declinaram de seus mandatos. Honestos demais? Acho que não. “Princípio” é a palavra mágica.


Na eleição municipal na capital paulista há um “desequilibrado” que emergiu das redes sociais para disputar a prefeitura da cidade. Ele se faz de louco, mas não rasga dinheiro, e sua pseudo loucura tem método. Não é SP que ele quer, ele está mirando Brasília.


A campanha eleitoral em curso deixa em evidência o domínio do fisiologismo em nosso cenário político. Indício marcante de tal avaliação é quando candidatos anunciam seus respectivos números na propaganda do horário eleitoral, mas sem jamais mencionar as legendas partidárias às quais estão filiados.


É um descompromisso partidário. Parece um dos frutos da injustificável proliferação de partidos sem definição e/ou divulgação do respectivo programa partidário.


A campanha política se tornou um circo dos horrores. É algo indigesto. É preciso pôr um freio nesses tipos nefastos de candidatos. É preciso respeitar o eleitor.


O que espera a Justiça Eleitoral, tão ágil e imediata durante a última eleição presidencial, para cassar as candidaturas desses candidatos que disputam cadeiras? E o que têm nas cabeças os que o consideram como um candidato digno de dirigir da maior cidade do país?


Os eleitores, que deram à simpática rinoceronte Cacareco a maior votação para a Câmara Municipal paulistana em 1959, tinham motivos bem mais válidos para justificar os seus votos. Para quem não viveu a época e não sabe a que me refiro, esclareço:


“Cacareco foi uma rinoceronte fêmea do Zoológico do Rio de Janeiro emprestada ao Zoológico de São Paulo que nas eleições municipais de outubro de 1959 da cidade de São Paulo recebeu cerca de 100 mil votos para vereador”.


O paulistano precisa parar de brincar sobre sua leniência com este candidato.

 

(*) Advogado, analista de TI e editor do site.


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