A
ação humana é uma das principais causas da seca mais severa da história do
Brasil. Segundo análise mais recente do Centro Nacional de Monitoramento e
Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), a seca em 2024 é a de maior extensão e
intensidade já registrada no país. Ao todo, são cerca de 5 milhões de km² com
alguma condição de seca, o equivalente a 58% do território nacional.
Entre
as causas da seca recorde, estão:
as
poucas precipitações no último período chuvoso, em decorrência do El Niño, não
sendo capaz de repor os mananciais e a umidade do solo;
a
intensificação da seca no inverno, que começou de forma antecipada, já no mês
de abril, favorecendo a perda de umidade do solo e da vegetação;
as
mudanças climáticas provocadas pelos gases de efeito estufa, que geram o
aquecimento da atmosfera e provocam longas sequências de dias sem chuva;
o
desmatamento para agricultura ou pastagem, degradando uma importante fonte de
retenção da umidade do ar e do solo.
A
professora Ana Ávila, pesquisadora do Centro de Pesquisas Meteorológicas e
Climáticas Aplicadas à Agricultura da Universidade Estadual de Campinas
(Cepagri/Unicamp), explica que a ação do ser humano é fator importante para as
mudanças climáticas, tanto para a seca extrema quanto para os grandes volumes
de chuvas na Região Sul do país.
“A
mudança de uso e ocupação do solo, o desmatamento das matas ciliares, tudo isso
tem impactado as nascentes dos rios. O regime de chuvas vem mudando em função
da emissão de gases de efeito estufa, que tende a prolongar os períodos de
estiagem. E, por outro lado, os sistemas meteorológicos que provocam chuva
passam mais rapidamente ou ficam mais retidos na Região Sul, com chuvas mais
intensas, sobretudo na região dos Pampas, no Rio Grande do Sul, e pega um pouco
a Argentina, o Uruguai.”
Seca
nos biomas
Entre
os biomas brasileiros, os mais afetados pela seca são a Amazônia e o Cerrado.
Segundo o Cemaden, em agosto de 2024, vários estados desses biomas registraram
seca extrema, como Mato Grosso, Acre e oeste do Amazonas. O município
de Santa Isabel do Rio Negro (AM) enfrenta seca severa e extrema há
12 meses e a cidade de Apiacás (MT) registra essa condição há 10
meses.
A
projeção para setembro também destaca várias localidades no Amazonas e Mato
Grosso.
Segundo a pesquisadora Ana Ávila, em geral, todos
os biomas brasileiros foram afetados, especialmente pelas queimadas.
“É
difícil a gente ter uma estimativa do quanto foi impactado sem ter uma análise
mais criteriosa e nas diferentes especificidades. Então, a recuperação vai
depender muito também de como as ações serão tomadas. Porque parte dessa
queima, consequência dessa seca extrema, não vai regenerar, porque há uma
intenção de exploração agrícola e pecuária. Então, parte se regenera, mas uma
parte já não retoma em função desse interesse econômico.”
Secas
e enchentes históricas
No
passado da história do Brasil, outro período de seca levou à morte 500 mil
pessoas de fome, sede e doenças. O período ficou conhecido como a Grande Seca e
assolou a Região Nordeste entre os anos de 1877 e 1879. No entanto, a
climatologista Ana Ávila afirma que fenômenos extremos, como secas, chuvas, não
têm periodicidade.
“A
Região Nordeste é uma região que, por si só, historicamente, tem o menor regime
de chuvas. É a região que, com as mudanças climáticas, tende a ser muito
impactada exatamente em função desse regime de chuvas que já castiga a região.”
Da
mesma forma, nos anos 1940, as águas do lago Guaíba, no Rio Grande do Sul,
transbordaram, o que deixou 70 mil pessoas desabrigadas. O número foi
amplamente superado nas enchentes que ocorreram em 2024, quando mais de 500 mil
pessoas ficaram desalojadas e todo o estado gaúcho foi amplamente afetado.
“Em
1940 houve chuvas por vários dias, volumosas, com impacto enorme, porém essa de
agora, nesse volume, nessa proporção, não se compara à de 1940. Ela foi muito
mais severa, com volume muito maior, em um período de tempo menor”, afirma Ana
Ávila.
Segundo
a pesquisadora, com as mudanças climáticas, os fenômenos severos devem ocorrer
com mais frequência, intensidade e extensão.
“E
o que a gente pode destacar é que esses eventos severos, por exemplo, como essa
estiagem que a gente está vivendo agora, podem ser mais frequentes com as
mudanças climáticas. Toda a região tropical do Brasil é altamente sensível às
mudanças climáticas em função do regime de chuvas. Então, vários estudos
apontam já uma tendência de redução da chuva nessa região central aqui do
país.”
A
doutora Ana Paula Cunha, pesquisadora do Cemaden, afirma que, diferentemente
dos outros anos — quando a seca ocorria de forma localizada em algumas regiões
—, em 2024 o fenômeno passou a afetar mais áreas do território nacional.
“Em
2020, a gente teve uma seca muito extensiva na Região Centro-Oeste do país.
Entre 2012 e 2017, a gente teve uma seca bastante extensiva no Semiárido
e, entre 2015 e 2016, em grande parte do Centro-Norte do país. No entanto,
essa de 2023-2024 é a primeira que cobre desde o Norte até o Sudeste do país.”
Segundo
a pesquisadora, em 2024, pela primeira vez foi identificada seca excepcional fora
da região do Semiárido, desde que o Cemaden começou a monitorar as secas no
país.
“Hoje,
existem áreas, principalmente no Pará, no Mato Grosso e no estado de São Paulo,
com essa categoria máxima de seca, que é a seca excepcional, que indica que
além da super falta de chuva prolongada, também há umidade do solo extremamente
baixa e a vegetação extremamente seca.”
Causas
naturais
Além
da ação do ser humano, outros fenômenos naturais são apontados pelos
climatologistas como causas para as secas severas. Entre eles, a pesquisadora
do Cemaden, Ana Paula Cunha, destaca o El Niño.
“Nós
tivemos a ocorrência do fenômeno El Niño, principalmente ao longo do segundo
semestre de 2023. O El Niño foi se intensificando ao longo do ano e,
consequentemente, costuma causar secas, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste.
Então, essa combinação de um Atlântico mais aquecido, junto com o El Niño , que
é o Pacífico mais aquecido, contribuiu para que as secas ficassem mais
regionalizadas ali entre as regiões Centro-Oeste e Norte, e também pegando
parte do Sudeste.”
A
partir de setembro, a previsão dos climatologistas é que haja a ação do
fenômeno La Niña (e não mais do El Niño), que é o resfriamento das águas do
Pacífico. Nessa previsão, também há um retorno gradual das chuvas durante a
primavera, conforme explica a pesquisadora Ana Ávila.
“Os
modelos estão apontando uma tendência de redução de chuvas, embora nesses
próximos dias, por exemplo, haja uma situação de chuvas em excesso no Sul, com
risco de alagamentos e enchentes no Rio Grande do Sul, principalmente. Mas a
longo e médio prazo, não se espera chuvas mais tão volumosas, exatamente em
função da La Ninã, que tem uma tendência de redução do volume de chuvas no sul
do país e aumento do volume de chuvas no norte.”
Os
meteorologistas afirmam que o La Niña já deve começar no Brasil agora em
setembro, com 58% de chances de ocorrências no trimestre que vai até novembro.
Já no trimestre de outubro a dezembro de 2024, a probabilidade de ocorrer o
fenômeno aumenta para 60%.
Fonte: Brasil 61
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