"Eu conheço uma pessoa que vive só de bets", "eu vejo muito futebol e quase sempre acerto o vencedor", "é só estudar bastante, que você vai conseguir ganhar".
Essas
são frases comuns ditas hoje em dia em conversas de bar, redes sociais ou até
mesmo em canais de internet dedicados a apostas esportivas.
Sumpter
é professor de matemática na universidade de Uppsala, na Suécia, fundador de
uma empresa que trabalha com matemática e futebol e autor do livro Soccermatics:
Mathematical Adventures in the Beautiful Game ("Soccermatics:
Aventuras matemáticas no jogo bonito", em tradução livre).
Ele
diz que a habilidade matemática necessária para derrotar as casas de apostas é
tamanha, que um apostador que eventualmente consiga isso lucraria mais vendendo
seu conhecimento matemático no mercado — inclusive para as próprias casas de
apostas — ou fundando sua própria empresa de estatísticas.
Outro
especialista, o autor Joseph Buchdahl, diz que a maioria dos apostadores são
como "macacos jogando dardos" — ou seja, contam apenas com pura sorte
em suas apostas.
Recentemente
ele publicou uma análise em que concluiu que há apostadores com técnicas tão
avançadas que são capazes de vencer o mercado no longo prazo. No entanto, eles
ainda são casos raros.
"As
apostas continuam sendo uma competição extremamente difícil de vencer, onde a
margem que uma casa de apostas impõe — além do acesso a alguns dos melhores
analistas do setor — significa que apenas uma pequena minoria terá sucesso a
longo prazo", escreveu.
No
Brasil, a explosão das "bets" levou o governo federal a anunciar um
pacote de medidas para regularizar o mercado.
As
casas de apostas precisarão pagar uma taxa para poderem operar, e o governo
ainda promete tentar bloquear o uso de cartões de crédito para apostas.
Segundo
o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também haverá um esforço para
restringir a publicidade do setor, como já ocorre com bebidas alcoólicas e
cigarros.
Mas
será que é mesmo tão difícil assim? Por quê?
Como
funcionam as apostas
Para
ganhar das casas de aposta, primeiro é preciso entender o que são as
"odds", que traduzido para o português significa "chances".
As
odds expressam quanto cada apostador ganhará caso sua aposta seja vencedora. Há
algumas formas de se expressar uma odd. Os formatos mais comuns são as decimais
e as fracionárias.
Uma
odd fracionária de 7/4 indica que para cada 4 reais apostados, o apostador terá
um retorno de 7 reais (além dos 4 reais apostados) em caso de acerto. Ou seja,
o retorno total será de 11 reais.
A
mesma odd pode aparecer como decimal. Uma odd decimal de 2,75 indica que o
retorno será 2,75 vezes o valor apostado. Ou seja: uma aposta de 4 reais que é
vencedora com essa odd dá um retorno de 11 reais (4 vezes 2,75 é igual a 11).
Repare que uma odd decimal de 2,75 é a mesma coisa que uma odd fracionária de
7/4.
A
odd ajuda também a entender matematicamente o quão provável um evento é de
acontecer na visão da casa de apostas — algo conhecido como probabilidade
implícita.
A
probabilidade implícita é o inverso da odd decimal. Para achar o inverso,
divide-se 1 pela odd decimal.
No
exemplo acima, uma aposta que pague odds de 2,75 tem 36% de chances de ser
vencedora (1 dividido por 2,75 é igual a 0,36, ou seja, 36%). Pode-se concluir
também que essa aposta tem 64% de chances de ser perdedora.
Quem
ganha: apostador ou casa de apostas?
Ganhar
eventualmente uma aposta ou outra é perfeitamente possível e provável.
A
aposta esportiva é muito diferente de uma loteria, em que as probabilidades de
ganho são remotas. As chances de se ganhar na Mega-Sena, por exemplo, são de
0,00000002%.
E não basta apenas ganhar mais
vezes do que perder. É possível ter alto índice de acertos, e ainda assim perder
dinheiro.
É o caso de quem sempre aposta
nos favoritos. O retorno financeiro para cada aposta vitoriosa é muito pequeno,
já que as odds dos favoritos são sempre baixas. E pior que isso: apenas uma
aposta perdedora é suficiente para aniquilar todos os ganhos com várias
vencedoras.
Digamos que uma pessoa aposte
100 reais sempre em um favorito que pague uma odd de 1,1. Se em dez apostas,
ela acertar nove — um índice alto de acertos, de 90% — ela ganhará 90 reais.
Mas ainda assim seu resultado final será um prejuízo de 10 reais — já que terá
perdido 100 reais na única aposta perdedora.
stador pode ganhar uma grande soma de dinheiro
apostando em alguém que tinha poucas chances e pagava odds enormes — mas seus
ganhos serão anulados com a provável derrota de todos os outros azarões nos
quais também apostou.
Para ganhar consistentemente,
é preciso haver um equilíbrio — calculando-se exatamente quanto deve ser
alocado em cada aposta de acordo com as probabilidades relacionadas ao jogo.
Mas conseguir isso é muito
difícil, como mostram os exemplos abaixo.
Primeiro inimigo dos
apostadores: margem das casas de aposta
As odds das apostas são
decididas pelas casas de apostas.
E este é um dos primeiros
obstáculos para os apostadores — porque as casas sempre embutem nas odds as
suas margens de ganho (também chamadas de "vigorish").
Uma forma simples de calcular
a margem é somando a probabilidade implícita (o inverso) de todas as odds que a
casa paga para uma determinada aposta.
Matematicamente, essa soma
deveria dar 100%. Afinal, um jogo só pode terminar com vitória, derrota ou
empate.
Mas em casas de apostas, essa
soma sempre é maior que 100%. E o excedente é justamente a margem da casa de
apostas.
Vamos pegar um exemplo: um
jogo entre Vasco e Palmeiras. As odds de uma casa de apostas para esse jogo
podem ser:
4,410 para vitória do Vasco
3,740 para empate
1,787 para vitória do
Palmeiras.
As probabilidades implícitas
(inverso das odds) para esse jogo são: 22,68% de vitória do Vasco, 26,74% de
empate e 55,96% de vitória do Palmeiras. A soma dessas probabilidades é
105,38%.
A margem da casa é, portanto,
de 5,38% — o excedente. Esse é um dos grandes inimigos dos apostadores.
Imagine um apostador que fosse
distribuir seu dinheiro proporcionalmente em todos os resultados no exemplo
acima:
22,68 reais em vitória do
Vasco
26,74 reais em empate
55,96 reais em vitória do
Palmeiras.
O valor total de sua aposta é
105,38 reais.
Como ele apostou
proporcionalmente em todos os resultados possíveis, é de se esperar que ele
receba exatamente o total que apostou — qualquer que seja o resultado do jogo.
Mas seu retorno real seria:
Em caso de vitória do Vasco:
100,01 reais (22,68 reais vezes odds de 4,410)
Em caso de empate: 100,01
reais (26,74 reais vezes odds de 3,740)
Em caso de vitória do Vasco:
100,00 reais (55,96 reais vezes odds de 1,787)
Em todos os cenários, o
retorno seria negativo — com perda de 5,38 ou 5,37 reais.
Ou seja: as casas de apostas
não estão pagando exatamente o proporcional às probabilidades de um evento
acontecer. Elas estão pagando um pouco menos.
Segundo inimigo dos
apostadores: lei dos grandes números
No longo prazo, esse
"pouco menos" significa prejuízos enormes para os apostadores e
ganhos grandes para as casas de apostas.
É o que os matemáticos chamam
de a Lei dos Grandes Números — que diz que quanto mais uma experiência for
repetida, mais ela vai se aproximar do seu valor esperado (as probabilidades
esperadas).
Essa lei matemática é a base
do modelo de negócios bilionários da indústria de cassinos.
Em 10 ou em 100 tentativas, um
apostador pode até sair no lucro — mesmo que as odds não lhe sejam favoráveis.
Mas depois de um determinado patamar, digamos 1,000 ou 10,000 apostas,
invariavelmente o resultado observado começa a caminhar em direção às odds do
jogo.
No caso dos cassinos, um jogo
de blackjack (ou vinte-e-um) tem as seguintes odds, em média: 42% de chances de
vitória do apostador, 9% de chances de empate e 49% de chances de derrota.
É perfeitamente possível jogar
algumas partidas de blackjack e sair com um bom lucro da mesa. Essa ilusão de
vitória é justamente o que atrai os apostadores, já que 42% de chances de
ganhar pode não parecer pouca coisa.
Mas ao longo de múltiplas
apostas e muito tempo (às vezes meses ou anos), o apostador certamente sairá
perdendo. Por trás de cada pessoa que sai com uma pequena fortuna de um
cassino, há mais pessoas que saem com os bolsos vazios.
O mesmo acontece com as
apostas esportivas, já que — como vimos acima — as odds jogam sempre contra o
apostador. Afinal, a odd de uma casa de aposta é sempre um pouco inferior à
probabilidade de o evento acontecer.
Como ganhar das casas de
apostas
Para ganhar dinheiro no longo
prazo, é preciso derrotar as casas de apostas com consistência.
E a forma de derrotá-las é
possuindo odds melhores do que elas. Ou seja: saber quando a casa de apostas
está estimando errado as probabilidades de um jogo — e portanto está pagando
demais por um dos resultados.
Vamos a outro exemplo. Digamos
que um jogo entre São Paulo e Corinthians, as odds de uma casa de aposta sejam:
2,3 para vitória do São Paulo
2,95 para empate
2,62 para vitória do
Corinthians.
As probabilidades implícitas
estimadas pela casa são: 43,48% de vitória do São Paulo, 33,90% de empate e
38,17% de vitória do Corinthians.
Se o apostador tiver
estimativas mais precisas do que essas que mostrem, por exemplo, que as chances
de vitória do São Paulo são maiores do que 43,48% (digamos 45% ou 50%), ele
pode apostar mais dinheiro nesse resultado.
Mas não basta fazer isso em
apenas um jogo. É preciso conseguir estimativas mais precisas do que a casa de
apostas consistentemente ao longo de diversas apostas — satisfazendo a Lei dos
Grandes Números.
Chegar a essas estimativas
mais precisas é justamente o maior desafio — e é onde as casas de aposta levam
enorme vantagem em relação aos apostadores.
Como as casas de apostas fazem
para ganhar
Um argumento comum de pessoas
que assistem a muitos jogos de futebol é que elas entendem mais do esporte do
que a maioria das pessoas — portanto estão mais propensas a ganhar.
Mas o conhecimento sobre
futebol é quase irrelevante no mundo das apostas, dizem os especialistas.
"O conhecimento do jogo
já está embutido nas probabilidades. Por exemplo, um jogo pode receber 10 mil
apostas. Isso significa que são 10 mil pessoas que sabem algo sobre futebol e o
conhecimento delas está embutido nas odds. Não é que você está jogando contra
uma outra pessoa. Você está jogando contra 10.000 pessoas que acham que
entendem de futebol. Às vezes, essas 10.000 pessoas cometem grandes erros, mas
normalmente isso não acontece", diz David Sumpter.
O pulo do gato para se ganhar
dinheiro com apostas não é saber de futebol — é conhecer matemática.
"Você tem que começar com
as probabilidades. É isso que as pessoas esquecem. Elas pensam 'eu preciso
entender muito sobre futebol’. Mas ela precisa começar sabendo muito sobre
probabilidades. E a maioria não entende muito sobre probabilidades de futebol,
como as odds são definidas e como tentar vencê-las."
A mina de ouro das apostas são
os modelos matemáticos.
Modelos são equações
matemáticas que usam dados da realidade para fazer previsões. Eles partem de
dados estatísticos do passado (as entradas ou inputs do modelo) —
como gols marcados e sofridos, por exemplo — para fazer previsões futuras sobre
qual time tem mais chances de vencer.
E é nesse ponto que entra a
alta tecnologia para estabelecer as odds.
As casas de apostas que
existem no mercado usam odds que são geradas por companhias e profissionais
altamente especializados. Essas companhias contratam matemáticos e usam alguns
dos modelos mais avançados no mercado.
As odds desses matemáticos
especializados são difíceis de serem batidas. E em cima dessas odds, as casas
de apostas ainda colocam a sua margem, dificultando ainda mais a tarefa.
“A tecnologia vem melhorando
muito a cada ano. A cada dia, há novos modelos sendo usados, novos algoritmos,
novas tecnologias. Há 20 anos atrás, provavelmente era muito mais fácil ganhar
das casas de aposta do que é hoje”, diz Joseph Buchdahl.
Buchdahl dá o exemplo de um
modelo matemático que foi usado durante décadas por apostadores, garantindo
muitos lucros no passado: o modelo Dixon-Coles. Esse modelo levava em
consideração, entre outros fatores, os gols marcados e sofridos por equipes nos
últimos jogos para tentar prever o resultado de uma partida.
"A tecnologia mudou. Se
você fosse tentar usar o modelo Dixon-Coles hoje em dia, você não teria chance
alguma contra as casas de aposta."
Nos últimos anos, o modelo da
moda é o de gols esperados (cuja sigla é xG). Esse modelo é muito mais
sofisticado: ele calcula a probabilidade de chutes virarem gols. Ele é muito
mais intenso no uso de dados, pois requer estatísticas mais completas sobre o
que aconteceu exatamente nas partidas recentes das equipes.
Uma pessoa que faz uma aposta
pode pensar que está apenas competindo contra outros apostadores ou com a casa
de apostas. Mas na verdade ela está enfrentando uma briga muito maior.
Buchdahl afirma que a maioria
dos apostadores profissionais sequer usa casa de apostas comuns — que são
encaradas por eles como parte da indústria do entretenimento.
Os profissionais preferem usar
as chamadas "betting exchanges", que são uma espécie de bolsa, onde
apostadores podem criar suas próprias odds e apostar uns contra os outros. É
nesses espaços — usados por apostadores com grande grau de sofisticação — que
os melhores modelos matemáticos costumam ser empregados.
E o setor está ficando cada
vez mais competitivo.
Com a explosão da inteligência
artificial e do aprendizado de máquina, Buchdahl diz que a modelagem matemática
para apostas está praticamente virando "uma corrida armamentista" —
tamanho é o nível de sofisticação dos novos modelos.
"Há muito mais dados no
futebol hoje em dia. Há estatísticas de jogadores, estatísticas de posse,
estatísticas de passes. É ridículo quanto dado temos hoje. Se você tem acesso a
esses dados, você pode começar a jogá-los no seu modelo e ver se ele melhora.
Por um tempo, você pode até conseguir ter um modelo melhor e ganhar algum
dinheiro. Mas logo vem alguém e consegue superar você", diz Buchdahl.
“É como um esporte
profissional, por um tempo Djokovic, Federer e Nadal eram os melhores [no tênis
masculino]. Agora eles estão sendo substituídos."
A estratégia perfeita. Mas ela
funciona?
Há diversas modalidades de
apostas disponíveis: apostar em cartões amarelos e gols específicos ao longo da
partida, por exemplo. Também é possível usar "handicaps", que são
ajustes nas odds para torná-las mais favoráveis ao apostador.
Além disso, há diferentes estratégias.
Muitos apostadores costumam "cobrir" suas apostas, que é fazer uma
nova aposta para mitigar o risco de uma aposta original.
Mas os matemáticos alertam que
mesmo essas modalidades e estratégias não são suficientes para ganhar das casas
de apostas no longo prazo — mesmo que algumas delas sirvam para melhorar as
chances do apostador.
Mas existe uma uma estratégia
que, surpreendentemente, é sempre bem-sucedida em qualquer cenário — pelo menos
matematicamente falando. Trata-se da arbitragem (também chamada de “aposta
certa” ou “surebet”).
Na teoria, ela é perfeita, mas
na prática, ela não costuma funcionar no longo prazo — e isso apenas reforça
como as casas de apostas são praticamente imbatíveis para a maioria das
pessoas.
A estratégia da arbitragem envolve
buscar odds diferentes para um mesmo evento em casas de apostas diferentes. Se
as probabilidades (inversos das odds) dessas casas de apostas somadas forem
inferiores a 100%, existe oportunidade para arbitragem. Ou seja: o apostador
vai ganhar em qualquer cenário.
Vamos a um exemplo. Digamos
que em uma partida entre Flamengo e Grêmio, seja possível encontrar as
seguintes odds em casas de apostas diferentes:
Casa de apostas 1: vitória do
Flamengo, odd de 2,5
Casa de apostas 2: empate, odd
de 3,6
Casa de apostas 3: vitória do
Grêmio, odd de 3,4.
É fundamental buscar odds em
casas de apostas diferentes. Quando as odds são tiradas de apenas uma casa de
apostas, a soma das probabilidades é sempre superior a 100% — como vimos no
exemplo de Vasco e Palmeiras. E o excedente é a margem de lucro da casa.
Mas nesse exemplo, com odds de
casas diferentes, ela é inferior. A soma das probabilidades nesse caso é 97,19%
— 40% de chances de vitória do Flamengo, 27,78% de chances de empate e 29,41%
de chances de vitória do Grêmio.
Para garantir um retorno em
qualquer cenário, é preciso espalhar as apostas proporcionalmente. A fórmula
para essa distribuição é: dividir a probabilidade de o evento acontecer pela
soma das probabilidades totais, e multiplicar tudo pelo valor apostado.
No caso de 100 reais, eles
seriam distribuídos da seguinte forma:
Apostar no Flamengo: 40% /
97,19% x 100 reais = 41,16 reais
Apostar em empate: 27,78% /
97,19% x 100 reais = 28,58 reais
Apostar no Grêmio: 29,41% /
97,19% x 100 reais = 30,26 reais
Os retornos para cada cenário
seriam:
Vitória do Flamengo: 41,16
reais x odd de 2,5 = 102,90 reais
Empate: 28,58 reais x odd de
3,6 = 102,89 reais
Vitória do Grêmio: 30,26 reais
x odd de 3,4 = 102,88 reais
Como foram gastos 100 reais
nessa aposta, existe um retorno garantido de cerca de 2,89%.
Essa é uma margem bastante
alta para uma aposta sem riscos.
Se parece um cenário bom
demais para ser verdade, é porque é exatamente isso.
Na prática, há dois obstáculos
grandes para arbitragem. O primeiro é que encontrar odds que possibilitem a
arbitragem nem sempre é fácil. As próprias casas de apostas ajustam suas odds
em tempo real de acordo com mudanças promovidas por suas rivais — justamente
para dificultar que essas oportunidades surjam.
“A menos que você tenha um bot
(robô) que esteja fazendo as apostas simultaneamente, sempre há o perigo de que
uma odd possa mudar antes que você consiga garantir as odds finais”, diz
Buchdahl.
O segundo obstáculo são as
próprias casas de aposta, que monitoram esse tipo de atividade.
"As casas de apostas não
toleram vencedores. E elas certamente não toleram apostas de arbitragem porque
elas argumentam que é ruim para seus negócios. E assim que eles suspeitarem que
você está fazendo isso, eles fecharão sua conta", diz Buchdahl.
A arbitragem não é uma
atividade ilegal, mas as casas de apostas se reservam o direito de não
atenderem clientes e suspenderem apostas — o que está explícito nos termos e condições.
Mas é justo que casas de
apostas possam barrar clientes?
"A casa de apostas não é
obrigada a fazer negócios com você. Se eles consideram que você não é lucrativo
para o negócio deles, eles não vão o aceitar como cliente. É assim que o
capitalismo funciona", afirma Buchdahl.
David Sumpter diz que no Reino
Unido há até mesmo sites especializados em detectar e realizar apostas de
arbitragem. Mas as margens são pequenas e muitas contas acabam bloqueadas
depois de poucas rodadas, assim que as casas de apostas identificam essa
atividade.
Buchdahl não acredita que
arbitragem seja uma estratégia sustentável no longo prazo justamente por causa
desse jogo de gato e rato com as casas de apostas. Para ser bem-sucedido, diz
ele, seria necessário ter contas em cerca de dez casas de apostas diferentes —
e seria necessário abrir novas contas com nomes diferentes a cada suspensão.
Quem já conseguiu ganhar das
casas de apostas
Os especialistas apontam as
dificuldades de se conseguir ganhar das casas de apostas. Mas eles acreditam
que ainda assim é possível. Inclusive isso já foi feito.
Um caso notório é o do
britânico Matthew Benham, formado em Física pela universidade de Oxford no
final dos anos 1980. Depois de uma passagem pelo mercado financeiro, Benham
resolveu desenvolver modelos matemáticos para fazer apostas esportivas.
Ele aperfeiçoou o modelo
Dixon-Coles (citado acima nesta reportagem) e fundou a SmartOdds, uma empresa pioneira
de pesquisa estatística voltada para apostadores profissionais. Ele também
virou investidor na Matchbook, um site de apostas pioneiro no formato de
"betting exchange".
O sucesso de seus modelos foi
tão grande que Benham virou milionário — ao ponto de comprar o seu clube de
futebol do coração, o Brentford. Desde que Benham assumiu o controle do clube,
o Brentford voltou à primeira divisão do bilionário futebol inglês.
Para matemáticos, a história
de Benham ilustra que os maiores lucros no mundo das apostas esportivas não
estão com os apostadores — mas sim nas casas de apostas e nos matemáticos que
conseguem gerar um conhecimento que é valioso.
Sumpter e Buchdahl seguiram
esse exemplo. Eles próprios já contemplaram no passado a ideia de se tornarem
apostadores profissionais, mas logo perceberam que havia outros caminhos mais
lucrativos.
Ambos escreveram livros e
artigos sobre apostas esportivas e usam seu conhecimento — e não apostas — para
ganhar dinheiro.
Sumpter fundou uma empresa, a
Twelve Football, que fornece consultoria matemática a diversos clubes de
futebol no mundo, inclusive na Premier League inglesa.
Buchdahl criou um site em que
fornece dados que informam modelos estatísticos usados por apostadores. Ele
ganha dinheiro com anúncios em seu site. Além disso, muitos dos artigos que ele
escreve são publicados em uma seção educativa do site da Pinnacle, uma casa de
apostas famosa por suas odds sofisticadas.
"É possível ganhar
dinheiro criando modelos matemáticos e eu conheço pessoas que fizeram isso e
ganharam dinheiro assim", diz Sumpter.
"Mas logo eles acabam
indo trabalhar para casas de apostas ou até mesmo viram donos de casas de
apostas. Você pode ganhar muito mais dinheiro e ter uma fonte de renda regular
dessa forma."
A vida de um apostador profissional,
segundo ele, envolve não só altos riscos, mas também custos enormes. É preciso
investir pesadamente em educação e, hoje em dia, em poder computacional. Além
disso, é preciso ter muito capital para realizar as apostas. Considerando-se um
retorno médio de 3% — uma meta difícil até para profissionais — é preciso ter 1
milhão de reais para obter um retorno de 30 mil.
Essas dificuldades fazem com
que a maioria das pessoas que querem se tornar apostadores profissionais acabem
desistindo depois de um tempo. Buchdahl calcula que a maioria das pessoas
percebe isso depois de cerca de mil apostas.
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