Por: Tiago Marques
A
escassez de chuvas nos últimos meses, agravada pelo fenômeno climático El Niño,
que se estendeu até o primeiro semestre deste ano, tem causado uma redução
significativa no nível do Rio São Francisco, com impacto direto em diversas
regiões da Bahia.
Após registrar
cheias históricas entre 2019 e 2022, o Velho Chico agora enfrenta uma
drástica queda em seu volume de água, revelando extensos bancos de areia ao
longo de seu leito. Em algumas áreas, as dificuldades para a navegação têm
prejudicado pescadores e comunidades ribeirinhas, que dependem do rio para
subsistência.
A
falta de chuvas expõem um problema que já prejudica o rio há muitos anos, o
assoreamento causado pelo desmatamento das margens e outras intervenções
humanas. Além disso, caso não volte a chover de forma significativa na bacia
nos próximos meses, a reprodução dos peixes pode ficar comprometida.
No
trecho entre as cidades de Malhada e Carinhanha, localizadas na divisa entre
Bahia e Minas Gerais, o nível do São Francisco chegou a 90 centímetros, marca
que não era observada desde 2018, quando a região enfrentou uma severa seca. Em
Bom Jesus da Lapa, o nível é de 2,5 metros, 1,2 metro a menos do que o
registrado na mesma época do ano passado. A diferença na medição entre as duas
cidades se ocorre pela geografia do Rio.
A
situação só não é mais grave devido à liberação de água do reservatório da
Hidrelétrica de Três Marias, em Minas Gerais, que mantém a vazão em 400 metros
cúbicos por segundo (m³/s). Contudo, em semanas recentes, essa liberação foi
reduzida para apenas 150 m³/s, o que deixou o nível ainda mais baixo.
Atualmente,
o reservatório de Três Marias opera com apenas 44% de seu volume útil, segundo
dados da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). A Hidrelétrica de
Sobradinho, na Bahia, também registra um nível similar de armazenamento, com
vazão de entrada de 370 m³/s, abaixo do que é liberado em Três Marias.
Essa
baixa disponibilidade de água já compromete o abastecimento de várias cidades e
projetos de irrigação ao longo do rio e seus afluentes. Em Minas Gerais,
o Instituto
Mineiro de Gestão das Águas (Igam) declarou situação crítica de escassez
hídrica superficial em diversos municípios da Bacia do Rio das Velhas.
Projetos como o de Jaíba, no norte do estado, têm enfrentado dificuldades
devido ao baixo nível do rio e ao assoreamento dos canais de irrigação que
levam água às plantações.
A
situação preocupa especialmente as comunidades ribeirinhas e agricultores que
dependem diretamente do Velho Chico. Embora o Instituto
Nacional de Meteorologia (Inmet) tenha previsto o início das chuvas para esta
semana em parte da bacia do São Francisco, os volumes esperados são
baixos e restritos ao Centro-Oeste e à Região Central de Minas Gerais, o que
não deve trazer alívio imediato.
A
continuidade da seca reforça a necessidade de monitoramento constante e medidas
urgentes para mitigar os impactos da crise hídrica no São Francisco, um dos
rios mais importantes para o abastecimento e agricultura no Brasil.
Fonte: Agência Sertão
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