Segundo colocado na lista de diretórios estaduais com mais candidaturas de possíveis “laranjas”, o PSD da Bahia foi o partido que mais elegeu prefeitos no Estado este ano, 115 ao todo. Uma de cada quatro cidades baianas estará sob o comando da legenda. Das 40 candidaturas do PSD da Bahia com mais de R$ 1 mil do Fundo por voto, 39 são de mulheres. E quase todas são pardas (30) ou pretas (8). Só duas se autodeclaram brancas. 28 dessas candidaturas tiveram menos de 20 votos. Juntas, as 40 candidaturas receberam R$ 1,93 milhão do Fundão, mas tiveram só 906 votos, o que representa mais de R$ 2 mil por cada sufrágio.
O
voto mais caro do grupo foi o de Rita Alves da Silva, a Ritinha, que tentou se
eleger vereadora em Eunápolis (BA), cidade de 120 mil habitantes no Sul do
Estado. Ritinha recebeu R$ 60 mil do “Fundão” do PSD e, até o momento, declarou
ter gasto quase tudo (R$ 57,5 mil). Mesmo assim, só teve 5 votos. Nas redes
sociais de Ritinha, informadas ao TSE, não há qualquer traço de que ela tenha
feito campanha.
O
maior gasto dela foi com a empresa H&H Empreendimentos, uma firma de
marketing digital: R$ 47,5 mil. Há uma nota de R$ 7,5 mil para “criação e
designer (sic) de peças publicitárias” e outra de R$ 40 mil para “serviço de
militância na campanha eleitoral”. Além dela, outras candidatas do PSD em
Eunápolis com poucos votos também contrataram a empresa. É o caso da Pastora
Maria Nilza, que investiu R$ 40 mil nos serviços da empresa mas só teve 11
votos; e de Maíza Oliveira, que também pagou R$ 40 mil e teve 48 votos. Em
Eunápolis, o PSD elegeu o prefeito, Robério Oliveira, com 49,6% dos votos.
Além
das candidatas a vereador do PSD em Eunápolis, a H&H Empreendimentos também
fez a campanha de Luiz Carlos Junior Silva de Oliveira, o Luizinho, (MDB)
prefeito reeleito de Itagimirim (BA). Ele pagou R$ 30 mil à empresa. Ao todo, a
H&H recebeu R$ 556,4 mil em pagamentos de candidatos nesta eleição, de acordo
com informações da Justiça Eleitoral.
Ao Estadão,
o presidente do PSD da Bahia, o senador Otto Alencar, disse não conhecer
Ritinha e afirmou que não é responsável pelo eventual mau uso dos recursos,
caso tenha ocorrido.
“Quem
vai prestar conta é a Ritinha. Então, se ela teve alguma coisa que signifique
irregularidade, aí tem os órgãos de controle para olhar”, diz. “Como é que eu
vou calcular se a Ritinha vai ter voto ou não? Quem calcula é a urna, não sou
eu (...). Você liga para a Ritinha para saber. A gente dá (o dinheiro) na boa
fé. Se ela vai fazer uma coisa dessas (desviar) ou não, cabe a investigação”,
diz o senador. Ele diz já ter expulsado pessoas do partido por irregularidades
nas eleições de 2020 e 2022.
Otto
Alencar disse encorajar a participação feminina em seu partido, mas criticou as
normas que obrigam os partidos a destinar um percentual mínimo de verbas para
mulheres. “Eu acho que a participação da mulher é fundamental. A maior alegria
da minha vida é liderar a maior bancada do Senado, com 15 participantes e seis
mulheres, todas muito ativas. Aqui no meu Estado, eu fiz 20 reuniões do PSD
Mulher (...). A única coisa que está errada é Brasília dar uma receita única
para todos os Estados. Dizer que São Paulo é a mesma coisa da Bahia… não é. Alagoas,
não é. Pode ser que um Estado desse tenha muita mulher participando. No meu
Estado… eu luto por isso”, diz.
Ao Estadão,
o Diretório Nacional do PSD disse seguir a lei brasileira ao fazer os repasses,
mas reiterou que a prestação de contas é de responsabilidade dos candidatos.
“As
candidaturas são definidas pelas instâncias partidárias municipais e seguem a
legislação vigente. Os repasses do Fundo Especial de Financiamento de Campanha
seguiram a legislação e é dever das candidaturas realizar a prestação de contas
correspondente ao valor recebido, conforme estabelecido pela legislação. Todos
os votos recebidos pelas candidaturas proporcionais são somados para a
definição de cadeiras conquistadas pela chapa. O PSD Nacional também esclarece
que cumpre todos os aspectos da legislação vigente e as determinações da
Justiça Eleitoral”, disse o partido.
Nos
últimos anos, a reserva de recursos para candidaturas de mulheres e negros
vinha sendo estabelecida por meio de resoluções do TSE. Este ano, a norma foi
constitucionalizada por meio de uma Emenda Constitucional aprovada pelo
Congresso – a mesma que anistiou as multas e dívidas tributárias dos partidos políticos.
Promulgada em agosto, a emenda constitucional reservou 30% do Fundo Eleitoral e
do Fundo Partidário para candidaturas de pessoas negras e de mulheres. A emenda
também liberou os partidos de multas pelo descumprimento dessa reserva de
valores em eleições passadas.
Nilzete
do Baú: ’recursos foram usados de maneira transparente’
A
reportagem do Estadão procurou todas as candidatas mencionadas nesta
reportagem. Apenas uma, Nilzete do Baú (PSD), candidata a vereadora na cidade
de Guanambi (BA), respondeu. “Os recursos recebidos do Fundo Partidário foram
aplicados de maneira transparente e dentro da legalidade, conforme as
exigências da Justiça Eleitoral. A prestação de contas final ainda será
apresentada dentro do prazo regulamentar”, disse ela, em nota enviada por seu
advogado.
A
campanha da candidata foi registrada em suas redes sociais. Ela gastou R$ 72,5
mil, mas teve apenas 54 votos.
“O cenário político de Guanambi foi desafiador, sendo que calha de logo observar que a candidatura majoritária governista contra a qual a candidata Nilzete se colocou obteve 80,46 % dos votos no pleito”, diz o texto elaborado pelo advogado da candidata. “De outra banda, a oposição aos partidos governistas, onde se situava a candidata Nilzete, conseguiu eleger apenas dois vereadores em um total de 17 vagas. Essa conjuntura dificultou a candidatura de Nilzete, apesar de sua campanha focada em propostas e no contato com os eleitores”, diz um trecho.
Estadão
Não
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