"dar a outra face"




(*) Taciano Gustavo Medrado Sobrinho

A máxima bíblica de "dar a outra face", presente nos ensinamentos de Jesus no Sermão da Montanha, tem gerado debates ao longo dos séculos, tanto entre teólogos quanto entre estudiosos do comportamento humano e das dinâmicas sociais. À primeira vista, a frase parece um convite à passividade diante da injustiça, sugerindo que o agredido deve aceitar a violência sem contestação. No entanto, uma análise mais aprofundada revela que este ensinamento carrega uma complexidade moral e espiritual que vai além de uma simples resignação.

No contexto histórico, "dar a outra face" era uma resposta simbólica e desarmadora à opressão. Não se tratava de aceitar a violência como legítima, mas de expor o agressor ao ridículo moral. Ao oferecer a outra face, o agredido assumia uma postura de resistência não-violenta, desafiando o ciclo de ódio e vingança que perpetua os conflitos. É uma ideia que ecoa nos movimentos liderados por figuras como Gandhi e Martin Luther King Jr., que transformaram a não-violência em uma ferramenta de transformação social.

No entanto, essa postura, quando aplicada sem discernimento, pode ser mal interpretada ou explorada em contextos onde a violência é estrutural ou sistêmica. A submissão ao abuso contínuo, sem busca por justiça, pode reforçar o poder dos opressores e perpetuar a desigualdade. Nesse sentido, o ensinamento de "dar a outra face" precisa ser compreendido não como uma regra rígida, mas como um princípio moral que deve ser equilibrado com a busca ativa pela justiça.

A crítica a essa visão surge quando a interpretação literal do ensinamento é usada para justificar a inércia diante de situações de opressão, seja no ambiente familiar, social ou político. A moralidade cristã, baseada na compaixão e no perdão, não deve ser confundida com conivência com o mal. Perdoar não é sinônimo de tolerar, e oferecer a outra face não significa permitir que a dignidade seja esmagada.

Portanto, o desafio está em interpretar esse ensinamento à luz de sua intenção original: transformar relações humanas pela via do amor e da não-violência, mas sem ignorar a necessidade de justiça e dignidade. O verdadeiro equilíbrio reside em reconhecer que "dar a outra face" não é sobre aceitar passivamente o sofrimento, mas sim sobre desafiar o agressor a repensar suas ações e buscar, de forma ativa e consciente, a mudança necessária para um mundo mais justo.

(*) Professor e Psicopedagogo

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