Alfredo Romero, presidente da ONG Foro Penal, em entrevista coletiva no dia 14 de novembro de 2024 em Caracas.© Juan BARRETO
Um
militante da oposição na Venezuela faleceu nesta quinta-feira (14) sob custódia
das autoridades, em meio a denúncias de uma "crise repressiva" após a
contestada reeleição do presidente Nicolás Maduro.
Jesús
Martínez, de 36 anos, morreu em um hospital de Barcelona (estado de Anzoátegui,
leste) devido a um problema cardíaco, associado a complicações por uma diabetes
tipo II. No dia anterior, sua família havia denunciado o estado crítico de uma
perna com necrose, que precisava ser amputada.
Ele era militante do partido Vente Venezuela, liderado pela opositora María Corina Machado, que denuncia fraude na proclamação de Maduro e assegura que seu candidato, Edmundo González, venceu nas eleições de 28 de julho.
"Isto
é um crime, é um assassinato", disse à AFP Machado, que vive na
clandestinidade.
"Os
próprios companheiros que estavam presos imploraram para que o levassem a um
hospital, sua mãe passou dias e dias rezando para que o levassem. Quando chegou
ao hospital (...) ele já praticamente não tinha possibilidade de
salvação", acrescentou a opositora, que em comunicado no X responsabilizou
Maduro pelo ocorrido.
Martínez
foi detido em 29 de julho, poucas horas após a contestada proclamação de
Maduro, que a oposição e diversos países do mundo não reconheceram, gerando
protestos severamente reprimidos.
Ele fazia
parte do grupo de testemunhas que a oposição organizou para monitorar os votos,
e sua prisão foi considerada política.
Ele foi
preso "sem ordem de busca e apreensão e sem motivo algum", relatou
Machado. "O transferiram para celas desumanas em Anzoátegui, foi
severamente maltratado e mantido em condições de higiene tão precárias que
desenvolveu necrose em ambas as pernas".
"Os
médicos viram as pernas gangrenadas, disseram que era preciso amputá-las, mas
com poucas chances de sucesso", explicou.
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"Um número enorme" -
Os
protestos pós-eleitorais também resultaram em 28 mortos e mais de 200 feridos,
segundo o procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, que inicialmente
mencionou mais de 2.400 detidos, incluindo menores de idade.
Saab,
acusado de servir ao chavismo, disse esta semana à AFP que "muitos já
foram libertados", embora sem fornecer números exatos. O presidente
indicou pouco antes que "se houver algum caso a retificar e revisar,
[peço] também que se faça justiça".
A ONG
Foro Penal – que registra os detidos por razões políticas – contabilizou 1.979
presos.
É
"um número enorme", disse Alfredo Romero, presidente do Foro Penal,
que monitora os presos políticos. "Estamos falando do número mais alto de
presos políticos no século XXI, o mais alto de presos políticos em todo o
continente americano".
A maioria
dos presos na crise pós-eleitoral encontra-se nas prisões de segurança máxima
Tocorón (Aragua) e Tocuyito (Carabobo).
Antes de
28 de julho, data das presidenciais, o Foro Penal tinha registrado 305 presos
políticos.
Desde
2014, ao menos uma dúzia de "presos políticos" faleceu sob custódia
do Estado, segundo ativistas.
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"Mãos no coração" -
Entre as
prisões confirmadas pelo Foro Penal desde 29 de julho, dia em que estouraram os
protestos pela reeleição de Maduro, há 69 adolescentes e 10 pessoas com algum
tipo de deficiência.
Gonzalo
Himiob, vice-presidente do Foro Penal, destacou que 10 dos detidos têm
deficiências, como um jovem de 17 anos no espectro autista e outro de 27,
surdo, que não sabe ler, escrever ou se comunicar em língua de sinais.
Saab
afirmou que os adolescentes presos estavam em instituições para menores e
"com seus direitos humanos assegurados". "Na Venezuela, crianças
não ficam detidas, isso é mentira", insistiu.
Um grupo
de cerca de cem familiares de detidos se reuniu nesta quinta-feira em frente à
procuradoria para pedir a Saab sua libertação. "Que coloque as mãos no
coração e veja o caso, que são jovens inocentes", disse à AFP Jenny
Barrios, cujo filho de 22 anos foi preso na oficina mecânica onde trabalhava em
Maracaibo (estado de Zulia, oeste).
Além do
aumento das detenções, há violação da presunção de inocência, negativa ao
direito de defesa particular e falta de acesso aos detidos, informou Romero.
"O
mais característico é a quantidade de pessoas que passaram a ser presos
políticos, estamos falando de seis vezes mais do que a quantidade inicial de
presos políticos", detalhou o defensor de direitos humanos.
Fonte: AFP (mbj-jt/nn/am)
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