O mundo acompanhou a eleição americana. Jamais ela foi tão parelha quanto as pesquisas mostravam. Ora Kamala estava à frente, ora estava pouco atrás de Trump. Tudo dependia dos estados que ora são republicanos e ora são democratas. Eles decidiriam a eleição. E foi o que aconteceu!
Trump foi eleito, novamente, presidente dos EUA para os próximos 4 anos. Segundo a legislação americana, é sua última chance. O povo americano falou, e falou alto, dando uma vitória maiúscula a Trump. Mas o que isso significa pra nós, brasileiros?
Quando olhamos para a vitória de Trump, temos que entender o grito de insatisfação que ela demonstrou. Claramente, os americanos estavam satisfeitos. Em primeiro lugar com a economia, porém, todo o resto é subproduto disso.
O discurso de Trump sempre foi “vou melhorar a vida de vocês”. O que isto significou para o americano? Trump queria trazer de volta uma memória do que foi o seu governo: inflação baixa – evidentemente, antes da pandemia – mas, principalmente, uma ideia de prosperidade. Esta ideia colou no americano. Se ela é real ou não é outra discussão.
Trump e sua campanha foram espertos e canalizaram estes problemas para alguns responsáveis: o imigrante e a concorrência externa. Isto fechou uma espécie de círculo bem explicativo que os americanos entenderam e adotaram. O resultado nas urnas foi inegável, principalmente nos swings states, ou “estados pêndulos”, como estava sendo chamado no Brasil pela mídia.
No entanto, em defesa do governo Biden, ele não tinha pra onde correr. Consciente de que, diante de um cenário que caminhava para uma recessão brutal, ele tomou a decisão de produzir um choque inflacionário para combater esta recessão.
Podemos dizer que os democratas foram “destruídos” pela situação econômica.
Na verdade, os democratas receberam um problema sobre o qual eles não tinham ação alguma. A inflação nos EUA subiu, em 2022, por um choque de ofertas. Os produtos não chegavam. Esta foi a realidade! Em julho de 2022, a inflação bateu 9,1%, a mais alta em mais de 40 anos, a gente via os portos sem receber os produtos. Lei da oferta e da procura: se não recebo produto importado, o preço do produto americano sobe de preço.
Biden, neste quadro, quando assumiu o governo, a partir de 2020, tentou organizar – a seu modo – a produção, repondo as cadeias de produção. Ele até conseguiu. Nós temos uma ideia de que a economia americana vai mal. A economia não está ruim, o que não está bom é a percepção do povo americano. E o povo, mais uma vez, tem razão.
Os preços não baixaram do pico de 2022 e os salários, que até subiram, acompanharam, mas não no mesmo patamar. De 2019 a 2022 os salários subiram 12%, porém, de 2019 a 2023, os preços subiram mais de 25%.
Lá, como aqui, as pessoas reagem pelo bolso. Por exemplo, o valor de um galão de gasolina: o preço está mais ou menos no mesmo valor de 2020, o que já era muito alto. É uma reação altamente compreensível. O americano médio e pobre sentiu demais a inflação.
Agora a pergunta que não quer calar: o que isso influencia na relação com o Brasil? O que podemos esperar da relação Lula x Trump?
A nossa relação comercial com os EUA já recuperou o patamar anterior à pandemia, no entanto, Trump deixou muito claro que os governos que não são “muito amigos” – seja lá o que for isso -, ele vai mexer nas tarifas de importação. De cara, na primeira semana de governo, ele prometeu taxar todos os estrangeiros em 10%. Entretanto, aqueles que não forem ” muito amigos”, ele poderá colocar taxas maiores.
O exemplo clássico é o México, sobre o qual ele já disse que se eles continuarem a permitir a passagem de imigrantes, ele vai colocar uma taxa de 25% nos produtos importados daquele país.
Isso é o que preocupa o governo brasileiro que teve uma atitude afoita de apoiar, oficialmente, Kamala antes das eleições. Obviamente, para um chefe de estado, não era a posição mais aconselhável, principalmente, devido ao que Trump dizia desde o início de sua campanha, relativamente à relação dos demais países com os EUA de Trump.
Evidentemente, tanto nosso chanceler, Mauro Vieira, quanto o Assessor para Assuntos Internacionais, Celso Amorim não tiveram a atitude que se esperava de autoridades internacionais, e muito menos Lula, ou seja, o normal seria dizer, protocolarmente, que o Brasil apoiaria o resultado das eleições americanas. Simples assim.
Temos que dar os parabéns muito efusivos a Trump, tal como o resto da Europa fez. Uma coisa é a ideologia e outra é a relação comercial. O governo brasileiro precisa pensar mais no seu comércio e menos na resistência ideológica com o novo governo americano.
Fiquei coçando pra falar um pouco sobre a guerra na Ucrânia e Israel. Haverá alguma mudança? Vamos lá, vou me arriscar.
Este ponto é básico, porque por trás da Ucrânia, há toda a Europa ocidental. Esta Europa protegeu bastante Zelensky com medo do avanço de Putin, Trump disse durante sua campanha que acabaria com a guerra na Ucrânia em 24h. É bastante possível que isso possa acontecer, porque basta os EUA cortar o fluxo de armas para a Ucrânia e o consequente apoio.
Isso obrigaria a Ucrânia sentar-se à mesa de negociação em uma situação de fragilidade. Em outras palavras, aqueles 20% que a Rússia tomou, provavelmente, será definitivo. É neste quadro que a Europa se preocupa, com o dia de amanhã.
A Ucrânia “perder a guerra” tem um sentido muito claro para a Europa. A Europa fica muito exposta às pressões de Putin, sem a proteção dos EUA. Este é o motivo da pressa de Macron e dos demais líderes europeus em reconhecer a vitória de Trump.
O Secretário Geral da OTAN foi um dos primeiros a reconhecer a vitória de Trump, porque Trump já avisou que tem um projeto de que se os países europeus não aumentarem seus gastos, ele vai cortar os laços com a OTAN e isso pode parecer assustador. Trump está apostando numa pressão militar para fazer uma mudança política nos governos europeus. A Europa tem se preparado para isso.
Com relação a Israel e Gaza, Israel fica mais fortalecido? Mesmo Kamala, jamais abandonou o apoio a Israel. Isso é uma decisão de Estado. O problema está no tipo de apoio. Qual a grande diferença entre o apoio de Biden/Kamala e o apoio de Trump?
Há uma pressão mundial para que Netanyahu aceite a lógica de dois estados: Israel e Palestina. Este é o grande desejo dos Estados moderados. Trump vai aliviar a pressão sobre Israel com relação a isso. Vai apoiar um único Estado, dando força a Netanyahu, garantindo que a ideia dos dois Estados fique para depois.
O mais importante disso tudo é saber que Trump vai poder governar sem risco de seus projetos não serem aprovados pelas Câmaras (Alta e Baixa: em nossa língua, Senadores e Deputados), já que o Partido Republicano tem a maioria nas duas Casas. Precisa apenas de alguma negociação na Câmara Baixa (deputados) para cooptar alguns de centro e fazer maioria absoluta.
Trump termina seu discurso de agradecimento dizendo:
“Nada me impedirá de manter minha palavra para vocês, o povo. Faremos a América segura, forte e próspera, poderosa e livre de novo”.
(*) Advogado, analista de TI e editor do site O Boletim
Não
deixe de curtir nossa página Facebook e também Instagram para mais notícias
do TMNews do Vale (Blog do professor TM)
AVISO:
Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião
do TMNews do Vale (Blog do professor TM) Qualquer reclamação ou reparação é de
inteira responsabilidade do comentador. É vetada a postagem de conteúdos que
violem a lei e/ ou direitos de terceiros. Comentários postados que não
respeitem os critérios serão excluídos sem prévio aviso.
Postar um comentário