Um regime “Maisduro”



(*) Valter Bernat

Hoje vou falar um pouco de política internacional, tema que sempre deixo ao encargo da colunista Lígia Cruz, expert no assunto, mas há coisas que não dá pra segurar, e vou me arriscar.

Esta nova posse de Nicolás Maduro – a 3a – exibe uma ditadura ainda mais explícita, e cada vez mais isolada. Em primeiro lugar, “a 3a posse”, normalmente, significaria “continuidade”, só que esta é diferente, porque ela significa um agravamento do processo ditatorial na Venezuela. A 2a posse, em 2010, foi toda negociada, ao contrário desta.

Desta vez já havia a presença de um Estado forte, mas os disfarces agora caíram todos por terra, porque o impedimento à movimentação da oposição no dia anterior à posse, quando milícias armadas aterrorizaram a população e a impediram. Para se ter uma ideia, só em 2024 foram 28 mortes e mais de 200 feridos nas repressões às manifestações da oposição. Isso é grave aos olhos do mundo!

Depois das eleições, sem divulgação de atas e no grito, o mundo passou a olhar a Venezuela de outro jeito. É fácil comprovar esta afirmação, já que não houve qualquer liderança internacional presente ao ato da posse. Nenhum Chefe de Estado, nem da América Latina e nem de países ocidentais. Nem mesmo a Bolívia, que tem um projeto bolivariano, sequer mandou representante. Apenas dois Chefes de Estado estavam presentes. São os únicos que estão “contaminados” pelo mesmo processo ditatorial, ou sejam, Cuba e Nicarágua.

Os chanceleres de Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos da América (todo o G7), além do alto representante da União Europeia, reforçaram o compromisso de trabalhar com os cidadãos venezuelanos e a comunidade internacional para assegurar a democracia do país, como expressada na eleição de julho de 2024, com uma transição de poder pacífica.

Neste cenário, temos que pensar também na posse de Trump. Biden, em seu ato final com relação à Venezuela, fez o anúncio de uma recompensa de US$25MI pra quem encontrar um jeito de prender Maduro, obviamente, sem invadir e tomar a Venezuela.

Trump, que dia 20/1 sobe ao poder, sabe que quando se fala “de Venezuela”, não se fala “da Venezuela” e sim “de petróleo”. É bom saber que a Venezuela tem a maior reserva de petróleo do mundo, maior do que a da Arábia Saudita. Trump, assim como Biden, está de olhos bem abertos para esta situação. Eles sabem que a Venezuela pode mudar o preço do petróleo no mundo, com maior ou menor oferta e isso não interessa em nada a eles.

Certamente, Trump vai ser cauteloso em abordar este assunto. Independente de seu discurso, ele, na prática, será prevenido… não se arriscará. Vale observar o silêncio de Marco Rubio, futuro Secretário de Estado de Trump, porque ele sabe que, dentro das preferências de Trump, está uma “profunda amizade” com o setor petrolífero.

Quanto às sanções, as do governo Biden foram para indivíduos, ou seja, não atingiram a Chevron, a principal petrolífera americana que está na Venezuela. Para os EUA, em se tratando de petróleo, não há sanção! Com Biden já foi assim, mas com Trump será pior. Ouviremos muitos discursos duros contra a ditadura na Venezuela, mas punir a Venezuela onde vai doer mesmo, no bolso sobre o petróleo, Trump pensará duas vezes.

Será que há algum caminho possível para a oposição na Venezuela? A gente vê a situação degradante da população, que vive uma dura situação econômica da Venezuela. Números são um negócio meio chatinho, mas algumas vezes são eles que nos mostram a realidade. O PIB da Venezuela em 2013 era de US$258bi. Em 2023, este PIB caiu para US$97bi. É uma perda de 60% do PIB em 11 anos. Não há país que resista a isso. Um empobrecimento muito forte da população. Quem pôde, foi embora.

Só para termos uma ideia de quantidades, a guerra na Faixa de Gaza e a guerra da Ucrânia juntas produziram menos refugiados do que a Venezuela. Foram 7 milhões de refugiados. Só no Brasil há 600 mil, quase 3 milhões na Colômbia e perto de 1,5 milhões nos EUA.

Com tudo isso, como Maduro consegue se manter no poder? Simples e obviamente, pela força!

Quem comanda, na realidade, o regime na Venezuela é Vladimir Padrinho, atual Ministro da Defesa e Comandante do Exército venezuelano. Ele é o governo! Até mesmo Edmundo González, líder da oposição, já reconheceu que cometeu um engano. A oposição deveria ter procurado contatos mais fortes com os militares venezuelanos, que são de fato o fiel da balança, que mantêm a origem do poder.

Maduro teve que dividir o poder com quem ele menos gosta, que é Diosdado Capello, Ministro do Interior, Justiça e Paz da Venezuela. Desde os tempos de Chávez, os dois brigavam e disputava a liderança. Maduro teve que chamar e conversar com ele para se manter no poder. Enfim, quem decide mesmo na Venezuela são os militares, influindo diretamente na economia venezuelana. Eles não vão largar o poder tão facilmente.

A oposição venezuelana já reconheceu que deveria ter procurado os militares antes, por isso o quadro é bem difícil de se imaginar que haverá uma mudança na Venezuela, rapidamente.

Como caracterizar a detenção e, em seguida, a liberação de Maria Corina Machado?

Até mesmo as ditaduras têm facções. Provavelmente Corina foi presa por uma facção que não obedecia a Maduro, que, quando se deu conta do problema que estava criando, foi forçado a liberá-la, ou seja, houve um arranjo entre as facções de governo para a liberação dela.

Maduro se parece com o inofensivo bonecão de Olinda, mas com a alma do boneco Chucky, personagem de filme de terror.

(*) Advogado, analista de TI e editor do site carioca O Boletim

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