Ao Demitir a Ministra Nísia, Lula Declarou que Precisava de Mais "Agressividade na Política". Deveria Contratar Mike Tyson?



(*) Taciano Medrado

A recente demissão da Ministra da Saúde, Nísia Trindade, trouxe à tona um debate sobre os rumos do governo Lula e sua relação com a condução política. Segundo declarou á CNN Brasil  o presidente justificou a troca afirmando que era necessário mais "agressividade na política". 

Essa declaração, por si só, desperta reflexões importantes: desde quando agressividade se tornou critério de competência na gestão pública? Se essa for a nova diretriz do governo, talvez a próxima nomeação devesse ser Mike Tyson, afinal, poucos simbolizam melhor a agressividade do que o lendário boxeador.

A metáfora pode parecer exagerada, mas expõe um dilema fundamental. A administração pública deve ser pautada por estratégia, diálogo e competência técnica, ou pela imposição da força e da truculência?  Nísia Trindade, uma acadêmica respeitada, conduziu a pasta da Saúde com equilíbrio, superando desafios como a recuperação do Programa Nacional de Imunizações e a reconstrução do SUS pós-pandemia. 

Sua saída repentina e a justificativa presidencial lançam dúvidas sobre a real prioridade do governo: eficiência na gestão ou jogo político?

O termo "agressividade" pode ser interpretado de diferentes formas. Na política, pode significar postura firme, articulação eficiente e enfrentamento estratégico de adversidades. No entanto, também pode ser entendido como intransigência, imposição autoritária e descaso pelo diálogo democrático. 

O problema central da fala de Lula é que, em um momento de polarização e instabilidade e de queda na popularidade do presidente, qualquer flerte com uma política mais agressiva pode facilmente descambar para o confronto destrutivo.

Curiosamente, se formos levar ao pé da letra a sugestão implícita na declaração do presidente, a metáfora do boxeador faz ainda mais sentido. 

No ringue político, os adversários não lutam apenas com socos e esquivas, mas com discursos, alianças e estratégias de longo prazo. Mike Tyson, apesar de sua brutalidade lendária, não venceu apenas pela força; ele também perdeu lutas por falta de preparo emocional e tático. Da mesma forma, um governo que prioriza a agressividade sem um plano estruturado pode acabar nocauteado pelos próprios erros.

Outro aspecto preocupante é o recado que essa mudança passa para outros ministérios. Será que agora todos os ministros precisarão adotar uma postura mais beligerante para permanecerem no cargo? A "agressividade política" será a nova métrica de avaliação dentro do governo? Se esse for o caso, há o risco de uma guinada para um modelo de gestão baseado em confrontos e retaliações, algo que historicamente já demonstrou ser desastroso.

A política não pode ser reduzida a um ringue de boxe. A população não precisa de nocauteadores, mas de gestores eficientes, capazes de conduzir políticas públicas com responsabilidade e visão de futuro. 

No final das contas, talvez o governo não precise de um Mike Tyson, mas de um enxadrista habilidoso, que compreenda o tabuleiro e saiba mover suas peças sem sacrificar aqueles que fazem o jogo funcionar.

Se Lula deseja que sua gestão seja lembrada pela competência e pela transformação social, deve repensar a maneira como justifica suas mudanças ministeriais. Agressividade pode ser um diferencial em certas circunstâncias, mas na política, muitas vezes, é o diálogo que vence a luta.

(*) Professor e Analista político

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