(*) Taciano Medrado
Luiz Inácio Lula da Silva sempre foi um político carismático, com forte apelo popular. No entanto, em seu terceiro mandato como presidente, um fator inesperado tem contribuído para o desgaste de sua imagem: a atuação de sua esposa, Rosângela da Silva, mais conhecida como Janja.
Desde o início do governo, Janja tem demonstrado um protagonismo incomum para uma primeira-dama, rompendo com a tradição de discrição que marcou outras esposas de presidentes. Sua interferência em temas políticos, o acesso privilegiado às decisões de governo e a forma como conduz sua influência sobre Lula têm gerado desconforto até mesmo dentro do próprio Partido dos Trabalhadores (PT).
O episódio envolvendo a escolha do novo presidente da Petrobras é um exemplo claro desse cenário. As informações de bastidores indicam que Janja teve participação ativa na pressão para a substituição de Jean Paul Prates, o que gerou instabilidade no mercado e aumentou as críticas sobre a condução do governo na estatal. Seu envolvimento direto em questões que deveriam ser tratadas por ministros e técnicos reforça a ideia de que Lula está permitindo uma influência excessiva da esposa em temas de alta relevância.
Além disso, suas postagens nas redes sociais frequentemente provocam polêmicas desnecessárias, distanciando o governo da realidade da população.
O recente episódio envolvendo Janja da Silva e Elon Musk reforça ainda mais a percepção de que a primeira-dama está assumindo um protagonismo político desnecessário e, pior, de forma inadequada. O insulto público direcionado ao bilionário sul-africano não apenas expôs uma postura agressiva e pouco diplomática, mas também colocou o governo Lula em uma posição delicada diante de um dos empresários mais influentes do mundo.
Independentemente das críticas que possam ser feitas a Musk, uma primeira-dama deve entender que sua posição exige um mínimo de decoro e estratégia. Ao partir para um ataque pessoal, Janja não apenas desvia o foco dos problemas reais do país, como também alimenta uma crise diplomática desnecessária. Esse tipo de postura não condiz com a seriedade que se espera de alguém tão próximo ao chefe de Estado.
O papel de uma primeira-dama não é o de atuar como militante radical, mas sim de contribuir para causas sociais, ajudar na articulação institucional e reforçar a imagem do governo. No entanto, Janja parece cada vez mais inclinada a se comportar como uma ativista descontrolada, sem medir as consequências de suas palavras e ações.
Se Lula não souber conter essa influência negativa, sua imagem continuará se desgastando, e o governo enfrentará ainda mais turbulências desnecessárias. O Brasil precisa de liderança e diplomacia, não de brigas de redes sociais protagonizadas por quem sequer foi eleita para representar o país. Em um momento em que o país enfrenta desafios econômicos, com alta nos preços dos alimentos e combustíveis, o tom desconectado e, por vezes, arrogante de Janja só piora a percepção pública do governo.
O impacto desse comportamento já é visível nas pesquisas de popularidade. O desgaste da imagem de Lula não vem apenas da oposição, mas também de setores que antes o apoiavam e agora demonstram insatisfação com a forma como o governo vem sendo conduzido. Janja, que deveria assumir um papel de apoio e articulação social nos bastidores, tem se tornado um foco de ruído e atrito.
O Brasil elegeu Lula, não sua esposa. Quando uma primeira-dama ultrapassa os limites de sua função institucional e passa a influenciar decisões políticas, o risco de crises desnecessárias aumenta.
Por fim, o tempo dirá se Lula conseguirá conter essa influência ou se permitirá que sua imagem continue a ser corroída por erros que poderiam ser facilmente evitados.
Vamos aguardar!
(*) Professor e Analista político
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