(*) Taciano Medrado
Em um país repleto de desafios urgentes, onde milhões enfrentam dificuldades diárias com saúde, educação e segurança, é revoltante ver políticos transformando a arena pública em um palco de infantilidade e distração.
A recente “guerra de bonés” entre figuras da política nacional evidencia não apenas a falta de seriedade dos agentes públicos, mas também o esvaziamento do debate sobre questões realmente relevantes para a população.
O que deveria ser um espaço de confronto de ideias se tornou um espetáculo deprimente, no qual símbolos partidários, cores e slogans importam mais do que propostas concretas. Discute-se mais sobre quem usou qual acessório, do que sobre como resolver problemas estruturais que afligem o país há décadas.
Enquanto isso, o cidadão comum, que acorda cedo para enfrentar transportes precários, hospitais superlotados e salários defasados, assiste a esse teatro com uma mistura de indignação e impotência.
O cenário político nacional parece cada vez mais dominado por líderes que preferem alimentar a polarização e a cultura do “nós contra eles” em vez de assumir compromissos reais com o desenvolvimento do país. O culto à imagem e ao marketing pessoal tem substituído o trabalho sério e a responsabilidade pública. O debate se reduz a símbolos e gestos vazios, como se vestir um boné fosse uma solução para os problemas nacionais.
O mais preocupante é que essa superficialidade não é uma anomalia, mas um reflexo de uma sociedade cada vez mais acostumada ao espetáculo político. A indignação se transforma em meme, o protesto vira curtida e o engajamento se limita a xingamentos nas redes sociais. Poucos param para cobrar ações concretas, e os políticos, percebendo essa realidade, continuam investindo em gestos teatrais, enquanto decisões importantes são tomadas nos bastidores, longe dos olhos da população.
O Brasil precisa de políticos comprometidos com a resolução de problemas reais, e não de marqueteiros travestidos de líderes.
Enquanto a política for reduzida a uma batalha simbólica, o país continuará patinando, refém de crises fabricadas para desviar a atenção do que realmente importa.
Até o ex-ministro Ciro Gomes(PDT) decidiu do seu tradicional jeitão aproveitar e entrar na "Guerra dos Bonés" nesta quarta-feira (5), aparecendo nas redes sociais com um boné amarelo escrito: "vão trabalhar, vagabundos".
(pic.twitter.com/D7qlsTktr0 — Ciro Gomes (@cirogomes) February 5, 2025.).
A palhaçada circense começou no último sábado (1º), quando ministros e parlamentares da base do governo foram ao Congresso Nacional para a eleição da Câmara e do Senado, com o acessório na cor azul, escrito: "o Brasil é dos brasileiros".
O objeto foi alvo de críticas por parte da oposição. Na segunda-feira (3), primeiro dia dos trabalhos legislativos após o recesso, a sessão solene de abertura do ano foi tomada por parlamentares utilizando bonés, com trocas de farpas. Isso porque a oposição decidiu aderir ao acessório, desta vez, apoiando o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). "Comida barata novamente - Bolsonaro 2026", traziam escrito no boné verde e amarelo.
O adereço tomou tanta proporção que até o presidente Lula decidiu entrar na discussão, publicando também uma foto com o boné azul. Os deputados contrários ao governo atribuem a ideia ao novo ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da presidência, Sidônio Palmeira.
O novo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), pareceu não gostar muito da polêmica. "Boné serve para proteger a cabeça, não para resolver os problemas do país", publicou na sua conta do X (antigo Twitter).
Um país onde a disputa política se resume a uma “guerra de bonés” não pode – e não deve – ser levado a sério. Mas a pergunta que fica é: até quando aceitaremos isso?
(*) Professor e Analista político
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