Ouvimos sempre dizer que as perguntas são mais importantes do que as resposta, porém, apesar de se fazer perguntas ser considerado um ato simples e poderoso, vale algumas reflexões significativas e intrigantes no que se refere ao ato de perguntar
A humanidade só chegou onde está porque aprendeu a perguntar. Desde a infância, a curiosidade natural nos leva a questionar o mundo: por quê? Como? Para quê? São perguntas que moldam nosso entendimento e alimentam o desejo de ir além. Contudo, nem toda pergunta tem o mesmo objetivo.
Em qualquer situação, formal ou informal, as perguntas podem cumprir três funções principais: aprender e se informar, ensinar algo a alguém e até mesmo envergonhar quem pergunta. Vamos entender melhor essas possibilidades.
Função 1: Perguntar para aprender e se informar
Esta é, sem dúvida, a função mais genuína e natural das perguntas. A criança que quer saber por que o céu é azul ou o estudante que levanta a mão para entender uma equação demonstram que perguntar é a principal ferramenta para quem deseja aprender. Perguntar é admitir que não sabe — e isso exige humildade. Só aprende quem tem a coragem de dizer: “eu não sei, mas quero saber”. Quando alguém faz uma pergunta com o intuito de se informar, está buscando ampliar seu repertório e seu entendimento sobre determinado assunto.
Na vida cotidiana, todos fazemos isso o tempo inteiro. Quando perguntamos onde fica determinado lugar, como funciona um aparelho novo, ou qual o melhor caminho para resolver um problema, estamos em busca de informação. O conhecimento adquirido nesse processo se transforma em experiência e sabedoria. É assim que construímos nossa visão de mundo. Perguntar para aprender é um sinal de inteligência e de maturidade, pois quem acredita saber tudo fecha as portas para o conhecimento.
Função 2: Perguntar para ensinar e provocar reflexão
Curiosamente, há momentos em que a pergunta não é feita para obter uma resposta, mas para provocar reflexão e, de forma indireta, ensinar algo ao outro. O professor é mestre nesse recurso. Ele faz perguntas não porque não saiba a resposta, mas porque quer despertar no aluno o raciocínio, o pensamento crítico e a autonomia intelectual.
Perguntar para ensinar é também uma estratégia poderosa em conversas cotidianas e debates. Às vezes, ao invés de afirmar algo diretamente, fazer uma pergunta pode levar a outra pessoa a refletir e chegar à conclusão por si mesma. É como Sócrates fazia com seus discípulos na Grécia Antiga. Ele não dava respostas prontas, mas fazia perguntas que levavam seus interlocutores a pensar profundamente, descobrir contradições e encontrar, por conta própria, novos caminhos de entendimento. Essa é a chamada “maiêutica”, um método de ensino baseado em perguntas que provocam o nascimento de ideias dentro de quem responde.
No mundo atual, em que informações são jogadas de forma rápida e superficial, perguntar para ensinar é um convite ao aprofundamento. Quem pergunta com sabedoria pode ajudar o outro a se tornar mais consciente e reflexivo.
Função 3: Perguntar para envergonhar quem pergunta
Por outro lado, existe um tipo de pergunta que revela mais sobre quem pergunta do que sobre o tema em questão. Perguntas podem expor desconhecimento, preconceito ou até ingenuidade. Há quem diga que “não existe pergunta boba”, mas a verdade é que, em certos contextos, algumas perguntas podem gerar constrangimento.
Imagine uma reunião de trabalho, onde um participante faz uma pergunta que revela que ele não leu o relatório enviado anteriormente ou que não entendeu o básico do assunto discutido. A pergunta pode até ser sincera, mas acaba causando desconforto. Nesse caso, a pergunta envergonha o próprio perguntador, pois mostra despreparo ou falta de atenção.
Outro exemplo é quando a pessoa faz uma pergunta carregada de julgamento ou ignorância, revelando preconceitos. Um comentário disfarçado de pergunta, como “Por que alguém escolheria viver desse jeito?”, pode ser ofensivo e preconceituoso. Aqui, a pergunta não só expõe a visão limitada de quem fala, como pode envergonhar publicamente.
É importante lembrar que, em algumas situações, a exposição gerada pela pergunta não vem do conteúdo em si, mas do contexto. Perguntar algo óbvio demais pode fazer com que a pessoa seja vista como desatenta. Perguntar algo fora de hora pode parecer insensível. Por isso, ao perguntar, devemos ter consciência do ambiente, do tom e da intenção.
Saber perguntar é uma arte. Perguntas podem abrir portas, mas também fechá-las. Podem construir pontes de diálogo, mas também cavar abismos de mal-entendidos. A intenção por trás de uma pergunta define seu efeito.
Perguntar para aprender exige humildade e disposição para ouvir. Perguntar para ensinar exige sabedoria e empatia. E perguntar de modo que envergonhe o perguntador exige, muitas vezes, autoconhecimento para perceber a própria limitação e lidar com isso de forma madura.
Devemos também ter consciência de que todos, em algum momento, faremos perguntas que possam nos expor ao ridículo ou ao desconhecimento. Isso faz parte do aprendizado. O medo de parecer ignorante não deve nos impedir de perguntar, mas é prudente pensar antes de falar, avaliando o que realmente queremos saber e por quê.
Por fim, as perguntas são ferramentas poderosas de comunicação, aprendizado e ensino. Elas podem nos levar a novos conhecimentos, ajudar o outro a pensar diferente ou, às vezes, mostrar nossos próprios limites e fragilidades. Quando bem utilizadas, as perguntas transformam diálogos em pontes para o crescimento pessoal e coletivo. Perguntar é humano. E é através das perguntas certas, no momento certo, que evoluímos como indivíduos e como sociedade.
Por isso, quando você pensar em perguntar, lembre-se das sua três funções essenciais: Perguntar com vontade de aprender, com a intenção de ensinar e com a consciência de que toda pergunta revela algo sobre quem a faz.
(*) Professor e psicopedagogo
Não deixe
de curtir nossa página Facebook e também Instagram para
acompanhar mais notícias do TMNews do Vale (Blog do professor TM)
AVISO: Os
comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do
TMNews do Vale (Blog do professor TM) Qualquer reclamação ou reparação é de
inteira responsabilidade do comentador. É vetada a postagem de conteúdos que
violem a lei e/ ou direitos de terceiros. Comentários postados que não
respeitem os critérios serão excluídos sem prévio aviso.
Postar um comentário