CASO VITÓRIA: Sempre que eu penso que já vi o pior da humanidade, ela me surpreende ainda mais.

 


(*) Taciano Medrado

Essa frase tem martelado na minha cabeça todas as vezes que assisto ao noticiário ou leio algum relato sobre a violência urbana. Vivemos tempos em que a banalização da brutalidade se tornou quase rotina, e parece que já não nos surpreendemos mais com a frieza de alguns atos. Mas, ainda assim, a humanidade sempre dá um jeito de nos chocar um pouco mais.

Assim com eu, milhões de brasileiros acompanham angustiados e estarrecidos a mais um brutal, covarde e hediondo crime praticado contra uma linda jovem inocente de 17 anos de idade, cheia de vida e sonhos comuns nessa idade chamada Vitória Regina de Sousa, de 17 anos, em Cajamar, na Região Metropolitana de São Paulo.

Nem nos mais tenebrosos filmes policiais que gosto de assistir vi algo tão cruel. Uma trama maquiavélica orquestrada, quem sabe,  por um cérebro de um psicopata, ou melhor de sete psicopatas (números de pessoas indicadas pelas investigações da polícia Civil de terem participado do crime).

Para o crime ficar mais aterrorizante, o pai da garota foi incluído como um dos suspeitos de participação pelas equipes de investigação,  segundo a CNN Brasil.

Hoje, as ruas que deveriam ser espaços de convivência e encontro se transformaram em cenários de medo. O semáforo fechado, que antes era só um instante de espera, virou um momento de tensão. O celular na mão virou risco. A mochila no banco do carro virou alvo. O trajeto de casa até o trabalho ou a escola virou uma loteria de sobrevivência. Vivemos cercados por grades, câmeras e desconfiança. E o mais triste é perceber que nos acostumamos.

Mas como chegamos até aqui? O que explica uma sociedade em que o simples ato de sair de casa pode ser uma ameaça à própria vida? Em que um celular ou um tênis vale mais que uma existência? Em que crianças crescem escutando tiros no lugar de cantigas de roda? Não podemos fingir que isso é normal.

A violência urbana não é um fenômeno isolado. Ela nasce da desigualdade, da falta de oportunidades, do descaso de políticas públicas que falharam em garantir dignidade para todos. Cresce em ambientes onde a educação de qualidade não chega, onde a saúde é precária, onde o emprego é um privilégio de poucos. Alimenta-se do abandono. E quando o Estado não cumpre seu papel de proteger e promover a vida, o crime ocupa o espaço vazio.

Por outro lado, não podemos simplificar e achar que toda violência vem só da pobreza. Não. A crueldade que vemos em assaltos, latrocínios e agressões está espalhada em todas as camadas da sociedade. Está na intolerância de quem não aceita a diferença. Está no preconceito que gera violência contra mulheres, negros, LGBTQIA+, indígenas. Está na indiferença de quem vira o rosto para a dor do outro.

Sempre que eu penso que já vi o pior da humanidade, ela me surpreende ainda mais. Quando achamos que nada pode ser mais cruel do que o que já aconteceu, vem uma nova tragédia, uma nova vítima inocente, um novo ato de barbárie para mostrar que ainda há espaço para piorar. E o mais perigoso disso tudo é que estamos nos anestesiando. Aos poucos, vamos aceitando que a violência faz parte da paisagem urbana, como se fosse algo inevitável.

Mas não é. A violência não é natural. Ela é resultado de escolhas políticas, econômicas e sociais. E se foi construída, também pode ser desconstruída. Só que isso exige mais do que polícia nas ruas ou grades nas janelas. Exige educação de qualidade desde a infância. Exige políticas públicas sérias de inclusão e oportunidades. Exige saúde, cultura, esporte. Exige humanidade.

A verdadeira segurança nasce quando as pessoas têm dignidade, quando não precisam recorrer ao crime para sobreviver, quando há justiça social. Nasce quando o respeito e a empatia voltam a ser valores ensinados dentro de casa e nas escolas. E é isso que precisamos resgatar.

Porque, sinceramente, eu não quero mais me surpreender com o pior da humanidade. Quero me surpreender com o melhor que podemos ser.

(*) Professor e psicopedagogo

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