(*) Teobaldo Pedro
A saúde mental nunca esteve tanto em pauta quanto nos dias atuais. Com o crescente reconhecimento de sua importância, ela finalmente tem sido tratada de maneira mais séria, não apenas como um tema relacionado ao bem-estar individual, mas também como uma questão de saúde pública. Atletas de renome, como os surfistas Tati Webb e Filipe Toledo, se afastaram das competições para priorizar o cuidado com a saúde mental. Esse fenômeno não é isolado: profissionais de diversas outras áreas também têm se retirado de suas atividades para preservar seu equilíbrio emocional. O afastamento não deve ser encarado como sinal de fraqueza ou desequilíbrio, mas como um ato de inteligência e autoconsciência. Cuidar da saúde mental reflete coragem, amor-próprio e uma tomada de decisão consciente de romper com padrões que muitas vezes negligenciam o bem-estar emocional.
O conceito de "mens sana in corpore sano" ilustra bem o elo intrínseco entre a saúde mental e o funcionamento adequado do corpo. Estudos científicos comprovam que o estresse, a ansiedade e a depressão afetam diretamente a saúde física. A psicóloga e professora da Universidade de Harvard, Dr. Ellen Frank, afirma que “os distúrbios mentais podem ser um fator determinante para a ocorrência de doenças físicas, como doenças cardíacas e hipertensão”. A realidade psicossomática, que compreende a interação entre mente e corpo, mostra como o sofrimento emocional pode se manifestar fisicamente. O estresse crônico, por exemplo, é um fator desencadeante de diversas doenças, como úlceras gástricas, doenças cardiovasculares e problemas musculoesqueléticos. Em muitos casos, a mente não processa adequadamente o estresse, e isso se reflete no corpo, como se as emoções não resolvidas se transformassem em sintomas físicos. O funcionamento pleno do organismo está profundamente ligado a um equilíbrio emocional saudável. Quando a saúde mental está comprometida, os efeitos são amplificados, criando um ciclo vicioso que afeta tanto o corpo quanto a mente.
No entanto, a sociedade contemporânea está imersa em um cenário de pressões constantes. A busca incessante por resultados e a cultura de produtividade exacerbada criam ambientes hostis ao equilíbrio emocional. As expectativas familiares, sociais e profissionais impõem uma pressão que aumenta os níveis de estresse e ansiedade. A pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) revelou que, em 2021, mais de 264 milhões de pessoas em todo o mundo convivem com a depressão, enquanto a ansiedade atinge cerca de 284 milhões de indivíduos. Esses dados são alarmantes e revelam uma epidemia silenciosa que afeta milhões de vidas, muitas vezes sem o devido tratamento ou compreensão.
A crescente intolerância entre segmentos diversos do tecido social brasileiro também contribui para o agravamento do cenário de saúde mental. A sociedade, cada vez mais polarizada, tem visto um aumento significativo de discursos de ódio e discriminação. Estudos indicam que, entre 2017 e 2022, a plataforma Disque 100 registrou um total de 293,2 mil denúncias de crimes de ódio motivados por intolerância, afetando indivíduos com base em sua identidade de gênero, orientação sexual, etnia, nacionalidade ou religião. Esses dados ilustram a crescente hostilidade no tecido social e seu impacto direto no estado emocional e psicológico da população. Os especialistas alertam que a intolerância não só fomenta a violência como também alimenta o isolamento social e o sofrimento mental, fatores que precisam ser abordados com urgência.
Além disso, a proliferação de políticos descomprometidos com a construção de políticas públicas eficazes e a fragilidade de setores essenciais, como saúde e educação, agravam ainda mais a crise da saúde mental. Um estudo realizado pelo Instituto de Saúde Mental da Universidade de São Paulo (USP) revelou que os serviços de saúde mental no Brasil ainda são insuficientes para atender à demanda crescente. A falta de investimento e estrutura nos centros de atendimento psicológico e psiquiátrico contribui para o agravamento dos quadros de depressão e ansiedade, que afetam milhares de brasileiros.
Apesar desse cenário sombrio, não se pode perder a esperança. Há uma nova geração de jovens com uma mentalidade mais aberta ao diálogo, à cooperação e à solidariedade. Estudiosos como o sociólogo Zygmunt Bauman destacam que, embora vivamos em tempos de incerteza, é possível construir pontes e promover um entendimento mútuo, enfatizando a necessidade de valores como a empatia, a responsabilidade social e o autocuidado. O foco na saúde mental tem se expandido nas universidades, nas escolas e em movimentos sociais, que vêm promovendo práticas de acolhimento e apoio emocional. Além disso, observa-se um crescente movimento por uma espiritualidade autêntica e equilibrada, que fomenta o amor ao próximo e o engajamento em causas sociais positivas. Esses avanços apontam para um futuro mais harmonioso e saudável.
O cuidado com a saúde mental não é uma questão apenas de bem-estar individual, mas de responsabilidade coletiva. A saúde mental deve ser uma prioridade em todos os níveis de governo – municipal, estadual e federal. Em um país onde a crise de saúde mental já alcançou proporções alarmantes, é fundamental que as políticas públicas de saúde mental sejam amplamente divulgadas e acessíveis a todos. A falta de um sistema de apoio robusto e eficaz não só aumenta o sofrimento psicológico, mas também compromete a produtividade e a qualidade de vida da população.
Creio que se um indivíduo não está mentalmente saudável, ele jamais será verdadeiraente feliz, independentemente das circunstâncias externas. O cuidado com a saúde mental é essencial para a construção de uma sociedade saudável, equilibrada e capaz de enfrentar os desafios do futuro. Portanto, é urgente que a saúde mental se torne uma prioridade em todos os níveis de governo, pois a saúde emocional de um povo reflete diretamente na qualidade de vida de toda uma nação. Algo a se pensar!
(*) É pastor evangélico há 30 anos e tem forte atuação na área social do Vale do São Francisco, desenvolvendo diversas ações nesse segmento há três décadas, tendo sido parceiro na criação de vários projetos de inclusão em Juazeiro e região. Ele tem formação em Teologia, Psicanálise Clínica, Educação Religiosa e Filosofia. Fez especialização em Radialismo, atuando por vários anos na área. É também professor e escritor. Em 2013, ganhou o título de Dr. Honoris Causa pela Genesis University. Colunista do TMNews do Vale (Blog do professor Taciano Medrado)
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