Ponha ordem em seu caos interior



(*) Teobaldo Pedro

O mundo em que vivemos está caminhando a passos céleres rumo ao caos. E o que vem a ser caos? Eu defino como, desordem, desarrumação, falta de estrutura, de base, de sentido, de propósito, anarquia, ausência de leis ou regras que estabeleçam limites, uma ruptura. Um ambiente onde o tudo ou o nada podem existir de súbito e bagunçar inteiramente qualquer realidade, sem que haja qualquer tipo de aviso. Esta é a livre definição de caos.

Porém, a desordem porque passa o mundo moderno é bem mais gritante profunda e perigosa. Falo da desordem do ser. Do homem que se perde cada vez mais de si mesmo, interna e externamente, intrínseca e extrinsecamente, dos seus valores, da sua essência, da sua alma, e assim, se distancia, cada vez mais, de Deus, de sua Palavra e princípios. Falo de um caos gradativamente generalizado no qual os valores já não valem tanto como antes, arregimentando adeptos defensores dessa postura momento a momento. Um tipo de caos onde a paz é só uma figura de retórica e a ambição desenfreada passa a ser o "estímulo-mor" para uma geração consumista e narcísica. Falo de uma sociedade na qual o consumo - a meca sagrada do materialismo - se estabelece primeiro na alma, no coração de cada ser, o aprisonando dentro da ilusão de que só será importante, apreciado e amado se possuir muitas coisas boas, diferenciadas e "de griff", preferencialmente. Achando, equivocadamente, que somente assim serão especiais e bem sucedidas. Ledo e tolo engano!

E é nesse horizonte materialista, onde a supremacia hedonista e financeira centrada no homem se fazem dominantes, que cada vez mais pessoas se aninham para tentar sobreviver na sociedade chamada pós-moderna. Sociedade esta na qual os contatos reais passaram a ser subestimados e surrupiados, e estão sendo, pouco a pouco, subjugados pela virtualidade fria, insensível e distante, que prescinde do toque, do olhar, do ouvir, do sentir, do ser...do estar próximo. Isso porque a proximidade desintegra o mito da relativa perfeição e superioridade do homem aos olhos do próprio, porquanto lhe revela a própria essência finita e tal finitude assusta pois recorda a existência do "tanatos", que é a morte, o suposto "fim da vida", isso para os que que creem unicamente num existir material, físico, temporal, psíquico e terreno apenas.

Uma sociedade em que ser honesto é, para muitos, sinônimo de fraqueza e ser corrupto demonstra senso de oportunidade. Sociedade essa permeada pela hipocrisia farisaica dos que condenam em público práticas que lhe são comuns e cotidianas na alcova da intimidade e do poder pervertido pela cobiça.

É é nessa sociedade "carcomida" pelo vírus da ambição, possuída pelo hedonismo egocêntrico do ser, pulverizada pelos destroços da busca por aceitação, que vislumbramos seres contaminados tanto pela "mosca azul do poder", como por toda uma plêiade de contaminações da alma moderna que inviabiliza, infelizmente, uma projeção de um futuro harmônico e glorioso.

O mundo em caos começa, enfim e na verdade, dentro de nós mesmos. Nessa constante insatisfação com a vida simples e com a normalidade das coisas. Por conta duma desenfreada, quase obsessiva e compulsiva, busca "pelo novo", pelo que é “excitante" e "pela adrenalina" - tanto do "soma", que é o corpo, como do "ânima", que é a alma. Esquecendo-se nesse contexto de um terceiro e essencial elemento, que é a "amálgama", a liga que une e completa a percepção sutilmente harmônica e equilibrada entre emoção e razão, a qual nos impede de sucumbir por completo a um sistema que se não é "endemoninhado ou possuído" é "demonizante e satanizado na essência de sua 'práxis' antropocêntrica" e em suas idéias humanistas ao extremo que excluem Deus como pessoa, agente da História na vida do Homem e mesmo o repudiam, ainda que seja como uma idéia ou compreensão perceptiva da transcendência e espiritualidade humana, algo abjeto na visão do mundo caótico degenerado e ensimesmado, ou qualquer coisa que "cheire ou beire" a busca por uma sincera e verdadeira relação de espiritualidade com o transcendente, o Eterno ou como diriam alguns filósofos o "Absoluto".

O mundo auto-suficiente é um mundo, a cada dia mais e mais, sem Deus e no qual o homem é "autoproclamado Deus" de si mesmo. Este mundo "se aboletou" no altar da auto-exaltação e ali aninhado espera ser o autor da própria redenção pelos caminhos da ciência, do saber, do conhecimento analítico racional e da análise pragmática e lógica.

Esquecem-se, tais homens, de que não são os primeiros, mas podem ser os últimos a pensar, agir e reagir dessa forma ao inusitado e ao imprevisível agir Daquele que tudo pode. Podem ser surpreendidos por uma forma de "repentina destruição", por não respeitarem a vida, o outro e a ética da existência que clama pelo respeito e amor a Deus e ao seu próximo.

(*) É pastor evangélico há 30 anos e tem forte atuação na área social do Vale do São Francisco, desenvolvendo diversas ações nesse segmento há três décadas, tendo sido parceiro na criação de vários projetos de inclusão em Juazeiro e região. Ele tem formação em Teologia, Psicanálise Clínica, Educação Religiosa e Filosofia. Fez especialização em Radialismo, atuando por vários anos na área. É também professor e escritor. Em 2013, ganhou o título de Dr. Honoris Causa pela Genesis University. Colunista do TMNews do Vale (Blog do professor Taciano Medrado)


Não deixe de curtir nossa página Facebook e também Instagram para acompanhar  mais notícias do TMNews do Vale (Blog do professor TM)

 

AVISO: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do TMNews do Vale (Blog do professor TM) Qualquer reclamação ou reparação é de inteira responsabilidade do comentador. É vetada a postagem de conteúdos que violem a lei e/ ou direitos de terceiros. Comentários postados que não respeitem os critérios serão excluídos sem prévio aviso.

Faça um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem