Professora de Petrolina vence prêmio com projeto que une tecnologia e aprendizado sobre a Caatinga


Estudantes ganharam certificado após participação no projeto "Hackers da Caatinga" | Foto: Cortesia

Uma professora de matemática da rede municipal de ensino de Petrolina, no Sertão de Pernambuco, recebeu destaque nacional com um projeto inovador que une tecnologia e aprendizado sobre a Caatinga.

Willmara Marques Monteiro compartilha conhecimento sobre o bioma com os estudantes da Escola Municipal Paulo Freire, por meio do projeto “Hackers da Caatinga”, com atividades educativas "desplugadas" e "plugadas".

Ela foi vencedora na categoria "Melhor Projeto de Tecnologia do Brasil", na 2ª edição do Prêmio Professor Porvir, que reconhece práticas inovadoras na educação básica brasileira, destacando iniciativas conectadas com a realidade dos estudantes e das escolas.

"Sempre acreditei que a matemática e a tecnologia podem ser ferramentas poderosas para transformar a forma como os estudantes enxergam o mundo. Quis mostrar que é possível programar jogos incríveis, resolver problemas matemáticos desafiadores e, ao mesmo tempo, aprender sobre a fauna, a flora e os desafios ambientais da Caatinga", destacou a professora Willmara Marques.

No laboratório de informática da unidade de ensino de Petrolina, o projeto “Hackers da Caatinga” promove aprendizado interdisciplinar por unir pensamento computacional, matemática, história, geografia, ciências e português sobre a temática.

Idealizada em 2024 com 26 estudantes do 6º ao 9º ano do ensino fundamental, a iniciativa surgiu com o propósito de lidar com dois desafios em sala de aula: a necessidade de recompor o aprendizado de matemática e a falta de pertencimento da turma à Caatinga.

"Muitos alunos, inicialmente, não percebiam a riqueza e a importância do ambiente em que vivem, e esse foi um ponto que trabalhamos intensamente ao longo do projeto. Outro grande desafio foi conectar a matemática ao cotidiano deles. A proposta era que não apenas aprendessem conceitos matemáticos, mas que também os aplicassem em contextos reais e significativos", afirmou a educadora.

Na fase inicial, os estudantes foram submetidos a uma imersão sobre o bioma brasileiro, com vídeos, notícias e debates sobre os impactos ambientais e a perda da área. Durante a interação, foram desenvolvidas atividades para impulsionar o pensamento matemático através de soluções aos desafios da região, como combater o desmatamento e proteger os animais.

Entre as ações "desplugadas", reconhecer formas geométricas, seja na fauna ou na flora durante a aula de geometria, por exemplo. Após o primeiro contato, a próxima etapa consistiu em construir jogos educativos com a temática da Caatinga.

Confeccionados com papelão, cartolina e canetas coloridas, os estudantes criaram, inicialmente, seis jogos. Um deles com desafios em cartas e perguntas que envolvem matemática, raciocínio lógico e curiosidades sobre a Caatinga, como lendas, fauna e flora. Com o uso de dados, os jogadores avançavam estágios.

Por último, na etapa "plugada", os alunos transformaram os jogos em papel (protótipos) em versões digitais, com cenários e personagens construídos por meio de uma plataforma online.

Nos jogos, os usuários conhecem elementos da Caatinga enquanto defendem o bioma, podendo assumir um dos personagens e realizar missões como combater o desmatamento, a desertificação e salvar animais em extinção.

"A escolha desse tema também veio da necessidade de mostrar ao mundo o potencial do nosso Sertão. Muitas vezes, o discurso sobre o Nordeste é focado apenas nas dificuldades, mas eu queria destacar a força, a criatividade e a inteligência dos nossos jovens", destacou Willmara.

Ainda em dezembro de 2024, segundo a professora Willmara, houve a formatura da primeira turma de "Hackers da Caatinga", projeto que, atualmente, já alcançou 540 estudantes da Escola Municipal Paulo Freire, incluindo turmas da Educação de Jovens e Adultos (EJA).

"Os estudantes finalizaram sua jornada programando jogos incríveis que conectam a matemática à Caatinga, demonstrando criatividade, aprendizado e um profundo senso de pertencimento ao bioma local. Essa conquista reforça a importância do projeto na educação e na valorização da identidade regional", destacou a educadora.

Premiação

A 2ª edição do Prêmio Professor Porvir recebeu 951 projetos de educadores de todos os estados do Brasil. Destes, 30 finalistas foram selecionados e tiveram suas práticas publicadas no site da iniciativa, concorrendo em 10 categorias. Willmara foi a grande vencedora na Categoria de Melhor Projeto de Tecnologia do Brasil.

Os destaques do Prêmio Professor Porvir participarão da cerimônia de premiação em São Paulo no mês de maio e terão suas experiências registradas na publicação de um livro. Além disso, os professores premiados passarão a atuar como embaixadores do Porvir, contribuindo para a disseminação de práticas pedagógicas inovadoras em todo o País.

"Ver o Hackers da Caatinga ser premiado fortalece ainda mais a certeza de que estamos no caminho certo e prova que temos jovens potentes no nosso Sertão, em especial na rede de Petrolina, cheios de talento e criatividade. Esse prêmio mostra ao mundo que nossos estudantes têm um potencial incrível, e que tudo o que precisam é de oportunidades para brilhar", enfatizou Willmara.

A docente também destacou o apoio e incentivo da Secretaria de Educação de Petrolina, Escola Municipal Paulo Freire e do Programa Ensina Brasil para a expansão do projeto, que já está com nova turma sendo montada para atividades em 2025.

"O apoio dessas instituições permitiu que o "Hackers da Caatinga" se tornasse mais do que um projeto escolar - ele se transformou em um movimento de valorização da educação, da tecnologia e da identidade cultural do Sertão. Essa conquista é coletiva e reflete o compromisso de todos que acreditam na potência dos nossos jovens. Juntos, seguimos construindo novas oportunidades e mostrando ao mundo que o Sertão é, sim, terra de inovação, criatividade e transformação", afirmou a professora premiada.

Fonte: Folha PE

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